Nas horas
Nós três
Nos achamos:
eu que fui
eu que sou
eu que for
Nossos pés desapareciam sob a densa areia
e não víamos os passos
e não nos conhecíamos
porque nossos desejos eram outros que não os mesmos
Nos olhamos estranhos,
tão amedrontados pelo reflexo magnífico do outro
no espelho desfigurado do eu.
- Quando não existe mais ninguém além de si mesmo para questionar o que é dito
ou visto,
ou você se alegra de ser a mais bem aceita criatura
ou chora por não ter nada a dividir.
E antes que acordasse
os nós engoliram-se inteiros
sem que eu soubesse quem sobreviveu ao sonho.
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19 novembro, 2010
29 outubro, 2010
Do céu que há ao céu que entra
Não há como interpretar o azul
sem crer que haja sobre nós
um grande véu que se desfia
e nos descobre pela noite.
Pois não é azul o céu,
é infinito colorido.
Como não há céu-mar, lua-peixe,
nuvem-bóia, estrela-gente.
Não importa o que se vê,
mas o infinito que o olho não alcança.
O céu se veste de azul
e revela-se nu mais adiante.
Não há no homem infinitos
nem plenitude que, no infinito, caiba.
Há no homem a conta de tudo:
o tempo e o céu, explica-os, equivocado.
Mas há céu? É certo que há.
Há um imensurável céu
e vida, de possibilidades sem fim.
Um céu que entra no primeiro suspirar.
Ao que contempla, deslumbre;
contando estrelas, possível fosse.
Do céu que entra não sabe o homem:
um buraco negro lhe engoliu a vida.
Não é céu azul o que permeia dentro
tampouco o céu que regressa eterno.
No homem, olhos fixos e corpo firme;
e dentro, toda natureza de explosões.
Não é azul o céu, não tem matizes
mas azul é visto e nomeado.
Assim, ilimitado, é o ser que o abriga
enquando crê-se finito na pele.
sem crer que haja sobre nós
um grande véu que se desfia
e nos descobre pela noite.
Pois não é azul o céu,
é infinito colorido.
Como não há céu-mar, lua-peixe,
nuvem-bóia, estrela-gente.
Não importa o que se vê,
mas o infinito que o olho não alcança.
O céu se veste de azul
e revela-se nu mais adiante.
Não há no homem infinitos
nem plenitude que, no infinito, caiba.
Há no homem a conta de tudo:
o tempo e o céu, explica-os, equivocado.
Mas há céu? É certo que há.
Há um imensurável céu
e vida, de possibilidades sem fim.
Um céu que entra no primeiro suspirar.
Ao que contempla, deslumbre;
contando estrelas, possível fosse.
Do céu que entra não sabe o homem:
um buraco negro lhe engoliu a vida.
Não é céu azul o que permeia dentro
tampouco o céu que regressa eterno.
No homem, olhos fixos e corpo firme;
e dentro, toda natureza de explosões.
Não é azul o céu, não tem matizes
mas azul é visto e nomeado.
Assim, ilimitado, é o ser que o abriga
enquando crê-se finito na pele.
25 junho, 2010
Enganatriz I (ou Ces't moi)
Toda ela é um equívoco
moldada de podre afeto.
Pobre dela que se conhece
que sabe quem é, que convive consigo.
Pobre dela que dorme e que sonha
e que só dela fala, só ela vê, só dela lembra.
É toda ela um esquivo capricho.
Fraudulenta vida, escamoteadora de si.
E tudo nela é soberba, exagero.
É uma mentira maqueada. De mentira.
Não há de ser grande nem em delírio!
- disso sabendo, põe-se a morrer.
E afoga-se nas inconvenientes bobagens que diz.
Mais uma vez chora.
Mais uma vez chora.
Silêncio.
Quando cala-se, percebe o pulso.
Não morre, não morre.
Mais uma vez chora.
Mais uma vez chora.
moldada de podre afeto.
