17 maio, 2011

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Aquele traço marcado...
                                  o que é?

Foi um risco que se perdeu da tinta.
Foi o corpo que faleceu no ar.
Foi o vazio de ver tudo círculo
               e não poder discutir a forma.
Foi o resto perdido no branco.

Aquela marca azul,
                                  o que é?

É uma linha entre o campo e o céu,
                           o céu e o mar.
É uma mancha no mar.

Tudo cabe dizer e tudo pode ser dito:
que é esboço, linha, lance, sinal, vestígio.
Que é rastro.
É um erro sobre o texto,
um pedaço de mágoa no inteiro,
imperceptível,
                     pequeno e mudo,
cômodo, triste.

Sem argumento.
Apoético.

13 maio, 2011

Ultrapasso

Não estão no caminho feito
os passos dados.
Não há vestígio dos pés, daquilo que foram.

O conforto está em esquecer o caminho, em não mais provar o desgosto da areia fina entre os dedos. Porque isso já foi.

Os passos adiantes são sempre como o primeiro e não hão de sofrer o desastre o peso a miséria e angústia de proceder os passos que já foram.

Começar e prosseguir; e o progresso, o próximo passo, é também o primeiro.

Passado, os passos se foram.
Foram, não mais outros serão.
Serão, mas não mais os mesmos.

08 maio, 2011

(sem título XXIII)

Ouçamos a madrugada,
o que ela traz,
o que ela espera.
Sejamos a madrugada, ou antes!

Sejamos a noite dos becos.
Sejamos, depois, madrugada.