28 fevereiro, 2010
A minha agonia é te ver sobre a mesa, imóvel.
Sua fotografia que estava na mesa sorrindo dizia que sua voz jamais sairia dali não importa enquanto eu esperasse que você mudasse de posição para uma mais confortável ou natural que não parecesse uma pose estática e combinada por nós que éramos assim tão iguais quando tiramos aquela fotografia que hoje eu coloco sobre a mesa p'ra fingir que é atual como se tivesse acabado de acontecer toda aquela sua timidez em aparecer em uma fotografia que você jamais saberá o quanto é importante p'ra me fazer lembrar dos seus olhos e do seu calor que me esquentava quando dormíamos juntos e fazíamos tantas outras coisas que ninguém mais poderia fazer um pelo outro nesse mundo que você abandonou pouco tempo depois de sair na fotografia que usaram p'ra guardar sua memória como se fosse possível te esquecer ou te lembrar unicamente por um sorriso forçado de uma insignificante fotografia que tiramos há muito tempo sem saber que seria a última em que apareceríamos juntos. E só hoje eu percebi.
24 fevereiro, 2010
Pedaço
Encontrei, de mim
um pedaço que fugiu;
que se criou e que cresceu
e só depois me conheceu
pra voltar a abrigar
o seu lar: o peito meu!
um pedaço que fugiu;
que se criou e que cresceu
e só depois me conheceu
pra voltar a abrigar
o seu lar: o peito meu!
23 fevereiro, 2010
O porquê de estar
Sobre suas confissões
- devo confessar -
agradeço mais quando tu te deprimes
que quando sua voz se exalta
e mal cabe em ti teu segredo.
São as horas,
agora,
que atravessam sua chegada.
Quando percebo,
não mais te vejo no navio que partiu.
Não vejo o navio.
O horizonte,
antes linha,
desafia, sem mérito, a fronteira do mar
quando chega a noite.
E chegas assim,
úmida de sereno em qualquer noite que queiras,
sem o ranger de portas ou o ladrar de cães,
a ventar baixinho em meus sonhos
evitando acordar-me.
Mas brilha qualquer luz quando tu te aproximas
que mesmo meu corpo cansado
se ergue a buscar teu hálito.
E teu beijo me acompanha enquanto estás.
Quando falta,
não sei bem que nome se dá,
é a angústia quem morde-me e desperta-me.
Sobre minhas confissões
- isso é certo -
não sei porque sempre estás
e nunca és.
- devo confessar -
agradeço mais quando tu te deprimes
que quando sua voz se exalta
e mal cabe em ti teu segredo.
São as horas,
agora,
que atravessam sua chegada.
Quando percebo,
não mais te vejo no navio que partiu.
Não vejo o navio.
O horizonte,
antes linha,
desafia, sem mérito, a fronteira do mar
quando chega a noite.
E chegas assim,
úmida de sereno em qualquer noite que queiras,
sem o ranger de portas ou o ladrar de cães,
a ventar baixinho em meus sonhos
evitando acordar-me.
Mas brilha qualquer luz quando tu te aproximas
que mesmo meu corpo cansado
se ergue a buscar teu hálito.
E teu beijo me acompanha enquanto estás.
Quando falta,
não sei bem que nome se dá,
é a angústia quem morde-me e desperta-me.
Sobre minhas confissões
- isso é certo -
não sei porque sempre estás
e nunca és.
19 fevereiro, 2010
'Reflexão desnecessária sobre a caixa e a menina' ou 'Por que o que não é da minha conta me intriga tanto?'
Traz consigo,a menina,
a caixa secreta.
No peito aperta,
disfarça o pacote.
Não sabe a pequena o peso da vida
nem leva o bastante para carregar.
Não sabe a menina o perigo da curva
de quem lhe vigia e quer lhe roubar.
A caixa trancada
quem leva a pequena,
escolhe o caminho
afasta os transtornos.
E guarda o tesouro
gentil donzelinha
tal qual fosse um cofre
ou valiosa herança.
Diria alguém que mais a conhece
que grande bobagem é a caixa que leva:
- Mais vale, mocinha, o que trazes no peito;
se isso lhe roubam, não serás quem é!
E, surda, ela segue
temendo o caminho
carrega - pra onde? -
o invólucro seu.
a caixa secreta.
No peito aperta,
disfarça o pacote.
Não sabe a pequena o peso da vida
nem leva o bastante para carregar.
Não sabe a menina o perigo da curva
de quem lhe vigia e quer lhe roubar.
A caixa trancada
quem leva a pequena,
escolhe o caminho
afasta os transtornos.
E guarda o tesouro
gentil donzelinha
tal qual fosse um cofre
ou valiosa herança.
Diria alguém que mais a conhece
que grande bobagem é a caixa que leva:
- Mais vale, mocinha, o que trazes no peito;
se isso lhe roubam, não serás quem é!
E, surda, ela segue
temendo o caminho
carrega - pra onde? -
o invólucro seu.
05 fevereiro, 2010
O que me vem sobre você(s)
Para Alana, Diana, Elba, Lúcia, Maria Helena e Mariana.
Desperta-me, aos berros, a vontade de ver-te. Há ainda de ser meu o teu colo, amiga - ainda hoje! -, e o teu acalanto sobre mim. Aguardo-te viva, não obstante o tempo-espaço que se mostra e se passa diferente para cada um que um cada um possui.
Que teu caminho seja esquivo aos deslizes, que tuas quedas te ensinem mais sobre teus passos. Que, sobretudo, você chegue onde importa. Que estejamos juntas em algum ponto da rota. Que eu possa, um dia, escutar de ti os mesmos votos. Que não sofras mais que o necessário, que nenhuma dor seja eterna, que nenhuma esperança seja pouca. Que, sendo tudo vão, tenhamos uma a outra, para, ao menos, não nos envergonharmos de sermos sinceras. Que teu sorriso seja, por longas datas, o motivo de um meu maior.
Permanecerás, através dos meus olhos, sempre morna em minhas lembranças; perfumada e agradável, como a hortaliça ou a flor mais suave, aquela que não se planta, mas que cresce sozinha e sem nome, intangível, sem, no entanto, perder a beleza. E faz em mim tão boas coisas que eu só poderia agradecer-te com uma dádiva única, uma estrela roubada ou um pedaço da lua. Nada disso, todavia, vale mais que teus carinhos, ou tuas palavras exatas, ou teu respirar.
Sou eu tão dura, às vezes, que abandono-te, despercebida; és, contudo, tão melhor que sequer me nega o olhar translúcido. És sempre amor, mesmo quando amiga. E és, portanto, minha alma infinitamente irmã.
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