Pobre dela que se conhece
que sabe quem é, que convive consigo.
Pobre dela que dorme e que sonha
e que só dela fala, só ela vê, só dela lembra.
É toda ela um esquivo capricho.
Fraudulenta vida, escamoteadora de si.
E tudo nela é soberba, exagero.
É uma mentira maqueada. De mentira.
Não há de ser grande nem em delírio!
- disso sabendo, põe-se a morrer.
E afoga-se nas inconvenientes bobagens que diz.
Mais uma vez chora.
Mais uma vez chora.
Silêncio.
Quando cala-se, percebe o pulso.
Não morre, não morre.
Mais uma vez chora.
Mais uma vez chora.
26 maio, 2010
Eis-me aqui
Por conta d'água que me trouxe e fez de mim sonoro passo;
por conta d'ele que me amou mais agora do que antes;
por tanta conta feita e abraço dado sem tamanho;
por tanto aperto bobo e, agora, dia livre;
É por tanto tempo juntos sem estarmos de mãos dadas
e porque agora entendo de onde surgiu esse amor;
por cada dia triste e alegre que virá, que seja;
por ter, agora, o que celebrar no peito:
Eis-me aqui em repleta paz por existir, mas não apenas!
Eis-me assim pelo que sou nos olhos outros,
pela aura brilhante com a qual me sinto,
por poder o que quer que seja. E será.
Por tanto ensaio do que já é feito, por tanto medo de fazer;
por tanto engano e, agora, acerto; por entender;
porque sei agora de onde vêm as culpas:
Eis-me aqui pronta, plena e feliz.
por conta d'ele que me amou mais agora do que antes;
por tanta conta feita e abraço dado sem tamanho;
por tanto aperto bobo e, agora, dia livre;
É por tanto tempo juntos sem estarmos de mãos dadas
e porque agora entendo de onde surgiu esse amor;
por cada dia triste e alegre que virá, que seja;
por ter, agora, o que celebrar no peito:
Eis-me aqui em repleta paz por existir, mas não apenas!
Eis-me assim pelo que sou nos olhos outros,
pela aura brilhante com a qual me sinto,
por poder o que quer que seja. E será.
Por tanto ensaio do que já é feito, por tanto medo de fazer;
por tanto engano e, agora, acerto; por entender;
porque sei agora de onde vêm as culpas:
Eis-me aqui pronta, plena e feliz.
06 maio, 2010
Sobre a brisa, o que eu digo
Acordou à beira mar - já era dia!
Era a brisa aliviando a areia quente.
Qual sonho era este que ora vivia?
E que peça lhe pregara sua mente?
Sobre a brisa, o que eu digo é que ela foi
e o vento nem mais veio beijar-me.
Foi na brisa minha inconstante paz
e eu sinto falta agora, mais que tudo.
Dois pedaços de fundo de rio.
Duas poças de lama barrenta.
Dois olhos castanhos, cor de terra.
Duas janelas com vista para a montanha.
Sobre a brisa, o que eu digo faz sentido:
ela é minha. Ela vai, mas sempre volta.
Haverá um dia em que eu irei distante
e não mais terei olhos de esperança.
Duas superfícies claras de rio doce.
Duas esmeraldas cravejadas em pele.
Dois olhos verdes, cor de botão de lírio.
Duas janelas com vista para o céu.
Ainda sobre a brisa, não mais importa:
agora ventam em mim outros ventos.
Mas está em mim jamais ter asas
e só voar em pensamento, sozinha.
16 abril, 2010
Da dor de agora
O amor que eu desejo
toma a forma que necessito:
é confortável seu colo quando dele preciso;
é quente seu corpo quando meu eu é frio;
é forte seu braço se quero que me erga;
é fraco seu ego quando preciso que precise de mim;
é amigo seu ouvido, se me sobram desabafos;
é amante seu todo, se eu toda sou carente.
Só não é meu,
meu amor,
em tempo algum do mundo.
