21 dezembro, 2008

(sem título XI)

Buscar no seu tempo a mais nova forma de amar: que seja intensa e sempre imensa. Que não cesse, que não se perca.

Estar na sua essência e te descobrir em cores frias. Ainda quente, bate o peito de angústia e devaneio. Onde está o caminho, onde está você? Para onde suas pernas o levam? Para tão mais longe? Para onde?

Aquecer os lençóis de amor, sozinha. É que a noite é longa demais para esperar o amor. Entoar versos antigos, alguns espontâneos, alguns copiados no verso da agenda. Enlouquecer tardiamente, l e n t a m e n t e.

Beira

Eu só queria férias.

E agora estou desempregada.

10 dezembro, 2008

Ainda

Será o tempo dos sapatos e das sandálias, o tempo dos pés no chão? É o tempo de correr no desespero, transitar entre os cômodos e percorrer distâncias mínimas com orgulho de quem vence maratonas. Ser estranho.

Eu como meus sonhos mas sou logo obrigado a devolvê-los ao mundo. São um tanto indigestos. E se remexem tanto fora quanto dentro de mim. Há dúvidas com relação ao que eu desejo, mas eu sempre desejo, é um cansaço de tanto desejar.

Eu me permito ver os insetos sob as pedras, acho menos digno pisoteá-los com meus pés imundos. Eu tenho medo de não ser tão convecional, mas eu não sou. Não sei, na verdade, qual medo me corrói mais. Eu tenho medos demais. E coisas mais interessantes para pensar.

A verdade sobre mim:

uma farsa. completa.

Amigo. Querido amigo. Bem aqui.

Há quanto tempo, amigo.

Dê-me um sorriso e isso será suficiente por enquanto. Mas não te cales. Cada suspiro que eu decifro é precioso, me engrandece.

Eu andei longe, caminhando por lugares que já conheço, mas nem por isso menos árduos. Senti tua falta em quase todos os momentos e, para abrigo, construí uma saudade imensa e aconchegante onde eu pudesse passar a noite.

Não te esqueci, amigo. Nem a ti nem a todos os sentimentos que me inspiras. Eu prefiro acreditar que estás perto, assim, com a mesma convicção que tenho que tu existes. Tu existes.

01 dezembro, 2008

Augusto

Eram inocentes seu olhar e seu sorriso quando ainda era anjo. E ainda é anjo, se bem sei. É também menino, meu menino. Nas angústias que lhe causo se torna outra coisa, mas é sempre algo muito próximo daquilo que acredito ser necessário.
Mas, hoje, há no menino um tanto de homem. Onde havia tanto de anjo há também um tanto de santo e mais um tanto de imperador. E eu amo (e se não amo?) esse imperador augusto, Augusto.
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Saudade do seu nome junto ao meu.
Saudade do seu pseudônimo junto ao meu.
Saudade do seu sentimento junto ao meu.
Seu sono, sua tristeza, você.
Minha foto igual à sua.
Meu sorriso igual ao seu.
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P.S.: Aqui é a Ana Maria postando para Martinez por causa de alguns problemas temporários, digamos assim. Martinez, saudades dos nossos textos. Saudades das nossas conversas. Saudades de nós.

22 novembro, 2008

Deparei-me com a maldita constatação de que fiz de entender a vida o motivo pra vida, e não a consequência dela.

maldito Aristóteles.

Sonhei

Eram lindas pedras azuis amontoadas umas sobre as outras. Sobre elas, limo.
Alguns amigos esperavam sobre a ponte que eu me jogasse de lá. Diziam que se livrar da vida resolveria. Eu recuei. Eu tive medo. Depois acabei desistindo.
Ao fundo, escutei alguns cavalos trotando e me virei. Eram pangarés feios e sujos, levavam pessoas mais feias ainda. E era um mundo que eu não conhecia, com casas velhas demais e um chão lameado, quase movediço. Eu pronta para escorregar.
Acabou.

09 novembro, 2008

Diana

Foi n’um reboliço de auto-afirmações que a conheci: era Diana. E d’aquilo que eu imaginei ser uma senhora ranzinza e moralista surgiu a menina de alma mais penetrável que já conheci. Seus olhos vagos, sempre buscando o horizonte, sempre horizontais. Aparece quase sempre em preto e branco diante de meus olhos. Mais em preto, é verdade. É uma negrinha de cacau. Doce-amarga negra de cacau.

Diana, essa tola, não gosta de elogios. Bem verdade é que Diana adora elogios, mas é caprichosa que só ela. Gosta de antes ser bem ferida, Diana se recusa a receber um amor singelo. Precisa mesmo é de um amor nascido nas tempestades: semi-afogada na praia, ama.

Tanta é sua carência que ela mendiga. D’aqueles pedintes mal-educados que soltam cusparadas quando a esmola é pouca: Diana não aceita migalhas. E, orgulhosa, joga o amor no chão, quando acha que é demais, ou por diversão. Ela bem sabe como pisar no coração de uma mulher...

É dada a demasias, mas não há quem se importe... É porque também Diana é muito intensa, e arrisco dizer que isso é coisa da idade dela. Ela mesma já percebeu o quanto desliza nos próprios excessos. Mas Diana é linda deslizando também, e também quando precipita-se, se abate e cai. Diana é linda, ainda mais, quando se ergue em silêncio, sem sufoco ou alívio, só respirar.

Ô mulher p’ra gostar de mim é Diana. Me persegue e, de tanto, se tornou amor. Não é delírio, não é abuso. Abusada é Diana por si só, minha linda. Que ela não aceite aquilo que eu sou, por mim tudo bem. Que seus amigos não gostem de mim, não importa. Que ela questione minhas escolhas, simplesmente não faz diferença. Mas que ela saiba que eu a amo, que meu eu-lírico a ama, que meus sentidos e meus desejos a amam. E que se não houve antes uma declaração de amor tão inequívoca é porque faltou dignidade para assumir que Diana, embora caiba inteira em meus pensamentos, simplesmente não cabe no meu vocabulário.

08 novembro, 2008

E o tempo (s)urge

Eis que envelheço. Aos vinte e um eu já tenho pequenas porções de pele enrugadas ao redor dos olhos e da boca, acho minhas orelhas e meus nariz enormes, tenho um gosto musical duvidoso, sou ranzinza e deliro. Envelheço. E é tão triste, tão decadente, que essa velhice chegue antes da hora que deveria chegar, supondo que há uma hora pra essas coisas.

Aliás, decadente é a velhice chegar em qualquer hora, anunciando a morte, esculpindo o fim nas feições. Biologicamente, eu sei, é um processo inevitável. Aliás, penso que só acontece porque o sangue corre. Se o sangue andasse, teríamos no mínimo uns trezentos anos de juventude antes de começar a perecer diante da vida. Na verdade, tanto faz. A verdadeira expectativa de vida é a morte.

Mas, envelhecer... é mesmo necessário? Eu não entendo toda a comunidade científica se mobilizando para descobrir a cura do câncer, ou da AIDS, ou do Alzheimer... Alguém aí já se perguntou cadê a cura da morte? Porque, sinceramente, pra mim tanto faz morrer de pneumonia, acidente de avião ou dormindo. Melhor mesmo seria não morrer. Ou, se for pra morrer, morrer jovem, antes de se tornar decrépito e senil.

Não existe honra em envelhecer. Não importa os grandes feitos da vida depois que você se torna dependente e miserável. Envelhecer "mentamente jovem" deve ser ainda pior, ver seu cérebro em plena atividade aprisionado num corpo que já não se agüenta. Andei reparando como os idosos se movimentam lentamente. Acho que não tem nada a ver com a sustentação física. O fazem, simplesmente, para prolongar o que pode ser seu último movimento. Esperar a morte chegar naturalmente é brincar de roleta-russa com o tempo. Coisa mais deprimente.

Pois é mesmo uma pena que a experiência venha com a velhice e não antes dela. O que fazer com tanta experiência quando não se pode experimentar mais nada? Pode ser uma visão equivocada, mas não quero envelhecer. Aliás, no ritmo que vou indo aos vinte e um anos, não precisarei de mais do que trinta para estar completamente caduco.

Amanhã, ontem.

Eu tenho verdadeira adoração pelos meus raros momentos de suposta inteligência, como se eu fosse - às vezes - aquilo que eu penso que sou - sempre. É um pensamento sobre o pensamento, uma loucura metalingüística, Wittgenstein ia adorar. Eu devo ser esquisofrênico, me acho esquisofrênico às vezes. Talvez bipolar... Eu preciso mesmo arrumar um nome pra isso? Essa fixação em saber da vida e da morte e dos seus arredores, ao invés de viver. Lá me vem um momento.

De alguma forma eu me sinto obrigado a escolher um caminho pra seguir, um caminho sem erros. Eu sei, eu sei, "a estrada é p'ra caminhar". Não, não sou eu. Tem uma vozinha cantando "Sonhos e Pernas" na minha cabeça, magnífico Vander Lee. Delirando. Não, quanta bobagem. Estou me amparando de argumentos p'ra tentar distorcer os verdadeiros sentimentos, uma maneira de justificar essa preguiça interior. Eu não tinha um poema sobre isso? É uma mistura de encanto pelo mistério, conformismo e qualquer coisa de tristeza. Eu tenho tudo dentro de mim, só não encontro. Eu sou um quarto bagunçado.

