Eu odeio me sentir clichê. Me sentir sozinho na multidão, chorar rios de lágrima, sentir que posso mudar o mundo, ou não. Eu me sinto inferior quando sinto o mesmo que o restante da humanidade diz sentir. Me parece que cada um, ou eu, pelo menos, deveria ter sentimentos exclusivos e surpreendentes. Grande asneira, é verdade. Sendo eu homem não deveria me sentir como um ornitorrinco, um manjericão ou uma pedra. Tenho mais é que sentir todas essas coisas das quais estou cansado de sentir, mas que é o que me resta.
Ontem estava eu, sozinho na multidão, pensando na grande bobagem que minha vida tem sido: essa rotina de objetivos curtos, vãos e descartáveis. E eu juro, só queria me adaptar. Mas eu sou terrível, duvido até das minhas certezas. Vivo de encontrar erros, mas não vejo um acerto, sequer. Então, como saber o que é o errado?
E todo mundo precisa fazer diferença nesse mundo? Somos mais de seis bilhões, se todo mundo resolver fazer a diferença vai virar um caos! E não foi tentando fazer a diferença que criaram a bomba atômica, descobriram a radioatividade, guerras e guerras e guerras?... Se sou contra a evolução? Bem, estou aqui de frente a um notebook escutando músicas num ambiente tão frio que só falta nevar. Não, não sou... Até defendo, se for o caso. Inclusive, defendo. Boas pessoas inventam boas coisas com bons propósitos. But, shit happens. E pessoas más com maus propósitos transformam coisas boas e bem intencionadas em máquinas mortíferas. Estas vão para o inferno. Rá! Não, eu realmente não acredito nisso. Sabe o que é isso? Justificativa para a preguiça interior. Acompanhe: partindo do princípio que eu tenho boas intenções e faço coisas boas, but shit happens e pessoas más farão das minhas coisas boas coisas ruins, chego à conclusão de que o melhor é não fazer diferença nenhuma no mundo. Preguiça, preguiça... deveria ser proibido sobreviver ao tédio.
Por fim esse amontoado de idéias faz com que eu me sinta vazio, minhas boas idéias nem são boas de fato, não chego a conclusão alguma. Eu me sinto do lado de fora, mas eu sei que não estou. Devo, aliás, estar bem no meio das estatísticas, inserido em uma maioria qualquer que eu, simplesmente, desconheço. Talvez entre as “pessoas que complicam a vida demais” ou qualquer coisa do tipo. Dói ser igual. E dói, na mesma proporção, ser tão diferente.
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P.S.: Como shit happens, Ana Maria esteve indisposta literariamente na última semana, então pulamos seu post. Voltamos, na próxima semana, com a programação normal. Grato.
.S.: Segundo a wikipédia, "shit happens" é um equivalente para "c'est la vie". De qualquer forma, só isso me vêm a cabeça. "Nosso exemplo vivo de hoje... porém a vida é uma caixinha de surpresas."
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