Sigo desejando,
angustiada,
que algum dia eu morra dele.
toma a forma que necessito:
é confortável seu colo quando dele preciso;
é quente seu corpo quando meu eu é frio;
é forte seu braço se quero que me erga;
é fraco seu ego quando preciso que precise de mim;
é amigo seu ouvido, se me sobram desabafos;
é amante seu todo, se eu toda sou carente.
Só não é meu,
meu amor,
em tempo algum do mundo.
Sigo desejando,
angustiada,
que algum dia eu morra dele.
23 fevereiro, 2010
O porquê de estar
Sobre suas confissões
- devo confessar -
agradeço mais quando tu te deprimes
que quando sua voz se exalta
e mal cabe em ti teu segredo.
São as horas,
agora,
que atravessam sua chegada.
Quando percebo,
não mais te vejo no navio que partiu.
Não vejo o navio.
O horizonte,
antes linha,
desafia, sem mérito, a fronteira do mar
quando chega a noite.
E chegas assim,
úmida de sereno em qualquer noite que queiras,
sem o ranger de portas ou o ladrar de cães,
a ventar baixinho em meus sonhos
evitando acordar-me.
Mas brilha qualquer luz quando tu te aproximas
que mesmo meu corpo cansado
se ergue a buscar teu hálito.
E teu beijo me acompanha enquanto estás.
Quando falta,
não sei bem que nome se dá,
é a angústia quem morde-me e desperta-me.
Sobre minhas confissões
- isso é certo -
não sei porque sempre estás
e nunca és.
- devo confessar -
agradeço mais quando tu te deprimes
que quando sua voz se exalta
e mal cabe em ti teu segredo.
São as horas,
agora,
que atravessam sua chegada.
Quando percebo,
não mais te vejo no navio que partiu.
Não vejo o navio.
O horizonte,
antes linha,
desafia, sem mérito, a fronteira do mar
quando chega a noite.
E chegas assim,
úmida de sereno em qualquer noite que queiras,
sem o ranger de portas ou o ladrar de cães,
a ventar baixinho em meus sonhos
evitando acordar-me.
Mas brilha qualquer luz quando tu te aproximas
que mesmo meu corpo cansado
se ergue a buscar teu hálito.
E teu beijo me acompanha enquanto estás.
Quando falta,
não sei bem que nome se dá,
é a angústia quem morde-me e desperta-me.
Sobre minhas confissões
- isso é certo -
não sei porque sempre estás
e nunca és.
31 dezembro, 2009
Feliz Vida Nova!
O rompimento de barreiras que se dá juntamente com a "passagem de ano" é somente uma ilusão de contagem daquilo que é incontável: o infinito linear do tempo. Mas é quando dormimos que o tempo nos escapa e segundos se alongam em horas, os ponteiros voltam, param e avançam ao mais distante futuro. Quando vigiamos o tempo, no entanto, e prendemos sua continuidade em voltas infinitas do relógio, ele se aprisiona no ciclo, e nós com ele.
Pois se há algo que eu desejo é que não acreditemos no relógio. Que nossas vidas não se prendam a um ciclo interminável e que não fiquemos fadados, no próximo ano, a cometer os mesmos acertos e erros. Que possamos decidir onde começa e onde termina um ciclo. E que saibamos abrir um novo. Que nós possamos começar a viver diferente, por exemplo, numa tarde de uma terça-feira nublada, sem que isso nos impeça só porque não é o primeiro dia do ano. Que sejamos felizes em nossas escolhas, mas que, se não formos, saibamos escolher melhor da próxima vez. Aliás, que além de bom juízo, tenhamos também sorte. Nossas escolhas dependem de nós, mas as consequências podem fugir ao nosso alcance. Que isso não nos abale mais que o necessário. Que seja fácil sorrir e que seja fácil receber sorrisos. Que possamos viver em paz!
Feliz Vida Nova! É o meu desejo pra nós!