O tempo vai passando e eu, estagnado, sinto como se nem nascido eu tivesse ainda. Momento: a vida não faz qualquer sentido. Nada faz. Toda essa commotion em torno da vida não muda o fato de que a morte a interrompe sem aviso prévio. Fim do momento. Na verdade, não é o fim; mas como costuma dizer Luísa, algumas confissões não resistem à tecla Enter. Vai ser sempre assim, né? Essa infelicidade, esse discurso - confesso - retórico, enfadonho e blablabla... Falarei de flores, talvez, ou das conversas que tenho com begônias ou com o vento. BOM DIA, AMIGO VENTO! Talvez contar que meus óculos se quebraram depois de tanto serem consertados e soldados e colados e parafusados. Eu estou mais de seis graus mais míope em cada olho e não enxergo nada que esteja mais distante que quinze centímetros do meu rosto. Fui escolher um novo e achei uma armação muito bonita. Vermelha. Com strass nas pernas. Nunca entendi porque chamam as hastes dos óculos de pernas. Enfim. Fui fazer exame de vista e ai!... Minhas pupilas estão agora parecendo duas imensas jabuticabas espatifadas no castanho cor de barro da minha íris. Saudade de barro, saudade de chuva. Saudade de estar em dia com meus delírios. Tem sido difícil delirar coisas novas, o mundo me sussurra as mesmas coisas, sempre! Veja só, eu posso ser agradável. Meu hoje é que nunca dá certo. Amanhã, ontem. Eu só sei viver de pedaços inúteis de vida.

shit happens

Eu odeio me sentir clichê. Me sentir sozinho na multidão, chorar rios de lágrima, sentir que posso mudar o mundo, ou não. Eu me sinto inferior quando sinto o mesmo que o restante da humanidade diz sentir. Me parece que cada um, ou eu, pelo menos, deveria ter sentimentos exclusivos e surpreendentes. Grande asneira, é verdade. Sendo eu homem não deveria me sentir como um ornitorrinco, um manjericão ou uma pedra. Tenho mais é que sentir todas essas coisas das quais estou cansado de sentir, mas que é o que me resta.

Ontem estava eu, sozinho na multidão, pensando na grande bobagem que minha vida tem sido: essa rotina de objetivos curtos, vãos e descartáveis. E eu juro, só queria me adaptar. Mas eu sou terrível, duvido até das minhas certezas. Vivo de encontrar erros, mas não vejo um acerto, sequer. Então, como saber o que é o errado?

E todo mundo precisa fazer diferença nesse mundo? Somos mais de seis bilhões, se todo mundo resolver fazer a diferença vai virar um caos! E não foi tentando fazer a diferença que criaram a bomba atômica, descobriram a radioatividade, guerras e guerras e guerras?... Se sou contra a evolução? Bem, estou aqui de frente a um notebook escutando músicas num ambiente tão frio que só falta nevar. Não, não sou... Até defendo, se for o caso. Inclusive, defendo. Boas pessoas inventam boas coisas com bons propósitos. But, shit happens. E pessoas más com maus propósitos transformam coisas boas e bem intencionadas em máquinas mortíferas. Estas vão para o inferno. Rá! Não, eu realmente não acredito nisso. Sabe o que é isso? Justificativa para a preguiça interior. Acompanhe: partindo do princípio que eu tenho boas intenções e faço coisas boas, but shit happens e pessoas más farão das minhas coisas boas coisas ruins, chego à conclusão de que o melhor é não fazer diferença nenhuma no mundo. Preguiça, preguiça... deveria ser proibido sobreviver ao tédio.

Por fim esse amontoado de idéias faz com que eu me sinta vazio, minhas boas idéias nem são boas de fato, não chego a conclusão alguma. Eu me sinto do lado de fora, mas eu sei que não estou. Devo, aliás, estar bem no meio das estatísticas, inserido em uma maioria qualquer que eu, simplesmente, desconheço. Talvez entre as “pessoas que complicam a vida demais” ou qualquer coisa do tipo. Dói ser igual. E dói, na mesma proporção, ser tão diferente.

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P.S.: Como shit happens, Ana Maria esteve indisposta literariamente na última semana, então pulamos seu post. Voltamos, na próxima semana, com a programação normal. Grato.

.S.: Segundo a wikipédia, "shit happens" é um equivalente para "c'est la vie". De qualquer forma, só isso me vêm a cabeça. "Nosso exemplo vivo de hoje... porém a vida é uma caixinha de surpresas."

de.ses.pe.ro

Desespero é meio assim: você não sabe se corre, se deita, se chora, se grita. Eu optei por chorar um bocado. Porque, às vezes, eu sou fêmea e adoro me ver chorando no espelho. Eu e minhas confissões... Tem dias que realmente beiro a loucura e começo a escrever palavras soltas e aleatórias em cadernos velhos. Depois elas fazem algum sentido, ou não, mas são sempre muito bonitas de se ler depois, quase um poema. Mas hora e outra volta o desespero,um aperto, um medo. E eu só tenho chorado.

Tem aqueles meus dias de desinteresse completo pela existência do mundo em que nada me desespera. Me falta perspectiva, me falta esperança. É que a certeza da morte às vezes desespera e eu penso que não vai dar tempo de fazer tudo o que eu ainda não sei se devo fazer. Em outros dias mais amenos, a certeza da morte me dá é sono, preguiça de fazer coisas que perecerão assim como eu. Acho que também é uma forma de desespero, uma quase-teimosia em viver ou em ceder ao processo de morte.

Eu tenho que dizer muitas coisas que andam me destruindo, mas tem sido difíceis esses dias, eu e meus dramas. E prefiro não propagar essa doença epidêmica, essa contrariedade, esse desprazer, essa aflição. E paro por aqui. ‘Tá dando um desespero, sabe?

Esses humanos e eu, a ovelha

É assim: desde algum tempo que não me dou bem com a idéia de grandes templos, igrejas e afins. Não, eu não tenho nada contra nenhum deus. Menos ainda contra a fé. Afirma a Bíblia que Jesus dizia: “A sua fé te salvou”, se bem me lembro. Nada contra a fé, tudo a favor. Voltemos às edificações. Primeiramente, nunca entendi (e levarei em conta a fé cristã na qual fui educado ou deseducado, como preferir) porque, sendo Deus onipresente, eu deveria ir a um lugar específico para “encontrar-me” com ele. Segundo, porque algumas igrejas (templos ou afins) são tão altas. Sempre pensei que com aquela altura toda seria possível construir dois ou mais andares com quartos que pudessem abrigar os necessitados. Não seria esse um ato de bondade e generosidade, dignos de uma alma cristã? São só perguntas. Então, eu e minhas perguntas temos uma, digamos, aversão a essas edificações faraônicas não-supostamente-pagãs. Mais me parecem grandes shoppings centers, talvez até mais lucrativas. Volto a dizer que não é uma crítica a fé ou a deus (o qual, sendo onisciente, sabe bem disso). Sequer é uma crítica. É só uma opinião. Uma opinião crítica. Enfim.

Soberba, meus caros. É o que me leva a questionar. Esse ímpeto ateu de não precisar de nada. Mas eu não sou ateu, que fique claro. E é também por isso que tenho tantos problemas com o-que-quer-que-seja-que-chamam-de-deus, e com os-que-chamam, esses humanos.

Ainda assim, contra a vontade, às vezes se faz necessário participar de algumas conveções religiosas, seja pelos que chegam, pelos que casam ou pelos que vão. Pelos que vão, várias vezes, é necessário de dizer. Sétimo dia, um mês, um ano, dois anos, três anos... Celebram a morte de um até que um outro morra. Nunca entendi. Bem, mas só de pensar em assistir uma missa inteira começo a me sentir o Damien, d’A Profecia, que tinha ataques histéricos quando se aproximava de igrejas e, por isso, nunca fora batizado. Deu no que deu. Então me sento naquele banco como se feito de cactos e me remexo pela hora enfadonha que segue. E vou, como um abutre, admirando a podridão do lugar e de seus freqüentadores. QUE BOBAGEM! Não é nada disso. Eu estou apenas colocando em deus a culpa que vejo nos homens, falando besteiras até me fartar. Hipocrisia, e só.

A questão é bem mais simples: eu não consigo me encontrar dentro de tudo aquilo que sou capaz de pensar. Empiricamente falando, eu reconheço a fragilidade do conceito de Deus, ou qualquer outro deus que seja. Não existe sustentação que não seja a fé. O problema, ou a solução, é que a fé não precisa de sustentação, ela é auto-sustentável na sua existência. Se precisa de argumento não é fé; se é fé, não precisa de argumento. E não se pode provar. Por outro lado, a idéia de um todo surgido espontaneamente no/pelo universo não me parece mais racionalmente satisfatória que a de um deus inventado. Falta a magia que tanto aprecio nos atos. Eu beiro a sabedoria e a demência fácil, fácil.

E por causa dessas considerações sem respostas que eu crio ainda mais perguntas sobre as possibilidades e as responsabilidades do meu ser em vida, do ser humano que sou (?). Volto a dizer que não acho certo poder fazer perguntas cujas respostas eu não possa dar ou aceitar. Vai ver é mesmo só uma questão de aceitar, aceitar ser ovelha. Pensando bem, é isso que eu sou, uma ovelha, do grupo das questionadoras, do grupo das ovelhas cegas que acham que não são ovelhas. Mas ovelha.

E no fim da missa desse final de semana quando as perguntas me comiam, uma bela garotinha de grandes bochechas rosadas e longos cachos negros me sorriu. Notei que, enquanto me perdia em minhas perguntas, meus olhos apontavam para seus joelhos e, com certeza, ela imaginou que eu admirava seu vestido cor-de-rosa ou suas meias coloridas. Reparei, desta vez de verdade, em suas meias e ela me sorriu maior. E pensei que crianças são mesmo bacanas, naquilo que de melhor se pode extrair da palavra. Ela, com certeza, não deve ter questionamentos sobre o valor da vida, o sentido da vida, a vida em qualquer parâmetro... A pergunta de resposta mais constrangedora que ela formulará do alto de seus 6, talvez 7 anos, talvez seja “de onde vem os bebês?”. E ela saberá sem qualquer drama que não o dos pais. E após a imensa angústia de ter que aceitar que Sócrates estava mais é certo e que eu também só sei que nada sei, me veio uma inexplicável paz, que me disse baixinho pra eu me calar. E deixar de ser hipócrita.

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P.S.: Imperdoavelmente, escrevi mais um texto longo. Oh, deus.

Por poder nascer no asfalto.

"[...]

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

[...]
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio."

----------------------------------------------------------C.D.A. (A Flor e a Náusea)



Liberdade é daquelas coisas que não se deve conceituar para não cair em contradição. É como o amor. O amor só diz da incapacidade de dizê-lo, foi o que eu sempre achei. E conceituar liberdade... ora bolas, o que é? Delimitar liberdade entre palavras que não lhe cabem?

