Sobre como é
Passo horas arriscando uma declaração honesta, mas ainda suficientemente intricada de forma que você não me entenda de maneira alguma e eu, mesmo me revelando, permaneça em segredo. Ou talvez o medo esteja em esconder minhas intenções tão nobres em construções demasiado simplistas. Tudo porque um dia eu te vi pela primeira vez e nunca mais meus olhos viram outra coisa.
Suave. É assim. Ainda pra mim que não sou dada a sutilezas admito que te amar é assim, suave. Como quando meus dedos passeiam pelo seu peito e assinam o nosso nome, tatuando, mentalmente, a promessa de amor mais sensível. Ou quando você perde algum tempo me olhando nos olhos através dos meus óculos, buscando a simetria da minha íris. Quando sussurra. Despretensioso amor.
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Quando eu, chegada sabe-se lá de onde, pousada no galho mais alto, te avistei – borboleta – mais que mil estrelas vi passear diante de mim antes que todos os brilhos vindos de seus olhos me cegassem pra sempre. Sou, desde então, tão sua que nem mais em mim penso, que nem mais a mim desejo que não para que tu me queiras também, tão bem.
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Se eu fecho os olhos, me lembro ainda da última vez: seus lábios sempre me tocam mornos e me tateiam o ventre precisamente onde os desejos se escondem. De lá, já me consomem arrepios e sua alma soberba, consciente, ainda me provoca com pequenas confidências menos importantes.
E vai-se toda nossa paz quando me afasto e escuto você maldizendo nosso amor, acusando-me de te abandonar novamente. Eu rio de você e do quanto você não entende a minha angústia. Distantes, somos capazes de discutir sobre o futuro de nossa relação sem futuro e argumentar, ambos, em favor de um adeus definitivo. Juntos somos apenas nós e o eterno. Eu entendo.
Somos, antes de tudo, grandes em nosso amor. Tão grande que chega a ser dubitável. Tão grande que não se pode negar. Por egoísmo, esse amor me faz bem, em parte, porque eu sou única para aquele que é único pra mim. Eu sei que não poderia te abandonar, ainda que quisesse: foi meu dia mais feliz quando nasceu em mim a tua necessidade.
Grata aos amigos Rebeca e Jota Cê pelo convite. Foi um prazer. Por uma feliz coincidência, esse é meu 150º post.