04 outubro, 2009
Eu pensei que seria simples dizer
Simples seria não me dar ao trabalho de dizer eu te amo, ou de amar. Não fosse esta uma imposição da minha alma, eu já teria abandonado o ofício há muito tempo.
28 setembro, 2009
Noite
A noite fria começa ainda no sol violeta do fim da tarde,
quando começa a noite fria.
Percebo ainda que venta pouco e os minutos se arrastam até o breu.
As luzes se acendem, os bons se encondem, sobra eu.
Até que era uma noite fria, não muito fria, mas ventava e ventava frio quando eu adormeci. Em pouco tempo retornei a mim e, acordada, percebi que estava frio, mas era difícil ver, perceber as cores. Um só copo de absinto, açúcar, água. O contorno do copo simplesmente vazio, um gosto acre na boca, o corpo pesado, as palavras misturando e queda. Foi ao chão a embriaguez e todo o peso do insustentável. Dores submersas em gelo, cortes comprimidos por lenços. Mais tarde, banho. Sono. Sonho. Manhã.
quando começa a noite fria.
Percebo ainda que venta pouco e os minutos se arrastam até o breu.
As luzes se acendem, os bons se encondem, sobra eu.
Até que era uma noite fria, não muito fria, mas ventava e ventava frio quando eu adormeci. Em pouco tempo retornei a mim e, acordada, percebi que estava frio, mas era difícil ver, perceber as cores. Um só copo de absinto, açúcar, água. O contorno do copo simplesmente vazio, um gosto acre na boca, o corpo pesado, as palavras misturando e queda. Foi ao chão a embriaguez e todo o peso do insustentável. Dores submersas em gelo, cortes comprimidos por lenços. Mais tarde, banho. Sono. Sonho. Manhã.
18 setembro, 2009
(sem título XX)
(...)
pois me pedem o sublime, o intenso, o impossível - do verso concreto o mais palpável e do abstrato, o mais intangível. Na minha incompetência, exigem minha renúncia ("abandone as folhas, as canetas, os propósitos...") e no mais, não renuncio. Foram-se os dias que busquei compreensão. Sou ainda menos exigente comigo, que sou nada, e busco menos em mim que nos outros que me buscam. Se resta ainda a interrogação do objetivo que mesmo nada procura que não a própria intensidade, a própria lógica ou a própria consistência. E acabam esbarrando em mim quando encontram o mais sublime, intenso e impossível dos significados.
pois me pedem o sublime, o intenso, o impossível - do verso concreto o mais palpável e do abstrato, o mais intangível. Na minha incompetência, exigem minha renúncia ("abandone as folhas, as canetas, os propósitos...") e no mais, não renuncio. Foram-se os dias que busquei compreensão. Sou ainda menos exigente comigo, que sou nada, e busco menos em mim que nos outros que me buscam. Se resta ainda a interrogação do objetivo que mesmo nada procura que não a própria intensidade, a própria lógica ou a própria consistência. E acabam esbarrando em mim quando encontram o mais sublime, intenso e impossível dos significados.
21 agosto, 2009
angustiada. assim. perdida.
de todas as vidas que vivo
não sei se são vidas alheias
nem sei se são de fato vidas
ou se sou eu que vivo
ou se eu vivendo posso chamar cada vida de minha.
não sei se são vidas alheias
nem sei se são de fato vidas
ou se sou eu que vivo
ou se eu vivendo posso chamar cada vida de minha.
28 julho, 2009
A quem dedico
Quando eu preciso de um caminho ou de uma história ou de um conselho eu chamo alguém. Nem sempre o mesmo, nem sempre vem. Naquilo que lhes cabe, são compreensíveis e fingem admitir a minha razão. Naquilo que me cabe, admito a minha insanidade e inconsequência, se percebo, e até entendo a impaciência de alguns com minhas dores. É quando me esqueço do que me levou ao fim, ou o que me trouxe de volta, os beijos que me acordaram, os sonhos que morreram. E, antes, cega, me esqueço também das minhas dores de sempre, das dores que cessaram e foram substituídas por outras que doem mais.
