29 agosto, 2008

(sem título VII)

Acordei com uma novidade: acabou.
Eu que achei que solidão era coisa pr'os outros me dei conta do meu vazio. Sentimentos, assim como as pessoas que os mantêm, são perecíveis. Acabam antes das pessoas, até. E vou dizer, é triste.

Acordei com uma novidade: o meu copo está meio vazio.
Tudo quanto é música me faz chorar. Mas como disse um amigo, eu vou ter que superar isso. Eu vou, um dia. Sem pressa pra deixar de sofrer.

Talvez seja drama, sabe? Orgulho já é mesmo, essa minha parte está bem clara.

Estou desconcertada com a vida. A sensação de que dei tudo que pude e pouco tive em troca. É, acho mesmo que seja drama. Ou talvez essa história de amar sem pedir nada em troca seja balela.

Eu sei, eu sei. Vai passar, eu sei.

Há alguns anos atrás, acordei com uma novidade: a gente se amava.

Hoje acordei com outra novidade: nós não nos amamos mais. Maldita sintonia.

28 agosto, 2008

Do(a) eterno(a)

------------------------- Para a Flor.

A flor.
Ela é linda.
Minha Nana, minha irmã.

Do que eu tenho de eterno, eu a tenho.

Eu a conheço nos seus detalhes, nas suas falhas.
Eu a conheço na mentira, é que suas verdades me gritam. Mas eu não posso dizer nada.

Dela, o que eu tenho é o amor. Devo dizer, é tudo.

É um luxo de menina em suas maquiagens, em tudo que brilha e lhe cerca.
É delicioso vê-la manejando seus pinduricalhos em volta de si mesma.

Ela é minha esfera, meu cristal intocável.
Eu a sinto eu suas alegrias dentro de mim.
E cada lágrima que rola nela, se duplica em meu rosto.

Eu a amo.
De tantas formas quantas forem possíveis amar alguém, eu a amo.
Eu a amo.

Eu não sei precisar o tempo que levei pra descobrí-la.
Eu sei que só nasci depois de encontrá-la.

Do que eu vejo dela, eu vejo tudo.
Vejo os olhos que brilham, vejo o corpo que flutua, vejo os róseos lábios, vejo a pele branca, vejo as mãos pequenas.
E o restante eu sinto.

Eu sinto um abraço que tenta me engolir. E o perfume que fica na alma por dias.

É sempre pouco o que eu escrevo, sempre será.
Do que eu tenho de mais intenso, eu tenho meu amor por ela.

A extensão de infinito cabe dentro desse amor.

26 agosto, 2008

Tentativa

Estou tendo dificuldades pra escrever porque eu não tenho palavras pra te dizer.
Tudo que eu escrevo me parece medíocre, me parece pouco pra você.

Você que é maior que meu vocabulário

Consigo escrever páginas sobre outras coisas, mas nenhuma linha do nosso amor. Tanto amor fez de mim uma incompetente.

22 agosto, 2008

Um eu todo (des)(re)torcido

Oficina de verdades:

Quando surgiu a idéia de um blog (pela última vez) ficou acertado que eu teria um nome. O "Martinez" nada mais é que meu sobrenome latinizado. O "C" foi uma letra aleatória talvez não tão aleatória assim... aquelas coisas que talvez Freud explique, ou não. E desde então eu tenho sido C. Martinez, essa pessoa que transita entre as sexualidades, sempre muito educado(a), sempre gentil e encantador(a). Mas é, inevitavelmente, uma máscara. E já que estamos brincando de dizer verdades, não é que a mentira me incomode. O que me incomoda é usar alguém pra mentir por mim, sendo eu tão capaz de mentir com maestria invejável. Martinez é o que eu esperava que as pessoas vissem em mim sem que eu precisasse mostrar. Mas quem me conhece sabe que nem de longe sou assim, tão educada e gentil, tão genial. Pois é, sou uma mulher. Aliás, sou só uma menina.

Martinez tem sido mais que só uma máscara, tem sido uma entidade superior que me permitiu dizer, até agora, coisas que eu jamais diria sozinha. Tem sido um companheiro. Tem sido um personagem que criei fora dos palcos. O palco me faz falta de muitas formas, e me faz falta também a coragem de voltar a atuar (ou "à toar", como queira). Tentei produzir, na verdade, um alguém que fosse tão particularmente literário que ninguém duvidasse que ele fosse outra coisa que não poeta. Mas eu não sou assim.

Continuo ainda escrevendo como Martinez, porque de alguma forma separo aquilo que tenho que ser daquilo que espontaneamente(?) sou. Eu grito aqui as coisas que calo na vida.