Embora contrarie algumas tendências, sempre fui contra a idéia de que ser livre é algo como voar. Ao contrário, liberdade pra mim é poder criar vínculos, poder enraizar onde houvesse condição. Liberdade é ser e estar. Ser o que inevitavelmente é, estar aquilo que se deseja estar, e não estar mais, quando não for mais para estar. E voar, mas só se quiser. Nada te impede de, tendo criado raízes, decidir que o lugar não é tão bom quanto era e mudar.

A tendência é crer que a liberdade é poder voar. Mas Fernão Capelo Gaivota voava e nunca se sentiu livre. As gaivotas de seu bando só voavam para pegar comida e só alcançavam altura suficiente para tal. E Fernão aprendera com elas. Mas em seus questionamentos, em um belo dia, voou mais alto, onde jamais qualquer gaivota teria ido por instinto. Não houve, no entanto, quem o apreciasse. Ao contrário, Capelo Gaivota foi hostilizado pelo bando. E agora, provando da liberdade, Fernão já não entende como um bando de gaivotas não compreendem a beleza de poder ser mais. Desenvolve-se daí um grande e belo livro/filme que trata da liberdade, dos limites e dos desejos.

"Uma flor nasceu no meio do concreto", disse Caramelo. Uma flor que, como a de Drummond, é rejeitada por não estar onde "deveria" estar. Mas, desde que o mundo é mundo e o homem é homem, nós temos essa mania de achar que o que fabricamos é anterior ao que, de fato, já existia. Mania de achar que o asfalto veio antes da flor. Mania de achar que a flor só nasce na terra. E mania de arrancar a flor, porque a vida nascendo em qualquer lugar incomoda, é quase um sentimento de anarquia alheia. Inclusive, já que falei disso, anarquia é outra coisa que os conceitos corromperam. Lindo seria um mundo anárquico, onde flores nascessem nos asfaltos e perfumassem a cidade. Mas fomos condicionados ou nos condicionamos (para sermos justos com a culpa) a achar que anarquia é bagunça. Anarquia é a falta de um governo comum. Fosse o homem um ser tão racional como diz ser não precisaria de um Estado para o representar. É só uma opinião, entre tantas outras que me arrisco a dizer por aqui. À flor.

Por uma questão de aceitação, temos também outra mania incorrigível: a de separar. Homens sempre se apaixonam por mulheres, mulheres sempre por homens. Homens dirigem melhor, lugar de mulher é na cozinha. Brancos ricos. Negros pobres. Homens de azul, mulheres de rosa. Parece inocente, mas para sair de separações simples e chegar a prussianos matando judeus e homossexuais é um pulo. Porque precisamos nos encaixar. Mas se encaixar no todo é chato, por você seria só mais um. Então você divide o todo na metade, diz que a sua metade é melhor e mata a outra metade. Quando a outra metade virou minoria - seja porque foram mortos ou porque passaram para a sua metade - e a sua metade é quase todo, você redivide o todo em outras metades e recomeça o processo. No final, você tem grupos de pessoas absolutamente iguais que se odeiam. E cria lugares onde só se veste azul, onde só pode ser vermelho, onde só se torce pro verde e onde flores só nascem na terra. Flores no asfalto causam nojo, e são arrancadas. Quem se compadece da flor não faz parte do grupo. Nem quem voa por prazer. Ou (re)aprende a voar por instinto, ou sai do bando.

É mesmo um milagre da vida (sábio Caramelo) nascer e permanecer no asfalto. Até o próximo desejo de nascer no topo dos edifícios. Adendo poético. Ando assim. Enfim.

Liberdade é só mais um conceito. Um conceito quase particular, é fato. Mas temos liberdade de escolher o pensar sobre a liberdade. Temos liberdade de criar um conceito próprio pra liberdade. O que é liberdade pra você?

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P.S.: Post especialmente dedicado aos amigos Gabriel Pinto, que sempre vem à nossa humilde casa para beber um bom gole de absinto e filosofia barata, Luiz Felipe Leal, que nos amanhece de poesia onde é sempre noite e Diana Borges, a Dica, sempre atenta à direção de nossos olhares. E claro, à Clarinha Gomes e sua trupe de Jardim, sem os quais não haveria inspiração inicial.

Só me falta ser completo.

Somos nós, humanos, delimitados por conceitos. A finitude da vida. A existência/inexistência da alma. A necessidade. A culpa.

Amargura.

Não, não é uma crise existencial. Eu continuo a existir. Ao menos a pessoa por trás do nome que uso. Ou seremos a mesma pessoa? Enfim. Não é um problema em existir ou não, eu existo e ponto. É um problema com as condições nas quais existo. Pouco claro, eu sei.

Existe uma parte da magnífica da filosofia chamada ontologia. Platão foi o responsável por definí-la, em uma primeira instância (se bem me lembro). Se alguém mais o fez, na verdade, não me interessa. Platão fez maravilhosamente. A ontologia é o estudo do ser. E, embora sejamos levados a perguntar: "ser o quê?" por curiosidade ou por costume de achar que "ser" é verbo de ligação e quem é, obrigatoriamente, é alguma coisa, o "ser" só é. Tão absolutamente completo que sequer necessita de alguma coisa para ser. Ser basta. A ontologia sempre me impressionou. Aliás, serei sincera ao dizer que não sei se foi a ontologia em si, ou se foi Platão que sempre me enlouqueceu, ou se o acadêmico que lecionou que foi brilhante. Mas deve ter sido a ontologia mesmo... Não te causa arrepios?

É difícil entender. Tampouco aceitar. O ser humano é estranho demais pra isso. Tenta, a todo custo, absorver o universo ao seu redor. Talvez na tentativa de ser completo. Não basta ser. É necessário ser alguém. É necessário ter valores, ser amado. É necessário inventar, dizer. É tanta necessidade que me pergunto se eu sou ou se o que é são as coisas do mundo que agrego ao meu ser que, portanto, é. Sim, é claro que me incluo entre os seres humanos. Eu também absorvo o mundo para não parecer tão pequeno. Eu sou só mais um igual.

Eu me irrito com perguntas das quais não sei a resposta. Penso que talvez eu não deveria poder questionar esse tipo de coisa. Ou talvez a pergunta seja um tipo de conhecimento. E é, se pensarmos que só chegamos a um questionamento pela incerteza. A incerteza é uma certeza ao contrário, tão certa quanto. Que confuso!

Me desculpem. Não tem sido uma boa semana. Eu tenho semanas terríveis e elas me levam a conclusões ainda piores. E penso, às vezes, que já não estou na idade de questionar. Às vezes acho que falta muito pra ter certeza. Mas quando surge um vazio (ou quando o percebo) eu fico meio morto, meio sem querer ser nada. Na verdade, não me falta muita coisa. Só me falta ser completo.

O tempo, o de repente e eu

Acho perdas de tempo valiosas. Realmente necessárias. Acho mais: acho que perder tempo é esplêndido!. Quanta coisa expulso de mim quando me proponho ao nada, quando me entrego ao vazio da minha imaginação. De quantas coisas me preencho enquanto tento não pensar. E não é exclusividade de ninguém pensar em generalidades, em possibilidades, aleatoriedades. Pensar nos caminhos que nos levam a qualquer lugar, na necessidade de determinadas crenças, ainda que violentamente óbvias. Eu me sinto agredida por ser levada a pensar nisso, por não ter opção dentro das minhas opções, por não haver resposta.

Mas não há nada mais deprimente que a necessidade. Ter que ter, ter que ser, ter que pensar, ter que crer. E a vontade de sair gritando: "Eu não tenho NADA!". Isso eu tenho. Eu, particularmente, acho coisas inevitáveis muito tristes. Ter que respirar é tristíssimo, essa dependência do inanimado, algo poluível, algo contaminável. E acho triste também passar a noite sem dormir. Só um adendo nada a ver. Mas eu não tenho que ser racional.

Meu tempo perdido é sempre disperso. Nunca sequer me lembro exatamente do que estava pensando no momento anterior porque o pensamento corre a uma velocidade que a memória não consegue carimbar. Mas seja lá por qual caminho, num de repente qualquer, me vem uma idéia incrível de como as coisas são possíveis, todas elas. É como se tudo pudesse mudar. É como se aquilo que os gregos chamavam de Mundo Inteligível viesse ao meu domínio e eu desvendasse todos os segredos de tudo que há. E a idéia foge. Só isso. Só foge. E não volta nunca mais. E mesmo num mesmo vazio, numa mesma angústia ou numa mesma paz de espírito a idéia nunca retorna. O de repente é sempre outro.

Questionar o que é a vida, quanto ela vale e qual a fronteira entre viver e existir é vão. Sempre vão. A vida não se pode medir. Não que devamos interromper o processo cognitivo simplesmente por não haver possibilidade de um conhecimento completo. Bem, talvez devamos. Mas sob essa perspectiva tudo é vão, mesmo respirar. De outro modo, o que vivemos é nossa única certeza. Não importa se a crença nos permite acreditar numa vida anterior ou posterior a esta, o agora é certo. Então, só resta viver. Pensar nas possibilidades improváveis. Almejar conquistas impossíveis (a tal moeda do topo). E saborear a esperança do que jamais será vivido.

um final de Distância e um início de Saudade...

A distância cria parâmetros que não existem. É como o tempo, ou o espaço. Ou como deus. São conceitos jogados na alma que parecem resolver problemas. O tempo cria as regras e as marcações do que jamais poderá ser contado ou marcado. O sentido de espaço limita algo excessivamente livre. E deus está sempre onde deve estar, fazendo o que deve fazer. E é sempre um alívio pensar que o tempo é contado, o espaço é limitado e deus existe. E a distância?

A distância também é um alívio. Ela desobriga à verdade ou à mentira. Não existe medo. Existe, sim, uma inconstância de sentimentos. Mas a distância é sempre solução. É sempre a motivação para o perto. É fato também que a distância permite grandes encontros. E permite fazer amigos de lugares desconhecidos. Goiás. Mato Grosso. Rio Grande do Sul. São Paulo. Espanha. São espaços que conheço através do olhar de quem não conheço. Mas são próximos e sempre bem-vindos. Não têm defeitos, têm humanidades aparentes, mas pouco notáveis. E amo. Abraços, inclusive. E a saudade?