Quando meus cabelos se desarrumam eu sinto falta da mão que pretende me consertar, me amansar n'um afago demorado como o dia. Tudo o que tenho, no entanto, é o vazio de nada ter, e nada poder partilhar que não minha angústia. Sofrem então meus queridos, que nem de mim gostam tanto assim, com meus desesperos solitários. Não será necessária mais que uma pequena parte de mim destruída para que todos os horrores da alma cessem e se transformem em belos ensinamentos de vidas, dos quais me orgulharei, futuramente.
Perdão aos meus amigos. Preciosos. A quem dedico.
26 julho, 2009
A menina que escrevia pela metade
Ela era só uma menina. Uma menina inteira.
Mas quando se dividiu e quando doeu, ficou meio triste. Comia por meia pessoa, dizia meias palavras, esboçava meios sorrisos. Escrevia pela metade.
Sua metade se foi. A metade de dentro.
Mas quando se dividiu e quando doeu, ficou meio triste. Comia por meia pessoa, dizia meias palavras, esboçava meios sorrisos. Escrevia pela metade.
Sua metade se foi. A metade de dentro.
24 julho, 2009
Prólogo do não-amor - parte I
Os dias de semana são relativamente calmos. Os espaços de tempo são todos milimetricamente ocupados com nada, eu sequer lembro de mim. Me lembro, às vezes, de você. Assim começo a entristecer e pensar que o amor é uma ótima ideia pra descartar. Te amar de fato, nunca me pareceu boa ideia e ainda não é. Ainda após passado algum tempo refletindo sobre isso, acho mesmo que o amor é desses sentimentos mais leves, ou nunca foi amor, ou nunca será. A doentia forma de te querer ultrapassou os limites do sublime e foi além, até o nada. E eu, que nada sei do amor, acho que não é amor.
Eu espero ainda que você entenda os meus motivos e não me julgue. Antes eu me culpei ainda por ter permitido que você se fosse, quando entendi que você jamais esteve. Eu percebo da forma mais linda, agora, que você jamais poderia ir sem sair de dentro de mim, que é onde está. Sendo assim, tudo o que me dói é não poder te perceber fora, quando dentro tu sofres apertado no meu deprimido coração. Eu não te amo. E ainda que o fizesse não seria tão espontaneamente a ponto dessa declaração voar como o vento. Mas aquela ponta da certeza apontada para o precipício me diz que somos enganadores de nós mesmos ao querer nomear as coisas por parâmetros existentes, sendo que aquilo que somos e sentimos só é sentido por nós, só existe em função um do outro. Ainda por uma questão de inexatidão, obrigo-me a adaptar o que sinto ao signo de outra diferente, outra já nomeada. Ou não nomeio, e encaro que toda essa reflexão é a fuga para não admitir o amor. Na hipótese do amor, é claro.
Eu espero ainda que você entenda os meus motivos e não me julgue. Antes eu me culpei ainda por ter permitido que você se fosse, quando entendi que você jamais esteve. Eu percebo da forma mais linda, agora, que você jamais poderia ir sem sair de dentro de mim, que é onde está. Sendo assim, tudo o que me dói é não poder te perceber fora, quando dentro tu sofres apertado no meu deprimido coração. Eu não te amo. E ainda que o fizesse não seria tão espontaneamente a ponto dessa declaração voar como o vento. Mas aquela ponta da certeza apontada para o precipício me diz que somos enganadores de nós mesmos ao querer nomear as coisas por parâmetros existentes, sendo que aquilo que somos e sentimos só é sentido por nós, só existe em função um do outro. Ainda por uma questão de inexatidão, obrigo-me a adaptar o que sinto ao signo de outra diferente, outra já nomeada. Ou não nomeio, e encaro que toda essa reflexão é a fuga para não admitir o amor. Na hipótese do amor, é claro.
17 junho, 2009
deliberação ao acaso sobre você, você.