O degas:

Verdade mesmo é que eu não tenho nada de interessante. Sou ligeiramente feia. Não uma feiura que incomoda ou chama atenção, só de uma feiura ignorante, esquisita. Uma feiura de sardas e miopía. Tenho uma paixão louca por bandas latinas fabricadas, sou brega, sou chata e tantas outras coisas que Martinez não é. Não se sintam culpados em preferí-lo. Até eu prefiro.

De todo, não é que Martinez não exista. Ele só é meu lado melhor, meu lado galã. Mas ainda sou eu, maior e "photoshopada".


Medo:

Só existe uma coisa maior que minha preguiça: minha soberba. E Martinez recebe tantos elogios que começou a me incomodar. Que bobagem, ainda sou eu! Eu com ciúmes de mim, eu sou patética... Assustadoramente patética...

Ai! Que alívio!

E que medo... Me vi de chinelos mendigando compreensão. E Martinez, com seu terno risca-de-giz, passando sua mão sobre minha cabeça e me colocando no colo. É de se preocupar quando se está carente de si mesmo. Patética.

O degas (II)

Lembram?

"Se me fosse concedido ser mulher, eu seria, se pudesse escolher, baixa e gorda. Dessas
baixas de menos de 1,60m. Dessas gordas de mais de 80 kg. E queria ter bonitos
cabelos, bem negros, ainda que pintados, pra que não desse muito trabalho e eu
pudesse me concentrar em outras coisas de ser mulher." [...]



Pois sou exatamente assim... e tantas outras coisas que não cabem em palavras. E tantas outras coisas que nem sei ainda e talvez nunca saiba. Mas, talvez estupidamente, eu tenho orgulho das coisas que faço, até das erradas... não, não é demagogia... eu sou uma sem-vergonha, é verdade. Mas tudo aquilo sobre a inevitabilidade da morte é o que dá coragem, não é? Quando dá tudo errado eu penso comigo: "Foda-se! Eu vou morrer mesmo...". Isso é falta de perspectiva, mas que se há de fazer? Tem aqueles que acreditam na vida eterna, eu acredito na morte. Também
é fé, não é? Acho que é isso... Tomara que seja.

21 agosto, 2008

Para se perder

Eu queria esquecer das coisas que me fazer rir freneticamente, eu pareço uma louca.

Verdade é que esses parâmetros de loucura dados por quem não tem a sanidade comprovada não vale muito. E quem é quem pra atestar a sanidade de alguém?

Eu queria parar de esquecer coisas que me fazem sofrer diariamente, eu pareço uma viúva casta.
E acho que se o homem usa cinco por cento da capacidade do cérebro é porque se prende a coisas exatas e inexpandíveis. Essa palavra existe? Enfim.

A minha vontade, de verdade, é ter vontades que não dependam das minhas circunstâncias.

20 agosto, 2008

(sem título VI)

De repente eu me dei conta dos erros que tenho cometido há anos.

E achei que, se tudo que sou é por culpa dos meus erros, errar é das coisas que faço mais dignamente.

19 agosto, 2008

Ser poeta

É que eu andei pensando nessa coisa de ser poeta, que deve ser bom ter quem leia, que deve ser bom ser imortal.

Tanta coisa pra dizer que se acaba por atropelar o pensamento e antes de por ponto final tem que haver vírgulas para não se perder o caminho do poema.

O poema é sempre, assim, essa coisa disconexa e sem sentido que sempre achei ser necessário ser rico pra poder entender. Hoje sei que os ricos só têm, por um motivo muito besta, aval p'ra fazer cara de bom entendedor diante de qualquer obra.

E que, poeta ou não, qualquer um diz a bobagem que quiser. Mas o poeta diz lindo e suave, mesmo a bala no peito, mesmo a diária e hipócrita e ignóbil relevação/revelação do ser. Não dá p'ra ser feliz sendo poeta.

Não dá p'ra ser feliz sendo poeta porque a poesia é uma grande enganação. É sempre um eufemismo ou uma hipérbole que mata a verdade de tal jeito que o poema jamais dirá coisa com coisa, o poema jamais será real.

Coitado do poeta. Cheio de amargura e vontade de gritar. E só lhe sai um sussurro de poesia.

12 agosto, 2008

Preguiç-a/ah/há.

Acordar é dos hábitos mais estranhos. Não sei pra quê serve, não sei pra quê presta. Não gostaria de ter que fazê-lo. Acordar me deixa com sono.

E eu olho pro caderno e mais do que "escreva-me", ele diz "deit'aqui!". Eu tenho uma facilidade decadente em obedecer atos falhos.

Eu tenho preguiça até de dormir, de arrumar camatravesseiroedredon. Eu tenho preguiça de deitar, pra levantar seis, sete horas depois.

Eu ando meio monstro, acho que desde que nasci. É uma preguiça de ser gente que não me cabe, um desejo de rasgar essa gravata ou me enforcar com ela. Andar pelado, tudo que eu queria. Balançando essas coisas que não uso há tempos. Só de preguiça de me vestir.