É através da falta que a saudade se estabelece, indiferente à distância real. Porque, segundo conceitos matemáticos, físicos ou sei lá quais, a menor distância entre dois pontos é uma reta. Já pensou nisso? Uma reta... A saudade sempre faz curva. Ou entra por um ponto de um buraco negro e chega logo no outro. Como a saudade é bela. É cheia de encantos e facetas. É quase uma entidade absoluta. Será que não é? Não existia nenhuma deusa grega da saudade? Poderia ser uma bela mulher esguia, sempre vestida com leves roupas, que ia sempre onde os ventos a levassem. Por ter uma paixão tresloucada por Zeus, a ciumenta e soberana Hera a condenou a viver longe de seu amado. Se divertia separando pessoas que se queriam de alguma forma. Sempre vagava na companhia de Dionísio e, quando meio alterada pelas graças etílicas, se punha a chorar aos pés de Héstia. Seu nome? Se meu grego enferrujado não me engana, é algo como Disponidéia...

Mas a saudade-sentimento é sempre vinculada à distância. Não sei se para que saudade seja sofrível, ou só para que ela consiga existir. Quem sabe? Talvez Disponidéia.

02 novembro, 2008

Então

Isso é hora. Na verdade, deveria ser mais cedo, mas uma chuva de coisas sem sentido algum aconteceram e quando Murphy resolve mostrar ao mundo que existe uma lei p'ras coisas darem errado, ele o faz. Pois bem, eu tô sem saco pra escrever algo decente, perdi minha comunicação com o mundo e tudo que eu quero é ser rica sem ter que trabalhar. Isso! E comprar essa empresa só p'ra demitir meu atual patrão. Isso! Enfim, tô azeda há duas semanas porque não consigo postar, não consigo entrar no Orkut, no MSN, no Outlock, em qualquer outra merda de forma de comunicação com o mundo, eu cansei!

E vai bloquear a mãe porque webfilter de cu é rola.

15 outubro, 2008

Sensação III

Fazer com mais capricho.
Fazer bem feito.
Fazer solicitamente.

Trazer à mente a lembrança do futuro desejado: isso se chama sonho.

Ter entre os dedos a raiva.
Saber que fúria não se vende.
Enfurecer-se. Não guardar-se.

Trazer à mente a lembrança do futuro aguardado: isso se chama esperança.

Tudo merece um pouco mais de prazer na execução, é verdade.
Aliás, a culpa é minha.
Isso não vai se repetir.

Trazer à mente a lembrança de qualquer futuro: isso se chama loucura.

Antes

Ter essa carne viva,
essa víscera aberta.

Arranhar o peito,
bater os sonhos,
soltar a poeira dos vincos.

Antes a ignorância de não saber voar
que ter asas
- a sina de viver entre grades.

É na brisa que minh'alma se vai.

08 outubro, 2008

Sensação II

Acabei cego
de tanto olhar pra mim.

07 outubro, 2008

Tempestade tropical

"Não fui eu, foi meu Eu lírico”...
Foi o palco em que senti sua brisa...
Ainda em preto e branco... linhas grossas...
Mas de palavras leves...

Sem pedir licença invadiu... abrindo portas...
Arrastando cortinas... expondo suas idéias...
Mostrando quem é...
Mostrando que era tanto um tufão de pensamentos...
Quanto uma leve brisa de calmaria...

Bruta e doce...
Cética e Bruxa...
Meticulosa e apaixonada...

Mas sempre... sempre... sempre...
Aberta... aberta às pessoas...
Às crenças... aberta sempre...

Uma pessoa encantadora...
Se é que é mesmo pessoa...
A menina dos ventos...

-------------------------- Sr. Gustavo Martinho, o Violinista, sobre mim.

Grata, amigo, todos os dias por tê-lo conhecido.

06 outubro, 2008

Poeta

Eu vivi uma vida de poeta, mesmo antes de ter vida. Mas meus poemas se foram voar, porque eu lhes dei asas. Um dia voltarão, mas para fim imediato da minha solidão, me resta viver por outros. Pena que eu tenha descoberto isso tão tarde, e já tenha passado por um longo período de isolamento. Perdi meus poemas quando perdi meus amigos, e era bem assim que tinha que ser. [...]


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Você começa a me fazer falta

Agora você começa a me fazer falta. Não parece importante... Afinal, você algum dia lerá estas letras? Você jamais lerá sequer meus olhos. Você jamais entenderá.

Minha face insensível não chora por você. Chora por infâmia, por impassibilidade ao próprio peito... Nunca por você. Imagine só, chorar por você. Contra-senso. Esta lágrima é minha alma indo a nocaute. Nada mais.

Cada vez que algo me atinge, você parece ser minha primeira solução, minha primeira culpa. É claro que você não sabe disso. Você não me vê chorando, nem por fora, nem por dentro. Mesmo as loucuras que se ordena fazer, nada tão imprevisível. Você ainda não se satisfez. Não presenciou esta lágrima por uma noite inteira, não presenciou uma falta de sono, nem as confissões absurdas ás três da manhã, nem as promessas de morte.

Renúncia

Engraçado como são as coisas. Eu poderia morrer neste exato instante, mas escolhi morrer aos vinte e quatro. Me faltam, ou me sobram, três anos. Quantos serão que restam ao resto? Se não demorar muito, eu bem que animo esticar minha vida até uns oitenta e tantos. Minha vida é uma cama de agulhas: não existe momento confortável e não importa o quanto eu esteja acostumada a ela, vai sempre doer viver nela um dia mais.

Engraçado como são as pessoas. Tão presas às coisas finitas. Talvez na esperança de que elas permaneçam... Não são eles tão ligados em tradições? Deviam saber que desde sempre é assim.
Engraçado como sou eu. Porque eu quero ser justamente aquilo que mais abomino? Inteligência, definitivamente, não produz nada prático por aqui. Ai, como eu queria ser bonita. Ai, como eu queria ser ninguém.

Engraçado é deus. Ele, lá, sempre tão alheio às coisas, mas sempre tão culpado, tão causa e conseqüência. Eu devo ser mesmo um problema. Talvez se houvesse um jeito de me livrar, mas seria apenas uma ilusão desnecessária.

Pedido desesperado ao meu eu-lírico:

volta!

04 outubro, 2008

Cena II

Eu senti falta dos seus dedos entre os meus ao me deitar. Achei que aquela cena precisava de um par romântico, precisava de um equilíbrio, precisava de um pouco mais de pele.

03 outubro, 2008

Marina

Sabe, linda?

Feliz Aniversário.

30 setembro, 2008

Lento

Eu vou lento pelas ruas
porque dói.
Não é grave, é só uma ferida.
Logo apodrece, logo vai sarar.

Eu vôo lento pelos ares.
Eu plano.
Eu, pleno.

Triste é meu peito ardendo.
Triste, mas eu me rendo.

25 setembro, 2008

(sem título X)

Gostaria de dizer que te aprecio. Assim: com apreciação.
Com devoção cega de uma beata, eu te adoro, eu te louvo.

O tempo não te impedirá de ires onde quer que queiras ir.
Só me leve.

Já é tarde, eu não tenho mais do que dez ou vinte séculos de lembranças.

Eu gostaria de dizer-te tantas coisas, mas meus caminhos andam tortos, sabe?
Não vão muito certos, ou muito lógicos.
Ou só estão sendo o que eu sempre pedi que fosse.

Pode não fazer sentido agora, mas ouça:
Se alguma coisa me acontecer,
foram os homens maus que me levaram.

E guardo sempre uma cartinha conspiratória debaixo do colchão para que você leia quando eu me for...



... e tantas outras fantasias no meu baú de asneiras.

22 setembro, 2008

Afeto

É necessário admitir
(primeiro, para ser sincero
e, depois,
ser passível de pena)
que tudo em mim transpira lágrima, chora um pouco e dói.

Que seja ainda por orgulho que eu mantenha meu sorriso.
Eu sou humano, também.
Eu não me importo, também.
Há mais do que dor para sentir.

Saudade, que saudade
da sua íris em flor.

Eu te prometo que quando pouco for suficiente nos veremos.
Mas ainda quero muito, e quero mais.

No vento eu te levei um recado;
que ele te tenha passado
muito mais do que eu pedi.
No medo entendi meu pecado;
que ele seja perdoado
por todos a quem feri.

"Deixe que eu te ensine a viver?", murmurou o amor ao telefone.
"Deixo não!", eu pensei.
Eu queria mesmo era não precisar deixar
e gritar:
"Me toma sem pedir,
me leva, me deixa ir!"

É necessário admitir
(primeiro, para ser correto
e, depois...
sem ser mais nada)
que tudo em mim transpira dádiva, brilha um pouco e ama.

19 setembro, 2008

Sensação I

Desde cedo que tenho sal nos olhos.

Andréa

Eu tinha doze anos quando ela morreu. E eu nunca entendi muito bem como foi isso. Duas semanas antes estávamos fazendo macarrão ao alho e óleo pra matar a fome e dormindo na cama dos meus pais. Ela me chamava de "lindinha" e era minha melhor amiga, minha irmã. Às vezes brigava porque, afinal de contas, era adulta. Mas, quase sempre, era tão pré-adolescente quanto eu, tínhamos tantos segredos quantos eram possíveis ter.

Ah, ela era quente. Uma pele confortável de se fazer carinho. Um cabelo curtinho, macio. São sensações que eu ainda sinto se fechar os olhos. A pele dela é um toque que eu nunca vou esquecer.

E a voz. Como era linda, como era doce. Tinha os óculos com a armação grossa, cor de vinho. Ontem quando me vi com meus óculos de armação grossa, cor vermelha, me achei muito parecida com ela. E me deu uma vontade louca de cortar o cabelo curtinho, como o dela, só pra ter um pouco dela de volta.

Eu não fui ao velório, porque não deixaram. Hoje penso que foi melhor, tenho boas imagens dela na cabeça. Não foi fácil aceitar um mundo onde ela não existia, tudo perdeu um bocado o sentido. Me senti um tanto abandonada, não a perdoei por ter me deixado. Hoje me reservo o direito de achar que ela não morreu de fato. É uma ilusão confortante, mas eu não ligo. É, foi melhor assim.

