30 abril, 2010

Com alguns meses de atraso...

Lembrei-me vagamente de alguns selos que Diana havia me presenteado. Mas coube agora aceitá-los e respondê-los - antes, antes por uma questão de decência; depois, porque já é hora.

O primeiro é quase uma declaração. E eu sei - como sei! - que cada palavra, pensamento e sentimento que vem de Diana retorna a ela da maneira mais naturalmente recíproca que pode haver. Eu agradeço muito, Preta.




O segundo é um memezinho gentil, que me desfigurou, na verdade.


Há quase três anos que sustento levemente este blog, meio desconcertada, às vezes. Comecei sendo C., que acabou se transformando em Carmen, o que tenho sido desde então com alguma dignidade desnecessária, mas também por empáfia ou vaidade, ou mesmo para não me responsabilizar pelo dito. Fato é que digo, sendo Carmen ou não.

Entro agora no ano 9, ano de esclarecimentos, e Carmen é uma sombra de mim, ou eu dela. Eu já não a posso destruir porque ela é maior do que eu e, ainda que pudesse, não o faria satisfeita. Criei Carmen pra ser meu alter egus, mas acabei compartilhando de sua loucura e angústia, deixando-me ser tomada algumas vezes e resistindo tantas outras, quando ela me sufocava e desandava a dizer coisas que eu jamais diria. Eu sendo eu. Eu sendo Carmen, no entanto, pude escrever sem qualquer pudor. Uma relação um tanto doentia, eu diria. Mas deliciosa, que me levou a lugares onde meus pés jamais alcançariam sem a audácia de Carmen.

Mas estou agora no ano 9. Carmen se vai esconder. Estará ainda aqui, para guiar-me, mas não mais será minha fantasia, minha máscara, meu outro-eu. Será parte do eu que aqui está, como sempre foi, e ainda escreverá cartas a amigos distantes que só conheço por foto. Mas Carmen, meus caros, não ama ninguém. Eu, no entanto, vos amo - é certo.
Vamos à ele:



Como foi doloroso, deixo a quem quiser, mas não vou distribuí-lo.

O terceiro e último é, de fato, um presente. Mais uma vez recíproco.


Eu também Diana. Eu também.

23 abril, 2010

Solution contre l’angoisse.

Respira fundo,
te acalma.

Toda esta angústia passa, quando menos esperar.

Basta, apenas, que tudo se mostre irresoluto:
as resposas surgirão tão naturais quanto seja possível.

Respira,

que tua vida acabou de começar.

Respira,

que tudo o que te vem agora é novo.

Escuta,
este é o primeiro pulsar:

lento,

silencioso,

inaugurando-te a vida.

22 abril, 2010

Olhos voltados para a luz

Os olhos voltados para a luz. Onde é escuro, onde estão todos, existem toras sustentando egos fracos, olhos voltados para a luz.

Os poetas ratejam no escuro.
Os pintores rastejam no escuro.
Os filósofos rastejam no escuro.
Os atores rastejam no escuro.
Ninguém pode ser visto.
Ninguém pode se ver.
Trombam.
Esbarram-se.
São os mesmos, às vezes.

Todos os olhos de todos os egos voltados para a luz. No escuro - não sabem - está a água fresca e limpa, da saliva dos artistas. Permanecem, no entanto, os egos sedentos, sobre suas toras, com os olhos voltados para a luz.

No escuro estão os sabores: são tenros pedaços de carnes, frutos e pães que saem das partes mutiladas dos artistas, verdadeiro banquete! Os imortais rastejantes são os que se fartam de suas próprias delícias; seguem famintos os egos sedentos, imóveis sobre suas toras, olhos fixos, voltados para a luz.

Faz frio. Estranhamente, no escuro, o veludo conforta e aquece qual um cobertor. São os cabelos dos artistas e o esfregar de suas peles que acaloram-se mutuamente, por prazer de fazê-lo enquanto rastejam-se. Egos frios, congelados e afastados, fome, sede, fraqueza. Olhos voltados (saltados!) para a luz.

Secam os egos, por fim, sobre as toras. Seus olhos não brilham, mas nunca o fizeram. Cegos, equilibram-se, endurecem, na tora vazia. Nada alcançam e quebram, às vezes, com o balançar do vento que os atira ao chão.

Seus lugares permanecem vagos, até que um rastejante erga-se, mutilado, nu e seco, e tome seu lugar, olhos voltados para a luz.

21 abril, 2010

Stigma/Defesa

Acusam-me de amar, mas não tenho nada.
O que tive foi desejo; este morreu.
Quando amei foi longe e foi longe o tempo em que existi, inteira.



O que vêem são os elos que sustento, sozinha, para não deparar-me com a vida.
Porque é tão doce um beijo bem dado, com alguma ignorância sentimental;
é tão bravo o peito que insiste e, ora, tão covarde em desistir;
é tão triste, por fim, querer tanto e merecer tão pouco.


Copiado de mim, d'aqui.

16 abril, 2010

Da dor de agora

O amor que eu desejo
toma a forma que necessito:
é confortável seu colo quando dele preciso;
é quente seu corpo quando meu eu é frio;
é forte seu braço se quero que me erga;
é fraco seu ego quando preciso que precise de mim;
é amigo seu ouvido, se me sobram desabafos;
é amante seu todo, se eu toda sou carente.

Só não é meu,
meu amor,
em tempo algum do mundo.

Sigo desejando,
angustiada,
que algum dia eu morra dele.

Andorinha II

Limita o passo, quadrado verde,
                          meio falante,
                          alheio trigonométrico,
                          hecatombe cardíaca brotando
                                                          cogumelo.

- Foi o cigarro?

                         Foi a andorinha: voou esperta
                         concêntrica consciente
                         distraiu-me da localização do ninho.

                         Ou lhe parece que sou predadora
                         ou se lembra dos muros que ergui.

A andorinha não sabe, mas eu não presto. Eu estava diferente, mas não sou, nem serei.
Apenas desejo enquanto podes fugir.

06 abril, 2010

Andorinha

Azul e louca rasga a corrente;
finge, pequena, demasiada pressa.
Pousa em abrigos afastados ao seu, para que nenhum moleque perverso arranque do sossego de seu lar sobre nossas cabeças.
Grita, acuada.
Já é chegado o outono,
não seria hora de buscar a outra metade do hemisfério?

Algumas lembranças só precisam ser, sem que haja nelas aparente significância.

Ele - espelho vento rio

Poderia, aquela que o ama, esperar que os ventos criassem em teu lago ondas tais quais a de um oceano. No entanto, ao inclinar-se sobre as águas, vê-se refletida na calmaria desejada. É o mesmo, o desejo que o mantém confortável na brisa e o que o incentiva à tempestade. E se não sabe quanto deve deixar-se soprar é porque aquela que o ama te respira e te sufoca.