Violinista

Ele tem um olhar que vai fundo e lento. E um cabelo que geralmente tapa-lhe os olhos. Um carinho, meu amigo, que nem sei. Um talento, uma paciência. De um rir estranho e um sorrir divino. Ele sofre, ele chora e ele não cobra nada.

É que quando ele chegou eu nem esperava. Veio assim dizendo que tinha gostado de mim eu não sei porque. Ele é bonito, sim, ele é. E eu como bom mineiro nascido em Minas criado em Minas e vivido em Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Goiás desconfiei que ele fosse real de tudo. Um amigo, assim, de mãos abertas, que te parece? Pois me pareceu que não era possível. Mas é. Ele é.

Ele não julga e isso é incrível. Absolutamente nada. Eu quero aprender o mundo com ele, do jeito dele.

Ele toca violino. Só pra mim, às vezes.

Ele é místico, mago, bruxo.

Ele sou eu, só que do jeito certo.


P.S.: Somos obcecados por reticências...

11 agosto, 2008

Carência

Eu que nunca larguei ninguém, que nunca fiz questão de nada, que nunca quis ser amado. Eu que tão quase nada tive que não aquilo que me dei. Eu que sou sem ilusão e acho um tédio enorme em tudo que brilha. Eu que escrevo. Eu que sei.

Eu que amo descontroladamente, mas eu que não sei me dizer. Eu que choro escondido, mas alto pra que me escutem. Eu que grito na sombra. Eu que tenho medo do escuro.

Eu que não me encontro. Eu que não acho nada. Eu que preciso de colo.

Ipê

Eu pensei que jamais viria uma coisa fatidicamente amarela ser bonita, porque a cor... A cor é feia.

Mas o ipê me parece um ramo de flores gigante. Desses buquês de se matar uma mulher de paixão.

10 agosto, 2008

(sem título V)

Seu olho direito é maior que o esquerdo.
Acabei de reparar.

Mas assim, tão de perto, só me restou isso pra ver antes de fechar os olhos e te beijar.

(sem título IV)

Eu cresci ali, na barriga da minha mãe. Mas sempre fui semente do meu pai. Sempre fui o amor do meu pai. Sempre fui a cara do meu pai.


... e ele ainda me nasce mais um pouco quando acha que preciso ser mais gente.
Ao homem que nunca me pediu nada pra me fazer feliz. E sempre fez. O tanto que eu te amo não cabe em palavras. Não cabe sequer em mim.

08 agosto, 2008

Imprincípio

Eu seria capaz de qualquer coisa por você,
até você dizer que não me quer mais.

Eu poderia ser o que você quisesse,
Se bem que você nunca me quis mesmo...

Mais uma vez eu não sei o que fazer.
Mas com você na minha frente, tapando minha vista, era mais difícil.

Sempre foi desse jeito, mas costumava ser, ao menos, racional.
Normalmente eu sabia o que fazer.

Se me vir chorando, é mentira!
Estarei feliz enquanto você acreditar que é dor.

Minhas festas terão mais confete,
mais serpentina, menos alegria.

(Sem título III)

Se me fosse concedido ser mulher, eu seria, se pudesse escolher, baixa e gorda. Dessas baixas de menos de 1,60m. Dessas gordas de mais de 80 kg. E queria ter bonitos cabelos, bem negros, ainda que pintados, pra que não desse muito trabalho e eu pudesse me concentrar em outras coisas de ser mulher. Certeza de que ia querer usar óculos de uma miopia bem forte que me impedisse de retirá-los, que não para dormir ou tomar banhos. Naturalmente com um ar intelectual, me parece que eu seria interessante. Um queixo gordinho, que acompanhasse minhas formas redondas e levemente jogado para a frente formando uma bolinha. Grandes bochechas. Grande boca. Enorme mania de faser poses mandando beijo. Um doce eu seria. Seria branca, não por preconceito, mas que se fosse caso de ter cicatrizes, estrias ou celulites, que elas fossem aparentes e me incomodassem. E teria sardas pelo nariz, levemente empinado. Grandes seios, porque acho curioso. Talvez tivesse mãos pequenas, talvez roesse unhas. Olhos castanhos, pernas roliças. E um pé, sei lá, bonitinho...