Ela não estava aqui pra conhecer meu primeiro namorado, não me deu conselhos amorosos, não estava pra me ajudar à escolher um curso na faculdade. Não vai à minha formatura, nem ao meu casamento. Meus filhos não a conhecerão. Mas eu nunca a perdi de vista, tenho sempre sua imagem diante dos meus olhos. E suas mãos me ajudam a dormir quando a noite é triste.

Eu ainda escuto músicas pensando nela. Cozinho coisas que ela gostava de comer. Me arrumo pra que ela me aprecie. Ainda penso no que fazer como se fossem conselhos dela. E vivo, de certa forma, pra compensar aquilo que ela não teve chance de viver.

17 setembro, 2008

Intradutíveis



A idéia não é minha. Tampouco de Diana. Nem de Beth. A idéia é do Pensador Louco: um selo para homenagear "blogs cuja originalidade não se pode copiar ou traduzir". Mas é uma ótima idéia. E, além de Louco, esse Pensador é generoso e disponibilizou o selo para quem quer que quisesse homenagear outros blogs originais.

Então, esses são meus seis Intradutíves:

Madrugada Sem Fim: é o reflexo de Ana Maria, é um sopro de juventude. Vale a pena edificar a alma por lá. Sempre. É intradutível porque é leve e intenso. Coisas de Ana Maria.

Dica: Diana começou postando pedaços de (bons) textos alheios, até que alguém lhe sugeriu que ela própria escrevesse os textos. E como diria Cocteau, "Ela não sabia que era impossível. Foi lá e fez". Intradutível porque tem uma pitada de descompromisso.

Corra E Olhe O Céu: Poesia crua. Salve, Bá! Intradutível porque é a Elba, ora!

Bichinhos de Jardim: Uma joaninha sarcástica, uma minhoca ingênua, um caramujo feliz da vida e uma lagartinha muda e extremamente expressiva discutindo problemas da sociedade. Não é surto, é genialidade de Clarinha Gomes. Intradutível, né?

Quem Matou A Tangerina: É cultura. É humor. É informação. É Fred Fagundes. Intradutível porque é um blog completo e dinâmico. Do nome ao conteúdo.

Mureta de Lugar Nenhum: A primeira vez que li achei que eu própria tinha escrito. Eu classifico como blog de confissões, é quase como um confessionário de Luísa. É intradutível porque é sincero. Deliciosas linhas.


Que ninguém se sinta ferido! Não se trata da lista de preferidos, porque meus preferidos estão aqui ao lado, à direita. Aliás, meus preferidos são os meus. Acho justo. Trata-se de uma listagem daquilo que eu julgo mais original, aquilo que não pode ser copiado porque é carregado da identidade do autor ou porque é uma idéia brilhante. E poesia não é tudo igual.

E já que é pra indicar, visitem o Dubitável e o (De)Cadenzza!

15 setembro, 2008

daquelas

Ana diz:
quanto tempo dura uma paixonite?
• martinez • diz:
até uma desilusão

Pirata

Eu me vi bebendo rum no gargalo, gritando palavrões e dentro de roupas brancas e rasgadas. Um lenço na cabeça, o cabelo embolado e sujo, os olhos marcados para assustar. Um mapa na minha frente, um canivete afiado dentro da bota direita. Botas de cano alto, calças largas e baixas. E eu gritando com certa macheza: "But why is the rum always gone?"

É divertido estar bêbada o suficiente para esquecer o dia da semana.

30 coisas inúteis sobre mim.

1. Eu cozinho muito bem.
2. Eu sou teimosa. Nas entrevistas de emprego digo que sou "persistente".
3. Eu sou sexy. Ié, bêibi.
4. Eu minto descaradamente e muito bem, sem qualquer remorso antes, durante ou depois.
5. Eu não preciso de motivos para ler livros.
6. Eu sou afetada.
7. Eu ando pelas ruas do centro de Belo Horizonte como se fosse a primeira vez que estivesse lá. Olho cada prédio com tamanha apreciação de turista que me sinto estrangeira.
8. Eu moro em Belo Horizonte.
9. Eu converso com o vento.
10. Eu acho que eu até tenho muitos grandes amigos. Mas sou extremamente relapsa. Se não me ligam, se não me procuram, passam anos sem ter notícias minhas.
11. Eu me apaixono facilmente.
12. Eu sou vingativa, como boa taurina de ascendente em Escorpião.
13. Eu não acredito em horóscopo.
14. Eu sou bruxa.
15. Eu critico o tempo todo, mentalmente.
16. Eu converso sozinha pelas ruas. Em voz alta.
17. Eu sou sincera descaradamente, sem qualquer remorso antes, durante ou depois.
18. Eu consigo absolutamente tudo o que eu quero. Eu apenas desejo coisas possíveis.
19. Eu me visto como homem e, ainda assim, sou sexy.
20. Eu sou uma boa atriz, fico bem no palco. Mas isso faz tempo.
21. Aos 18 anos, eu já tinha uma década de carreira no teatro.
22. Eu compro algumas coisas pra mim e depois me dou conta que são futilidades. Então dou pra alguém que eu gosto. A pessoa fica feliz, eu fico feliz.
23. Eu me conheço muito bem. Me conheço até onde não me conheço.
24. Eu tive febre quando meu coelho morreu.
25. Eu larguei a faculdade de filosofia porque não gostei do Kant.
26. Eu tenho um sotaque francês chiquérrimo e sei fazer aquela cara blasé dos franceses.
27. Mesmo medindo 1,53m, eu jogo vôlei muito bem. De líbera, é verdade. Mas muito bem.
28. Eu sou filha única.
29. Eu gosto tanto do meu aniversário que conto pra todo mundo.
30. Meu anivesário é dia 29 de abril de qualquer ano.

12 setembro, 2008

Eles não querem que você saiba

Hoje de manhã, antes de vir trabalhar, estava assistindo a um anúncio de um livro chamado "Curas Naturais que eles não querem que você saiba". O anúncio, feito pelo próprio autor, Kevin Trudeau, explicava que "eles" (cientistas e a indústria farmacêutica) sabiam a cura de absolutamente todas as doenças, inclusive câncer e herpes, mas que não revelavam pois uma população saudável não consome medicamentos, o que os levaria à falência. Bem, faz algum sentido. A indústria farmacêutica nunca faturou tanto como hoje, mas vamos também levar em conta que nunca houve tanta gente no mundo quanto no segundo posterior a esse, e nascendo em lugares cada vez mais insalubres e precários. [...]


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Eu, eu, eu cansei dessa coisa de ego, ego, ego.

Essa coisa do ser humano ter um ego tão mais estabelecido que ele deve ter a ver com o fato de sermos alimentados pelo umbigo antes de nascer.

Cena

De repente eu sinto que só preciso de dois discos velhos do Skank, uma cama gelada sob um cobertor quente e qualquer coisa destilada com qualquer coisa doce.

(sem título IX)

Será que venta na beira do precipício?

10 setembro, 2008

Ao novo palpitar do peito

--------------------------------------- distante.

Eu, que desde que foi sempre, busquei a virtude de suas palavras
busco agora, neste meio vazio
a virtude de seus lábios.

Que confissão mais demente tendo em vista minhas perdas.
Eu não quero saber, não quero.
O que eu quero é a distância, é o que eu busco.

Venha, amigo, ser mais que isso.
Venha ser meu auxílio p'ra que eu seja seu colo.
Que eu possa te beijar e te adorar quantas vezes preciso for.
Ou que sem necessidade, eu o ame por capricho.

E que mesmo tão estranhos, tão rudes,
sejamos na doçura sempre pares, sempre ímpares.

09 setembro, 2008

Mineiro

ah, se não fosse em Minas
que lugar seria meu lugar?

Óculos quebrados num sábado à noite

Melhor beber
beber
beber
beber
rir um bocado
beber um bocado
Isso é vodca?
Melhor beber
beber
beber um pouco mais
Eba, carne!
comer comer comer
beber
beber.

Nossa, eu nunca tinha reparado como você é bonita!
- "Você está sem óculos e bêbado. Isso foi um elogio?" -
Tem razão.
Eu já tinha reparado.

06 setembro, 2008

Drummondiana

I

Minha tão amada Antologia Drummondiana voltou às minhas mãos. Que ódio de mim por tê-la emprestado. Mas tudo bem! Agora estamos eu e Drummond neste sofá. Ele me olhando meio de lado, fingindo não me ver. Mas eu sei que ele me espia de beira quando eu me viro para escrever.

II

É que quando leio Drummond me vêm três milhões de idéias à cabeça, todas esvoaçantes. Eu, como respeito as verdadeira boas influências, dou a essas idéias mais que atenção: dou caneta, folhas em branco e alguma disposição em transcrevê-las. Drummond ainda finge não me ver.

III

Eu já tive um caso com Vinícius. Foi um caso intenso, essas coisas de adolescência. Mas aí... conheci Carlos e Vinícius não teve chance. Somos, ainda, grandes amigos, de ter longas conversas e passar noites em claro discutindo as dores do mundo. Às vezes versamos, às vezes cantamos. Mas é Carlos que eu amo.

IV

Despretenciosamente, estive em Itabira há alguns anos. Bem no trevo de entrada da cidade existe uma estátua de Drummond de pé, bem no centro, com um dos braços erguidos indicando p'ra que lado fica Itabira. Há uma outra estátua, também em tamanho real do poeta sentado num banco, que fica na porta do teatro chamado - adivinha o nome? - Carlos Drummond de Andrade. Um teatro enorme, com uns seis ou sete de andares de coxia, acessíveis apenas por uma escadinha de metal rangente e pouco confiável que subi umas doze ou mais vezes enquanto me preparava pro espetáculo de mais tarde, sem nunca chegar ao último andar. Além das histórias de que o teatro era mal-assombrado, só havia luz até o terceiro andar. Daí pra cima o que restava era a luminosidade dos andares mais baixos, o último andar era um breu só. No fim do festival de teatro conseguimos apenas o quinto lugar entre onze outras peças, o que me faz pensar que não foi um resultado tão ruim quanto me pareceu no dia. Bem, ao final dos resultados eu me desabei em lágrimas pensando nos trejeitos que não fiz e que talvez tivesse levado o grupo inteiro ao "fracasso" e me sentei no banco da porta do teatro com a cabeça nos colos de Drummond que me disse algumas coisas e me senti mais leve. Óbvio que não vou contar o que ele me disse, esse é um segredo que ainda guardamos. E eu amei Carlos naquele instante mais que em qualquer outro momento.