É estranho pensar que sua lembrança de primeiro beijo, se houver, será o meu beijo. E que se for além, eu serei a primeira em tantas outras coisas para você. É, talvez, um peso que eu não queira carregar: ser, de alguma forma, sua Diotima.
12 junho, 2009
Sobre a sobrevida
Se é verdade que não temos tempo
e que eu não duro tanto mais nesta vida
eu devo me permitir te beijar sem culpa
- sem a culpa de alguém que viverá eternamente.
Se é verdade, porém, que há muito tempo,
mas que não importa - a morte é mesmo o fim -
eu, assim, devo me permitir te beijar sem culpa
porque após a morte só há o nada.
Se a verdade é que tenho tempo e ainda há mais:
existe culpa, julgamento e inferno
eu, então, devo me permitir te beijar sem culpa
porque tenho outros pecados piores, mais horrendos e menos perdoáveis.
Se, por fim, houver um deus decidido a me redimir
e é verdade que ele me ama apesar de tudo
eu, com certeza, devo me permitir te beijar sem culpa:
esse deus há de entender que te quero demais.
e que eu não duro tanto mais nesta vida
eu devo me permitir te beijar sem culpa
- sem a culpa de alguém que viverá eternamente.
Se é verdade, porém, que há muito tempo,
mas que não importa - a morte é mesmo o fim -
eu, assim, devo me permitir te beijar sem culpa
porque após a morte só há o nada.
Se a verdade é que tenho tempo e ainda há mais:
existe culpa, julgamento e inferno
eu, então, devo me permitir te beijar sem culpa
porque tenho outros pecados piores, mais horrendos e menos perdoáveis.
Se, por fim, houver um deus decidido a me redimir
e é verdade que ele me ama apesar de tudo
eu, com certeza, devo me permitir te beijar sem culpa:
esse deus há de entender que te quero demais.
09 junho, 2009
Eu não te quero parecer estranho quando entrelaço meus dedos aos seus
e me confessar demasiado triste por não te escolher.
Ou ainda confessar e,
ao confessar,
ser excessivo.
Te perder amiga e te perder mulher.
Eu prendo e aperto seus dedos.
Eu poderia - não mais agora - te permitir sair.
Eu escutei suas queixas e suas defesas e agora sei que não te posso abandonar,
ainda que não-fazê-lo seja o mesmo que me perder.
De maneira superficial, eu acredito, você supõe verdades a respeito da minha mentira
e limita sua compreensão ao que eu tento esconder,
ao meu tempo gasto admirando o nada
com o olhar perdido
admirando você em mim, dentro de mim.
e me confessar demasiado triste por não te escolher.
Ou ainda confessar e,
ao confessar,
ser excessivo.
Te perder amiga e te perder mulher.
Eu prendo e aperto seus dedos.
Eu poderia - não mais agora - te permitir sair.
Eu escutei suas queixas e suas defesas e agora sei que não te posso abandonar,
ainda que não-fazê-lo seja o mesmo que me perder.
De maneira superficial, eu acredito, você supõe verdades a respeito da minha mentira
e limita sua compreensão ao que eu tento esconder,
ao meu tempo gasto admirando o nada
com o olhar perdido
admirando você em mim, dentro de mim.
05 junho, 2009
Entre-meios de lidar com a perda
Eu não mereço o mar.
(Eu) sequer (mereço) beijos de brisa
- eu não mereço!
Não tenho metais ou pedras,
nenhum valor possuo que não o meu
que é bem pequeno.
Me espere acordar.
Eu ainda não preciso.
Jamais andei descalço
(com os pés carregando poeira).
Eu não deveria
- ninguém deveria -
te oferecer palavras menores que as suas.
Não conheço o prazer da neblina;
de tatuar, em mim, o arrepio;
sinto falta da desconhecida madrugada fria.
Só as letras me mergulham quando já me encontro afogado.
Acabou-se, nos detalhes, a exploração dos meus pedaços.
