24 janeiro, 2009

Lento (marta)

Buscando o topo e a base. Eu quero estar em todos os lugares, falando com todas as pessoas. Depende, na verdade, de não acreditar na minha miudeza diante de tudo. Tudo. A cama anda fria e os armários espaçosos. A casa é só minha. E eu não sou ninguém.

Quantos dias faltam, ou sobram? Matam as horas, ou morrem no parapeito dos dias. As horas iguais, morrem nada: se esticam. Dias doem.

13 janeiro, 2009

Fosse eu.

Soubesse eu falar, amigo, diria das minhas angústias. Mas se não sei, espero que doa desesperadamente, até que grite em meus olhos a solidão. E quão doloroso será esperar, amigo, para quem já tanto sofreu. Quando voltas? Quando vens?

Há tanto e tanto que eu não posso explicar. As esperanças não faltam, mas gotejam inutilmente nesse coração inerte. Nem bate o peito diante da vida, nem pulsa a vida diante de mim.

Já se foi o tempo das varandas, o cheiro dos porões e dos assoalhos mofados. Partimos por caminhos tão diversos, nos espalhamos, nos dissipamos, nos perdemos. Nem a mesma língua falamos e os gestos não mais se encaixam. Nem conhecidos somos mais.

Pois, amigo, eu vi a lua. Ainda se esconde e me inspira devaneios. Mas vejo sempre na lua o meu reflexo disforme. A lua está sozinha. A lua está minguando.

(sem título XII)

Eu passaria a vida diante de uma janela, vendo as pessoas viverem. Eu mesma não preciso dessa vida, o que era de ser meu já é, já foi. É que a dor às vezes é um fardo que eu simplesmente me recuso a carregar, eu sequer tento. Não acho bom ser assim tão amarga, mas eu não tenho nem quem possa reclamar de mim. É um ou outro piedoso amigo que me liga meados da semana buscando notícias ou um ouvido compreensivo, mas dizer da minha dor eu não sei mais.

12 janeiro, 2009

Pedaço

Notei nas fotos que seu sorriso nunca é completo. Completa, aliás, só estás longe de mim. Eu te mordo e te devoro um pedaço cada vez maior.