V

Me lembro ainda quando o conheci. Eu tinha quinze anos e, junto com mais um bando de garotas e um garoto, precisava de um tema para a Feira de Cultura daquele ano. Alguém propôs Drummond. Tenho alguns rasbiscos de memória, me lembro de pneus, coreografias ao som de Jobim, poemas escritos gigantemente em metros e metros de TNT e a divisão dos temas. Eu fiquei com "Drummond Erótico" e "O amor natural". Não me lembro exatamente os detalhes, mas sob a direção de Elba chegamos ao final com os pés cheios de bolha, a pele com sérias queimaduras de sol; ela ainda conseguiu manchas brancas nas mãos por ficar atirando limões n'água durante a tarde e eu, várias manchas vermelhas na perna, causadas pela meia grossa, a tinta, a lona e o sol. E conseguimos, graças a todos nós, muito à Elba e claro, a Drummond, um lindo primeiro lugar dividido com o grupo que falou sobre o Festival de Parintins. E como agradecimento, ao sair da quadra, Drummond nos esperava, com um abraço largo e um sorriso fechado, mas sincero. Eu amo Carlos.

VI

Como eu disse, fiquei responsável por desenvolver o "Drummond Erótico" e então comprei "O amor natural". A alegria de possuir um livro de Carlos não durou uma semana. Meus pais, numa tentativa de preservar qualquer coisa, recolheram o livro e me proibiram de lê-lo. Olhando pelo ponto de vista deles, e considerando que "O amor natural", não bastasse a perversão de Drummond, é estampado de mulheres rechonchudas e nuas em posições convidativas, eles não estavam de todo errados, eu talvez não tivesse ainda maturidade pra compreender a dimensão de certos versos. Seja lá do que estavam tentando me esconder, não deu certo. Naquela altura do campeonato eu já havia tirado cópias e cópias do livro e o sexo na dimensão de Carlos era um fato. Eu não vou falar sobre o livro em si, porque acho que é uma coisa que cada um tem que ler consigo e achar maravilhoso, pecaminoso e tantas coisas mais, mas que cada um ache o que quiser. Parece devasso, mas o título do livro sugere que é o amor da maneira que é, sem eufemismos, sem abrandamentos supérfluos, é um convite a amar Drummond de outras formas. Mas há, é claro, alguma devassidão. E tanto Drummond sabia disso que não publicou os poemas em vida, mantendo a imagem de bom Itabirano. Foi, talvez, uma censura interna. Ou talvez fosse por diversão. Talvez por timidez. Fato é que foi ele que escreveu. E é por isso que amo Carlos.

VII

Alguns anos depois, procurava um colcha na parte de cima do guarda-roupa quando encontrei lá meu livro, meu tão amado livro. Hoje sou eu que o escondo da minha mãe.

VIII

Pra sempre eu vou amar Drummond. Desse jeito que ele me ensinou e, sei, reciprocamente. Bom velhinho, bom mineiro. Eu amo Carlos.

IX

PERGUNTAS

Numa incerta hora fria
perguntei ao fantasma
que força nos prendia,
ele a mim, que presumo
estar livre de tudo,
eu a ele, gasoso,
todavia palpável
na sombra que projeta
sobre meu ser inteiro:
um ao outro, cativos
desse mesmo princípio
ou desse mesmo enigma
que distrai ou concentra
e renova e matiza,
prolongando-a no espaço
uma angústia do tempo.

Perguntei-lhe em seguida
o segredo de nosso
convívio sem contato,
de estarmos ali quedos,
eu em face do espelho,
e o espelho devolvendo
uma diversa imagem,
mas sempre evocativa
do primeiro retrato
que compõe de si mesma
a alma predestinada
a um tipo de aventura
terrestre, cotidiana.

Perguntei-lhe depois
por que tanto insistia
nos mares mais exíguos
em distribuir navios
desse calado irreal,
sem rota ou pensamento
de atingir qualquer porto,
propícios a naufrágio
mais que à navegação;
nos frios alcantis
de meu serro natal,
desde muito derruído,

em acordar memórias
de vaqueiros e vozes,
magras reses, caminhos
onde a bosta de vaca
é o único ornamento,
e o coqueiro-de-espinho
desolado se alteia.

Perguntei-lhe por fim
a razão sem razão
de me inclinar aflito
sobre restos de restos,
de onde nenhum alento
vem refrescar a febre
desse repensamento:
sobre esse chão de ruínas
imóveis, militares
na sua rigidez
que o orvalho matutino
já não banha ou conforta.

No vôo que desfere,
silente e melancólico,
rumo da eternidade
ele apenas responde
(se acaso é responder
a mistérios, somar-lhes
um mistério mais alto):

Amar, depois de perder.

**(Carlos Drummond de Andrade)

X

É de ser feliz mesmo, é de ser fiel, é de ser bonito. Eu amo Drummond e isso me basta em qualquer esfera. Eu amo Carlos como tem que ser, e desde sempre e até pra sempre.

03 setembro, 2008

Estrada

Eu, cá, me comportando como louco.

De uma inconseqüência tão vadia que sequer serve para impactar. Essa imprestabilidade, essa alma abstrata e dubitável, essa intuição perdida. Tudo, absolutamente tudo, incomoda. Por não ter o que dizer, por não caber-se em palavras, por não haver motivo. Seco, sufocado. Sufocado...

Eu olho pra estrada, a estrada nem me vê. Eu me sento, eu desisto, porque é isso que eu faço de melhor. O sol queima, e eu penso em nem me importar com isso. Não há de ser grave. E há instantes que eu deliro de fome, de sede, de calor. Mas isso tudo é sensação. Vai passar.

E porque cada segundo é aterrorizante e eterno, não passa. E não me recordo mais o que faço aqui. Nunca houve um motivo, creio. É o dilema da estrada.

Se caminhar, eu me perco. Talvez não encontre o que procuro, talvez eu definhe. Se eu parar, acaba. E eu vou ficar preso às possibilidades, ao meu pensamento incessante e travado, que não entende meu não-caminhar. É triste. É real.

E não é metáfora. A estrada existe e está aqui, diante de mim. Eu, aguardando um pretexto pra caminhar. Ela, aguardando para engolir meus passos. Não é metáfora, é pior. É minha vida caminhando sem mim.

02 setembro, 2008

(sem título VIII)

Eu tenho muitas coisas pra dizer nesse momento, mas não possuo maneiras. Então estou aqui, escrevendo sofre minha incapacidade, nem que seja só pra escrever... Eu acho importante escrever. Que seja por hábito, ainda que falte talento.

Insólito amor inusitado

-------------------------------------------Para sempre Elba

Se você quiser estar comigo,
Compartilhar da minha paixão
E fazer parte dos meus pensamentos mais impuros,
Ser a dona do amor mais proibido,
Já que fomos feitas iguais em corpo
Em alma
Esteja!
Te amo, confesso,
De um amor incapaz de existir
Indiferente aos preceitos, indiferente ao pecados, diferente do mundo.

Te amo de amor estranho
Incompreensível amor
Te amo amando o mundo
Amando todo mundo
Te amo amando coxas (não as suas)
Te amo amando corpos masculinos e seus mimos
Mas amando-te eternamente...
Te amo, não te amando tanto
Querendo mais ao mundo que a ti,
Querendo-te mais que a mim,
Sem te querer mais que ao mundo.

Por favor

Uma paulada bem forte
bem aqui
no quengo.

29 agosto, 2008

(sem título VII)

Acordei com uma novidade: acabou.
Eu que achei que solidão era coisa pr'os outros me dei conta do meu vazio. Sentimentos, assim como as pessoas que os mantêm, são perecíveis. Acabam antes das pessoas, até. E vou dizer, é triste.

Acordei com uma novidade: o meu copo está meio vazio.
Tudo quanto é música me faz chorar. Mas como disse um amigo, eu vou ter que superar isso. Eu vou, um dia. Sem pressa pra deixar de sofrer.

Talvez seja drama, sabe? Orgulho já é mesmo, essa minha parte está bem clara.

Estou desconcertada com a vida. A sensação de que dei tudo que pude e pouco tive em troca. É, acho mesmo que seja drama. Ou talvez essa história de amar sem pedir nada em troca seja balela.

Eu sei, eu sei. Vai passar, eu sei.

Há alguns anos atrás, acordei com uma novidade: a gente se amava.

Hoje acordei com outra novidade: nós não nos amamos mais. Maldita sintonia.

28 agosto, 2008

Do(a) eterno(a)

------------------------- Para a Flor.

A flor.
Ela é linda.
Minha Nana, minha irmã.

Do que eu tenho de eterno, eu a tenho.

Eu a conheço nos seus detalhes, nas suas falhas.
Eu a conheço na mentira, é que suas verdades me gritam. Mas eu não posso dizer nada.

Dela, o que eu tenho é o amor. Devo dizer, é tudo.

É um luxo de menina em suas maquiagens, em tudo que brilha e lhe cerca.
É delicioso vê-la manejando seus pinduricalhos em volta de si mesma.

Ela é minha esfera, meu cristal intocável.
Eu a sinto eu suas alegrias dentro de mim.
E cada lágrima que rola nela, se duplica em meu rosto.

Eu a amo.
De tantas formas quantas forem possíveis amar alguém, eu a amo.
Eu a amo.

Eu não sei precisar o tempo que levei pra descobrí-la.
Eu sei que só nasci depois de encontrá-la.

Do que eu vejo dela, eu vejo tudo.
Vejo os olhos que brilham, vejo o corpo que flutua, vejo os róseos lábios, vejo a pele branca, vejo as mãos pequenas.
E o restante eu sinto.

Eu sinto um abraço que tenta me engolir. E o perfume que fica na alma por dias.