07 agosto, 2008

Família

É uma família tão grande que todos na sala se esbarram, quando é caso de reunião. Fatidicamente e desde que me entendo por gente, antes do almoço é sempre muito triste com orações que lembram os que morreram e fazem meia dúzia chorar. Tudo bem... meia dúzia não é nem um terço, o restante permanece inerte.
Já ouve balanço, houve época em que a varanda era grande o suficiente pra que todos jogassem rouba-bandeira. É verdade que, nessa época, "todos" não era tanta gente assim.
No meio de toda a área de fora houve um portão azul que separava os fundos da frente e era sempre muito divertido dividir a casa por ele. E andar pelas paredes num degrau que existe por volta da casa, segurando pelas janelas. Sempre houve/há/haverá angu no chão para os passarinhos. Ainda é divertido brincar de esconde-esconde. A sala de televisão tem um armário que guarda livros, charadas, ilusões de ótica e, ultimamente, muitos pernilongos.
Muitas fotos pela casa.
Alguns ainda acham o pé de jambo um desafio. Um desafio menor, posto que as pernas e braços cresceram bem desde que a mania de subir nas coisas começou.
E não é uma casa. É um abrigo, como os que as famílias boas e bonitas tem.
Já houve época em que o pé-de-beijo era cheio de lagartas e eu, muito medrosamente, evitava passar por baixo. Já houve época de sermos amigos de uns e indiferentes a outros. Mas é gente demais pra se amar, então nunca foi o caso. Hoje, o que sei é que sou amigo de poucos, acho a maioria indiferente, e não suporto alguns.

Mas o carteado une ideais.

A(à) Ana Maria

___________________também a Luiz Felipe, o Leal.



Se me perguntarem quem é Ana Maria, eu direi: "Ela é a bailarina que não me deixa dormir".

Não, ela não é minha esposa, amante ou namorada. Não que eu não tenha tentado. Veja bem, sou um conquistador fracassado, dos piores que já se viu.
Ana Maria não é minha irmã.
Ana Maria não é uma vizinha.
Mas se ela é companheira, isso sim! Me diverte com tantas bobagens quantas sejam possíveis num espaço mínimo de hora, sempre suave, respeitosa. E é linda.

Quando ela liga, me enche de uma alegria de criança que ganha presentes fora da data. E quando a vejo fico como idiota aguardando que ela me mande beijos que não sabe mandar.

Ana Maria, poeticamente falando, é feia como um pato desajeitado. E desajeitada como um pato feio. Mas bela e bochechuda. Penso até que nem existe.

Com certeza que Ana Maria existe. Mas é um mistério, sobretudo, pra mim que a conheço.

06 agosto, 2008

Ultima esperança de ode a Ana Maria

Aquela cabeça escorada cheia de esquilos.
É assim Ana Maria.
Uma criança de abraço, uma mãe de palavras.
E é porque nesse tempo que não fomos nada um para o outro que ela me aparece mais princesa.
Eu cada vez menos merecedor.

Acho que ando nostálgico. Acho que a culpa é dela.

Outra ode a Ana Maria

Quanta inquietação por causa de Ana Maria.

Como explicá-la que ela não é vazia? Ó meu deus!

E como é que pode, como é que poderia? (Se até os olhos de Ana Maria me gritam!)

E vejam só: Ana Maria descobriu um furinho no queixo.
Se de noite não me resta mais nada, vou eu pensar em Ana Maria pra tentar dormir. Mas Ana Maria roda vestida de xadrez nos meus sonhos. Ô inferno, vai deitar, menina! E pára de bailar louquinha na minha cabeça.
E essa droga de menina, quando vai parar? Não se entristeça, Ana Maria, porque a vida é assim. Ela sempre foi melhor num passado. E no passado anterior ao passado foi ainda melhor. O futuro é só esperança. Quando o presente for passado do futuro ele vai ser melhor do que o futuro. Fatalmente.
Tomara que morra sem saber francês. Não, Ana Maria. Você já é demais.

01 agosto, 2008

Epístola

Ao passo que o mundo confronta-se conspira contra mim
Presumo instantaneamente rapidamente velozmente
Que por essas redondezas adjacências arrabaldes arredores cercanias circunvizinhanças confins contigüidades contornos imediações proximidades subúrbios
Estratosféricos mundiais universais
Não há possibilidade de continuar insistir perseverar persistir prosseguir
Nesta inútil imprecisa baldada vida

Mas no entanto porém,
Eu o filho de meu pai o degas
Que conheço a veracidade veridicidade verdade realidade
De todos os fatos acontecimentos relatos sucessão
Desejo ambiciono apeteço aspiro cobiço pretendo anelo
Estrelas...

Valsinha aborrecida de amor

A partir dessa noite
Eu te amo como nunca amei
Eu te quero como nunca quis
E você faz o que bem quiser.

Só porque a partir de hoje
Só você vai me contemplar
Com seus versos, amores, canções,
Nas lembranças e recordações.

A partir deste dia
Eu não sou de nenhum outro alguém
Desejo-te como a ninguém
E te faço feliz

A partir desta data
Eu não vou mais embora
E a partir dessa hora
Eu não saio daqui.