22 abril, 2010

Olhos voltados para a luz

Os olhos voltados para a luz. Onde é escuro, onde estão todos, existem toras sustentando egos fracos, olhos voltados para a luz.

Os poetas ratejam no escuro.
Os pintores rastejam no escuro.
Os filósofos rastejam no escuro.
Os atores rastejam no escuro.
Ninguém pode ser visto.
Ninguém pode se ver.
Trombam.
Esbarram-se.
São os mesmos, às vezes.

Todos os olhos de todos os egos voltados para a luz. No escuro - não sabem - está a água fresca e limpa, da saliva dos artistas. Permanecem, no entanto, os egos sedentos, sobre suas toras, com os olhos voltados para a luz.

No escuro estão os sabores: são tenros pedaços de carnes, frutos e pães que saem das partes mutiladas dos artistas, verdadeiro banquete! Os imortais rastejantes são os que se fartam de suas próprias delícias; seguem famintos os egos sedentos, imóveis sobre suas toras, olhos fixos, voltados para a luz.

Faz frio. Estranhamente, no escuro, o veludo conforta e aquece qual um cobertor. São os cabelos dos artistas e o esfregar de suas peles que acaloram-se mutuamente, por prazer de fazê-lo enquanto rastejam-se. Egos frios, congelados e afastados, fome, sede, fraqueza. Olhos voltados (saltados!) para a luz.

Secam os egos, por fim, sobre as toras. Seus olhos não brilham, mas nunca o fizeram. Cegos, equilibram-se, endurecem, na tora vazia. Nada alcançam e quebram, às vezes, com o balançar do vento que os atira ao chão.

Seus lugares permanecem vagos, até que um rastejante erga-se, mutilado, nu e seco, e tome seu lugar, olhos voltados para a luz.

Um comentário:

DBorges disse...

Enviei esse texto pra Hebe, amiga minha, formada em marketing, cria textos incríveis, tem poesia na alma.. Tbm ela te acha muito boa na escrita.