É sempre pouco o que eu escrevo, sempre será.
Do que eu tenho de mais intenso, eu tenho meu amor por ela.

A extensão de infinito cabe dentro desse amor.

26 agosto, 2008

Tentativa

Estou tendo dificuldades pra escrever porque eu não tenho palavras pra te dizer.
Tudo que eu escrevo me parece medíocre, me parece pouco pra você.

Você que é maior que meu vocabulário

Consigo escrever páginas sobre outras coisas, mas nenhuma linha do nosso amor. Tanto amor fez de mim uma incompetente.

22 agosto, 2008

Um eu todo (des)(re)torcido

Oficina de verdades:

Quando surgiu a idéia de um blog (pela última vez) ficou acertado que eu teria um nome. O "Martinez" nada mais é que meu sobrenome latinizado. O "C" foi uma letra aleatória talvez não tão aleatória assim... aquelas coisas que talvez Freud explique, ou não. E desde então eu tenho sido C. Martinez, essa pessoa que transita entre as sexualidades, sempre muito educado(a), sempre gentil e encantador(a). Mas é, inevitavelmente, uma máscara. E já que estamos brincando de dizer verdades, não é que a mentira me incomode. O que me incomoda é usar alguém pra mentir por mim, sendo eu tão capaz de mentir com maestria invejável. Martinez é o que eu esperava que as pessoas vissem em mim sem que eu precisasse mostrar. Mas quem me conhece sabe que nem de longe sou assim, tão educada e gentil, tão genial. Pois é, sou uma mulher. Aliás, sou só uma menina.

Martinez tem sido mais que só uma máscara, tem sido uma entidade superior que me permitiu dizer, até agora, coisas que eu jamais diria sozinha. Tem sido um companheiro. Tem sido um personagem que criei fora dos palcos. O palco me faz falta de muitas formas, e me faz falta também a coragem de voltar a atuar (ou "à toar", como queira). Tentei produzir, na verdade, um alguém que fosse tão particularmente literário que ninguém duvidasse que ele fosse outra coisa que não poeta. Mas eu não sou assim.

Continuo ainda escrevendo como Martinez, porque de alguma forma separo aquilo que tenho que ser daquilo que espontaneamente(?) sou. Eu grito aqui as coisas que calo na vida.

O degas:

Verdade mesmo é que eu não tenho nada de interessante. Sou ligeiramente feia. Não uma feiura que incomoda ou chama atenção, só de uma feiura ignorante, esquisita. Uma feiura de sardas e miopía. Tenho uma paixão louca por bandas latinas fabricadas, sou brega, sou chata e tantas outras coisas que Martinez não é. Não se sintam culpados em preferí-lo. Até eu prefiro.

De todo, não é que Martinez não exista. Ele só é meu lado melhor, meu lado galã. Mas ainda sou eu, maior e "photoshopada".


Medo:

Só existe uma coisa maior que minha preguiça: minha soberba. E Martinez recebe tantos elogios que começou a me incomodar. Que bobagem, ainda sou eu! Eu com ciúmes de mim, eu sou patética... Assustadoramente patética...

Ai! Que alívio!

E que medo... Me vi de chinelos mendigando compreensão. E Martinez, com seu terno risca-de-giz, passando sua mão sobre minha cabeça e me colocando no colo. É de se preocupar quando se está carente de si mesmo. Patética.

O degas (II)

Lembram?

"Se me fosse concedido ser mulher, eu seria, se pudesse escolher, baixa e gorda. Dessas
baixas de menos de 1,60m. Dessas gordas de mais de 80 kg. E queria ter bonitos
cabelos, bem negros, ainda que pintados, pra que não desse muito trabalho e eu
pudesse me concentrar em outras coisas de ser mulher." [...]



Pois sou exatamente assim... e tantas outras coisas que não cabem em palavras. E tantas outras coisas que nem sei ainda e talvez nunca saiba. Mas, talvez estupidamente, eu tenho orgulho das coisas que faço, até das erradas... não, não é demagogia... eu sou uma sem-vergonha, é verdade. Mas tudo aquilo sobre a inevitabilidade da morte é o que dá coragem, não é? Quando dá tudo errado eu penso comigo: "Foda-se! Eu vou morrer mesmo...". Isso é falta de perspectiva, mas que se há de fazer? Tem aqueles que acreditam na vida eterna, eu acredito na morte. Também
é fé, não é? Acho que é isso... Tomara que seja.

21 agosto, 2008

Para se perder

Eu queria esquecer das coisas que me fazer rir freneticamente, eu pareço uma louca.

Verdade é que esses parâmetros de loucura dados por quem não tem a sanidade comprovada não vale muito. E quem é quem pra atestar a sanidade de alguém?

Eu queria parar de esquecer coisas que me fazem sofrer diariamente, eu pareço uma viúva casta.
E acho que se o homem usa cinco por cento da capacidade do cérebro é porque se prende a coisas exatas e inexpandíveis. Essa palavra existe? Enfim.

A minha vontade, de verdade, é ter vontades que não dependam das minhas circunstâncias.

20 agosto, 2008

(sem título VI)

De repente eu me dei conta dos erros que tenho cometido há anos.

E achei que, se tudo que sou é por culpa dos meus erros, errar é das coisas que faço mais dignamente.

19 agosto, 2008

Ser poeta

É que eu andei pensando nessa coisa de ser poeta, que deve ser bom ter quem leia, que deve ser bom ser imortal.

Tanta coisa pra dizer que se acaba por atropelar o pensamento e antes de por ponto final tem que haver vírgulas para não se perder o caminho do poema.

O poema é sempre, assim, essa coisa disconexa e sem sentido que sempre achei ser necessário ser rico pra poder entender. Hoje sei que os ricos só têm, por um motivo muito besta, aval p'ra fazer cara de bom entendedor diante de qualquer obra.

E que, poeta ou não, qualquer um diz a bobagem que quiser. Mas o poeta diz lindo e suave, mesmo a bala no peito, mesmo a diária e hipócrita e ignóbil relevação/revelação do ser. Não dá p'ra ser feliz sendo poeta.

Não dá p'ra ser feliz sendo poeta porque a poesia é uma grande enganação. É sempre um eufemismo ou uma hipérbole que mata a verdade de tal jeito que o poema jamais dirá coisa com coisa, o poema jamais será real.

Coitado do poeta. Cheio de amargura e vontade de gritar. E só lhe sai um sussurro de poesia.

12 agosto, 2008

Preguiç-a/ah/há.

Acordar é dos hábitos mais estranhos. Não sei pra quê serve, não sei pra quê presta. Não gostaria de ter que fazê-lo. Acordar me deixa com sono.

E eu olho pro caderno e mais do que "escreva-me", ele diz "deit'aqui!". Eu tenho uma facilidade decadente em obedecer atos falhos.

Eu tenho preguiça até de dormir, de arrumar camatravesseiroedredon. Eu tenho preguiça de deitar, pra levantar seis, sete horas depois.

Eu ando meio monstro, acho que desde que nasci. É uma preguiça de ser gente que não me cabe, um desejo de rasgar essa gravata ou me enforcar com ela. Andar pelado, tudo que eu queria. Balançando essas coisas que não uso há tempos. Só de preguiça de me vestir.

Violinista

Ele tem um olhar que vai fundo e lento. E um cabelo que geralmente tapa-lhe os olhos. Um carinho, meu amigo, que nem sei. Um talento, uma paciência. De um rir estranho e um sorrir divino. Ele sofre, ele chora e ele não cobra nada.

É que quando ele chegou eu nem esperava. Veio assim dizendo que tinha gostado de mim eu não sei porque. Ele é bonito, sim, ele é. E eu como bom mineiro nascido em Minas criado em Minas e vivido em Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Goiás desconfiei que ele fosse real de tudo. Um amigo, assim, de mãos abertas, que te parece? Pois me pareceu que não era possível. Mas é. Ele é.

Ele não julga e isso é incrível. Absolutamente nada. Eu quero aprender o mundo com ele, do jeito dele.

Ele toca violino. Só pra mim, às vezes.

Ele é místico, mago, bruxo.

Ele sou eu, só que do jeito certo.


P.S.: Somos obcecados por reticências...

11 agosto, 2008

Carência

Eu que nunca larguei ninguém, que nunca fiz questão de nada, que nunca quis ser amado. Eu que tão quase nada tive que não aquilo que me dei. Eu que sou sem ilusão e acho um tédio enorme em tudo que brilha. Eu que escrevo. Eu que sei.

Eu que amo descontroladamente, mas eu que não sei me dizer. Eu que choro escondido, mas alto pra que me escutem. Eu que grito na sombra. Eu que tenho medo do escuro.

Eu que não me encontro. Eu que não acho nada. Eu que preciso de colo.

Ipê

Eu pensei que jamais viria uma coisa fatidicamente amarela ser bonita, porque a cor... A cor é feia.

Mas o ipê me parece um ramo de flores gigante. Desses buquês de se matar uma mulher de paixão.

10 agosto, 2008

(sem título V)

Seu olho direito é maior que o esquerdo.
Acabei de reparar.

Mas assim, tão de perto, só me restou isso pra ver antes de fechar os olhos e te beijar.

(sem título IV)

Eu cresci ali, na barriga da minha mãe. Mas sempre fui semente do meu pai. Sempre fui o amor do meu pai. Sempre fui a cara do meu pai.


... e ele ainda me nasce mais um pouco quando acha que preciso ser mais gente.
Ao homem que nunca me pediu nada pra me fazer feliz. E sempre fez. O tanto que eu te amo não cabe em palavras. Não cabe sequer em mim.

08 agosto, 2008

Imprincípio

Eu seria capaz de qualquer coisa por você,
até você dizer que não me quer mais.

Eu poderia ser o que você quisesse,
Se bem que você nunca me quis mesmo...

Mais uma vez eu não sei o que fazer.
Mas com você na minha frente, tapando minha vista, era mais difícil.

Sempre foi desse jeito, mas costumava ser, ao menos, racional.
Normalmente eu sabia o que fazer.

Se me vir chorando, é mentira!
Estarei feliz enquanto você acreditar que é dor.

Minhas festas terão mais confete,
mais serpentina, menos alegria.