E penso,
ainda,
que
deverias saber que meu adeus é repleto de até logo.
São cinco ou seis estrelas sustentando meus pés, sustentando meu nada além de mim.
Serei sempre eu rasgando as malhas, rompendo a pele.
Deixar de esperar é ainda uma angústia maior.
Ainda morro
de tanta individualidade.
Eu me sinto mal por não saber lidar com gentilezas, por ser ingrata, por não ter um só bom sentimento, tendo tantos impulsos que me levem a ter. Me sinto mal quando a vida me é excessivamento gentil; quando não há perturbação, eu me perturbo. Em me sinto mal por ser eu, por não ser mais eu, por ser tão eu, por estar presa a mim, por ter me abandonado. Eu não posso continuar.
E penso,
ainda,
que
deverias saber que meu até logo é repleto de adeus.
(Eu) sequer (mereço) beijos de brisa
- eu não mereço!
Não tenho metais ou pedras,
nenhum valor possuo que não o meu
que é bem pequeno.
Me espere acordar.
Eu ainda não preciso.
Jamais andei descalço
(com os pés carregando poeira).
Eu não deveria
- ninguém deveria -
te oferecer palavras menores que as suas.
Não conheço o prazer da neblina;
de tatuar, em mim, o arrepio;
sinto falta da desconhecida madrugada fria.
Só as letras me mergulham quando já me encontro afogado.
Acabou-se, nos detalhes, a exploração dos meus pedaços.
E penso,
ainda,
que
deverias saber que meu adeus é repleto de até logo.
São cinco ou seis estrelas sustentando meus pés, sustentando meu nada além de mim.
Serei sempre eu rasgando as malhas, rompendo a pele.
Deixar de esperar é ainda uma angústia maior.
Ainda morro
de tanta individualidade.
Eu me sinto mal por não saber lidar com gentilezas, por ser ingrata, por não ter um só bom sentimento, tendo tantos impulsos que me levem a ter. Me sinto mal quando a vida me é excessivamento gentil; quando não há perturbação, eu me perturbo. Em me sinto mal por ser eu, por não ser mais eu, por ser tão eu, por estar presa a mim, por ter me abandonado. Eu não posso continuar.
E penso,
ainda,
que
deverias saber que meu até logo é repleto de adeus.
29 maio, 2009
Das perturbações
Quando me olha. (por que me olha? que procura? qual raridade ou estranheza busca nos meus olhos que deles não desvia?)
Quando rimos. (sempre pelos mesmos motivos, sempre sem motivo nenhum, pela sua inocência ou minha devassidão.)
Quando me beija. (é doce e pequeno e sublime e nobre. ou vira uma vontade imensa de te abraçar ou um desejo sem tamanho de te mostrar tantas coisas que imagino que queira aprender comigo. e me calo.)
Se me corrige. (eu não sei mesmo falar inglês. como se eu precisasse da sua ajuda.)
Se me elogia. (porque eu realmente não acredito em você.)
Se passa tempo demais segurando minhas mãos. (que medo que eu fuja ou me afaste, que intenção existe no calor do teu carinho?)
Se fala de coisas que não entendo. (precisava ser assim, tão melhor do que eu?)
Quando rimos. (sempre pelos mesmos motivos, sempre sem motivo nenhum, pela sua inocência ou minha devassidão.)
Quando me beija. (é doce e pequeno e sublime e nobre. ou vira uma vontade imensa de te abraçar ou um desejo sem tamanho de te mostrar tantas coisas que imagino que queira aprender comigo. e me calo.)
Se me corrige. (eu não sei mesmo falar inglês. como se eu precisasse da sua ajuda.)
Se me elogia. (porque eu realmente não acredito em você.)
Se passa tempo demais segurando minhas mãos. (que medo que eu fuja ou me afaste, que intenção existe no calor do teu carinho?)
Se fala de coisas que não entendo. (precisava ser assim, tão melhor do que eu?)
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