15 julho, 2008

(Sem título II)

Eu te desenho nas palavras que conheço
E completa, mesmo no meu vocabulário pobre.
Seus contornos são os desenhos que fazem minhas letras
e meus pensamentos se tornam devassos quando te escrevo.
Você é meu romance predileto.
Seus olhos são minha pontuação.
Eu amo as palavras que sua língua profere enquanto me beija longamente.
Eu te desenhos com palavras.
Eu tento em vão escrever teu calor na folha fria.
Sua voz é só verbo, só fazer dentro de mim.
Seu dom é me fazer assim, uma página em branco.

12 julho, 2008

Terceiro Devaneio de Caderno

Se quieres de mi solamente el incontestable, no me haga preguntas;
míreme.

Hay verdades que no puedo evitar.

Segundo Devaneio de Caderno

Eu moro na casa que construi com tijolos de barro feitos a mão.
Tijolos deitados.
Tijolos cansados de carregar obras.

Eu moro na casa verde
e grades amarelas a cercam.
Portas e janelas feitas de madeira nobre
- madeira de não sei qual nome -
e o chão de terra batida.

Uma escada que desce para lugar nenhum.

Eu moro, exatamente,
no vão entre as paredes.

11 julho, 2008

Primeiro Devaneio de Caderno

Nos meus sonhos
(impérios flamejantes)
queima, hoje, a privação da chuva,
queima, hoje, a danação da seca,
queima o solo esturricado,
queima o vento.

Nos meus levianos sonhos
ardem as pontas das velas
ardem a solidão e o sofrimento
ardem os gritos da masmorra
(no meu porão incendiado).

Os meus sonhos
- desculpe-me -
não são feitos de possibilidades.

Nas minhas indagações existem delírios

Nos meus sonhos
- e só neles -
sonham os cavalos com verbos mais eficazes.

10 julho, 2008

(Sem título I)

Quando eu te conheci
eu era tão Rock'n'Roll e você,
Bossa Nova.
Você tão suave.
Eu tão intensamente apaixonada pela idéia de não me apaixonar.
Você tão tímido, quase sublime.
Eu tão sem vergonha.

Mas isso é um detalhe que o tempo tratou de apagar.

Não fosse a atitude,
nem gosto de rock e você,
meu amor,
nem sabe o que é bossa.

09 julho, 2008

Vaidade de um corpo sem alma

Eu temo essa verdade
Como temo todas as facilidades
Temo, à partir de hoje, todos os prazeres
Temo toda a biologia, a concepção
O calor e o frio, embora jamais tendo acreditado, temo-os
Temo essa quente e teimosa lágrima que cai
Insistente como um cadáver
Levada por essa gravidade injusta
Meu abismo livre permite que minhas pedras caiam pesadas e obedientes
Meu drama me envolve

Alguém me perdoe pelo que vou fazer
Ainda que esse segredo morra junto com meus pesadelos.



08 julho, 2008

Uma Ode a Ana Maria

Ana Maria tem belos olhos. Mas está sempre olhando para o lado, procurando qualquer coisa que não sei. E seja lá o que Ana Maria procura, guarda só pra ela.
E quando Ana Maria não está olhando para os lados, ela te olha nos olhos, e te petrifica. Não é olhar de medusa, mas um olhar de sabores que você nunca experimentou.
Ana Maria tem estrelas nos cabelos. Seja lá qual for a cor do cabelo de Ana Maria. Elas sempre cintilam, chamando atenção por onde Ana Maria passa. E Ana Maria brilha. Não só o cabelo, mas Ana Maria é um brilho só. É uma ponta de brilho que entra nos olhos e sai pela boca um raio de sol.
Ana Maria é linda quando roda! E purpurinas esvoaçam essa cena. Onde Ana Maria está é sempre palco.
Ana Maria tira foto até dos pés. Mas que lindos pés tem Ana Maria! E tamanha transparência tem sua carne que Ana Maria se confunde ao ar. E quase voa, ventasse um pouquinho mais forte.