(Sem título III)

Se me fosse concedido ser mulher, eu seria, se pudesse escolher, baixa e gorda. Dessas baixas de menos de 1,60m. Dessas gordas de mais de 80 kg. E queria ter bonitos cabelos, bem negros, ainda que pintados, pra que não desse muito trabalho e eu pudesse me concentrar em outras coisas de ser mulher. Certeza de que ia querer usar óculos de uma miopia bem forte que me impedisse de retirá-los, que não para dormir ou tomar banhos. Naturalmente com um ar intelectual, me parece que eu seria interessante. Um queixo gordinho, que acompanhasse minhas formas redondas e levemente jogado para a frente formando uma bolinha. Grandes bochechas. Grande boca. Enorme mania de faser poses mandando beijo. Um doce eu seria. Seria branca, não por preconceito, mas que se fosse caso de ter cicatrizes, estrias ou celulites, que elas fossem aparentes e me incomodassem. E teria sardas pelo nariz, levemente empinado. Grandes seios, porque acho curioso. Talvez tivesse mãos pequenas, talvez roesse unhas. Olhos castanhos, pernas roliças. E um pé, sei lá, bonitinho...

07 agosto, 2008

Família

É uma família tão grande que todos na sala se esbarram, quando é caso de reunião. Fatidicamente e desde que me entendo por gente, antes do almoço é sempre muito triste com orações que lembram os que morreram e fazem meia dúzia chorar. Tudo bem... meia dúzia não é nem um terço, o restante permanece inerte.
Já ouve balanço, houve época em que a varanda era grande o suficiente pra que todos jogassem rouba-bandeira. É verdade que, nessa época, "todos" não era tanta gente assim.
No meio de toda a área de fora houve um portão azul que separava os fundos da frente e era sempre muito divertido dividir a casa por ele. E andar pelas paredes num degrau que existe por volta da casa, segurando pelas janelas. Sempre houve/há/haverá angu no chão para os passarinhos. Ainda é divertido brincar de esconde-esconde. A sala de televisão tem um armário que guarda livros, charadas, ilusões de ótica e, ultimamente, muitos pernilongos.
Muitas fotos pela casa.
Alguns ainda acham o pé de jambo um desafio. Um desafio menor, posto que as pernas e braços cresceram bem desde que a mania de subir nas coisas começou.
E não é uma casa. É um abrigo, como os que as famílias boas e bonitas tem.
Já houve época em que o pé-de-beijo era cheio de lagartas e eu, muito medrosamente, evitava passar por baixo. Já houve época de sermos amigos de uns e indiferentes a outros. Mas é gente demais pra se amar, então nunca foi o caso. Hoje, o que sei é que sou amigo de poucos, acho a maioria indiferente, e não suporto alguns.

Mas o carteado une ideais.

A(à) Ana Maria

___________________também a Luiz Felipe, o Leal.



Se me perguntarem quem é Ana Maria, eu direi: "Ela é a bailarina que não me deixa dormir".

Não, ela não é minha esposa, amante ou namorada. Não que eu não tenha tentado. Veja bem, sou um conquistador fracassado, dos piores que já se viu.
Ana Maria não é minha irmã.
Ana Maria não é uma vizinha.
Mas se ela é companheira, isso sim! Me diverte com tantas bobagens quantas sejam possíveis num espaço mínimo de hora, sempre suave, respeitosa. E é linda.

Quando ela liga, me enche de uma alegria de criança que ganha presentes fora da data. E quando a vejo fico como idiota aguardando que ela me mande beijos que não sabe mandar.

Ana Maria, poeticamente falando, é feia como um pato desajeitado. E desajeitada como um pato feio. Mas bela e bochechuda. Penso até que nem existe.

Com certeza que Ana Maria existe. Mas é um mistério, sobretudo, pra mim que a conheço.

06 agosto, 2008

Ultima esperança de ode a Ana Maria

Aquela cabeça escorada cheia de esquilos.
É assim Ana Maria.
Uma criança de abraço, uma mãe de palavras.
E é porque nesse tempo que não fomos nada um para o outro que ela me aparece mais princesa.
Eu cada vez menos merecedor.

Acho que ando nostálgico. Acho que a culpa é dela.

Outra ode a Ana Maria

Quanta inquietação por causa de Ana Maria.

Como explicá-la que ela não é vazia? Ó meu deus!

E como é que pode, como é que poderia? (Se até os olhos de Ana Maria me gritam!)

E vejam só: Ana Maria descobriu um furinho no queixo.
Se de noite não me resta mais nada, vou eu pensar em Ana Maria pra tentar dormir. Mas Ana Maria roda vestida de xadrez nos meus sonhos. Ô inferno, vai deitar, menina! E pára de bailar louquinha na minha cabeça.
E essa droga de menina, quando vai parar? Não se entristeça, Ana Maria, porque a vida é assim. Ela sempre foi melhor num passado. E no passado anterior ao passado foi ainda melhor. O futuro é só esperança. Quando o presente for passado do futuro ele vai ser melhor do que o futuro. Fatalmente.
Tomara que morra sem saber francês. Não, Ana Maria. Você já é demais.

01 agosto, 2008

Epístola

Ao passo que o mundo confronta-se conspira contra mim
Presumo instantaneamente rapidamente velozmente
Que por essas redondezas adjacências arrabaldes arredores cercanias circunvizinhanças confins contigüidades contornos imediações proximidades subúrbios
Estratosféricos mundiais universais
Não há possibilidade de continuar insistir perseverar persistir prosseguir
Nesta inútil imprecisa baldada vida

Mas no entanto porém,
Eu o filho de meu pai o degas
Que conheço a veracidade veridicidade verdade realidade
De todos os fatos acontecimentos relatos sucessão
Desejo ambiciono apeteço aspiro cobiço pretendo anelo
Estrelas...

Valsinha aborrecida de amor

A partir dessa noite
Eu te amo como nunca amei
Eu te quero como nunca quis
E você faz o que bem quiser.

Só porque a partir de hoje
Só você vai me contemplar
Com seus versos, amores, canções,
Nas lembranças e recordações.

A partir deste dia
Eu não sou de nenhum outro alguém
Desejo-te como a ninguém
E te faço feliz

A partir desta data
Eu não vou mais embora
E a partir dessa hora
Eu não saio daqui.

15 julho, 2008

(Sem título II)

Eu te desenho nas palavras que conheço
E completa, mesmo no meu vocabulário pobre.
Seus contornos são os desenhos que fazem minhas letras
e meus pensamentos se tornam devassos quando te escrevo.
Você é meu romance predileto.
Seus olhos são minha pontuação.
Eu amo as palavras que sua língua profere enquanto me beija longamente.
Eu te desenhos com palavras.
Eu tento em vão escrever teu calor na folha fria.
Sua voz é só verbo, só fazer dentro de mim.
Seu dom é me fazer assim, uma página em branco.

12 julho, 2008

Terceiro Devaneio de Caderno

Se quieres de mi solamente el incontestable, no me haga preguntas;
míreme.

Hay verdades que no puedo evitar.

Segundo Devaneio de Caderno

Eu moro na casa que construi com tijolos de barro feitos a mão.
Tijolos deitados.
Tijolos cansados de carregar obras.

Eu moro na casa verde
e grades amarelas a cercam.
Portas e janelas feitas de madeira nobre
- madeira de não sei qual nome -
e o chão de terra batida.

Uma escada que desce para lugar nenhum.

Eu moro, exatamente,
no vão entre as paredes.

11 julho, 2008

Primeiro Devaneio de Caderno

Nos meus sonhos
(impérios flamejantes)
queima, hoje, a privação da chuva,
queima, hoje, a danação da seca,
queima o solo esturricado,
queima o vento.

Nos meus levianos sonhos
ardem as pontas das velas
ardem a solidão e o sofrimento
ardem os gritos da masmorra
(no meu porão incendiado).

Os meus sonhos
- desculpe-me -
não são feitos de possibilidades.

Nas minhas indagações existem delírios

Nos meus sonhos
- e só neles -
sonham os cavalos com verbos mais eficazes.

10 julho, 2008

(Sem título I)

Quando eu te conheci
eu era tão Rock'n'Roll e você,
Bossa Nova.
Você tão suave.
Eu tão intensamente apaixonada pela idéia de não me apaixonar.
Você tão tímido, quase sublime.
Eu tão sem vergonha.

Mas isso é um detalhe que o tempo tratou de apagar.

Não fosse a atitude,
nem gosto de rock e você,
meu amor,
nem sabe o que é bossa.

09 julho, 2008

Vaidade de um corpo sem alma

Eu temo essa verdade
Como temo todas as facilidades
Temo, à partir de hoje, todos os prazeres
Temo toda a biologia, a concepção
O calor e o frio, embora jamais tendo acreditado, temo-os
Temo essa quente e teimosa lágrima que cai
Insistente como um cadáver
Levada por essa gravidade injusta
Meu abismo livre permite que minhas pedras caiam pesadas e obedientes
Meu drama me envolve

Alguém me perdoe pelo que vou fazer
Ainda que esse segredo morra junto com meus pesadelos.



08 julho, 2008

Uma Ode a Ana Maria

Ana Maria tem belos olhos. Mas está sempre olhando para o lado, procurando qualquer coisa que não sei. E seja lá o que Ana Maria procura, guarda só pra ela.
E quando Ana Maria não está olhando para os lados, ela te olha nos olhos, e te petrifica. Não é olhar de medusa, mas um olhar de sabores que você nunca experimentou.
Ana Maria tem estrelas nos cabelos. Seja lá qual for a cor do cabelo de Ana Maria. Elas sempre cintilam, chamando atenção por onde Ana Maria passa. E Ana Maria brilha. Não só o cabelo, mas Ana Maria é um brilho só. É uma ponta de brilho que entra nos olhos e sai pela boca um raio de sol.
Ana Maria é linda quando roda! E purpurinas esvoaçam essa cena. Onde Ana Maria está é sempre palco.
Ana Maria tira foto até dos pés. Mas que lindos pés tem Ana Maria! E tamanha transparência tem sua carne que Ana Maria se confunde ao ar. E quase voa, ventasse um pouquinho mais forte.