Olhos fechados, ela e ele.
Mas só depois que ambos se olharam ternamente e pareceu-lhes sensato que o toque fosse logo e que somente conseguiriam sentir o toque do outro quando fechassem os olhos (posto que a imagem que viam era profundamente perturbadora e a mente não poderia, ainda que quisesse, ocupar-se de outro sentido).
Sincrônicas, mãos se tocaram. E como que se de olhos abertos, dedos percorreram dedos e curvas e braços. Arrepios.
Ela, delicada, subiu a mão esquerda pelo antebraço, bíceps, ombro, até as costas, onde cravou-lhe as unhas. Desfez-se da pressão enquanto descia-lhe a lateral do abdômen, depois subiu os dedos levemente até o tórax, onde encontrou seu par direito.
Ele, ardente, subiu-lhe o braço direito pelo mesmo caminho, até os ombros. Depois, encaixou a mão em sua nuca e prendeu os dedos entre os cabelos, enquanto a mão destra apertava-lhe o ventre contra o seu.
Ofereceram-se em banquete, cada qual pela fartura do outro. Engoliram-se de tesão, mastigaram-se mutuamente. Comungaram-se. Cada vez mais força, mais desejo. Beijaram-se infinitamente naquele instante: ávidos, ansiosos, famintos.
Saciaram-se, mas então foi a gula. E não mais de fome se consumiam: a necessidade era do paladar. Seguiram - como até agora estão - beijando-se.
Olhos fechados, eu e você.
Um comentário:
Certa vez escrevi isto: Vou te comendo com os olhos, em doses homeopáticas para não te devorar de uma vez.
E vi uma cena de amor, daqueles selvagens que almejamos ter um dia
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