31 dezembro, 2009

Feliz Vida Nova!

O rompimento de barreiras que se dá juntamente com a "passagem de ano" é somente uma ilusão de contagem daquilo que é incontável: o infinito linear do tempo. Mas é quando dormimos que o tempo nos escapa e segundos se alongam em horas, os ponteiros voltam, param e avançam ao mais distante futuro. Quando vigiamos o tempo, no entanto, e prendemos sua continuidade em voltas infinitas do relógio, ele se aprisiona no ciclo, e nós com ele.


Pois se há algo que eu desejo é que não acreditemos no relógio. Que nossas vidas não se prendam a um ciclo interminável e que não fiquemos fadados, no próximo ano, a cometer os mesmos acertos e erros. Que possamos decidir onde começa e onde termina um ciclo. E que saibamos abrir um novo. Que nós possamos começar a viver diferente, por exemplo, numa tarde de uma terça-feira nublada, sem que isso nos impeça só porque não é o primeiro dia do ano. Que sejamos felizes em nossas escolhas, mas que, se não formos, saibamos escolher melhor da próxima vez. Aliás, que além de bom juízo, tenhamos também sorte. Nossas escolhas dependem de nós, mas as consequências podem fugir ao nosso alcance. Que isso não nos abale mais que o necessário. Que seja fácil sorrir e que seja fácil receber sorrisos. Que possamos viver em paz!


Feliz Vida Nova! É o meu desejo pra nós!

27 dezembro, 2009

Daquele que partiu.

     Sobre a mesa ficaram três livros. Mas ela não leu nenhum, não pretendia ler. Preferia que ele ficasse, sem livros, sem roupas, sem um motivo. Ele foi, no entanto,
                    completamente vestido,
                    tendo motivos
e
                    deixando livros.

     Porque ele foi embora, ela decidi também ir. A casa estava vazia, abusivamente. Pairava ainda o perfume dos casacos e o piso rangia sozinho, sob o peso do corpo que não mais pisava. Era costume. Não se estranharia que, pela noite, ela voltasse a cantar, como quando com ele, sentindo o calor que ele não mais deixava no quarto. Era costume.

     Ela decidiu ir, também. Deixou os livros para o próximo morador. Carregou somente as canetas, mas esqueceu-se de que precisaria do caderno. Aliás, lembrou-se do caderno mas, sendo presente dele, decidiu deixá-lo, como quem abandona um grande amor numa noite de chuva. Mas que bobagem: nem chovia!

     Cobriu-se com o vento e foi. Num bater de asas deixou a casa, ainda com a sensação de que ele lhe observava e que seus detalhes seriam esquecidos na inanidade. Voou e foi.

01 dezembro, 2009

BLOGAGEM COLETIVA

Muitíssimo obrigada a todos aqueles que contribuiram com a votação, àqueles que não votaram em mim, mas votaram em alguém, aos amigos e à Rebeca e Jota Cê pela oportunidade. Foi divertidíssimo, e (que ótimo!) ainda me rendeu um novo layout. Acho que teremos novidades em breve.

Por enquanto, só um fim de semestre arrasador que quase não me deixa pensar na minha casa. Vive às traças, pobre ela. Férias virão, e eu estarei de volta.

Até lá!

25 novembro, 2009

BLOGAGEM COLETIVA - VOTAÇÃO

No blog http://nectar-da-flor.blogspot.com/ está acontecendo a votação da BLOGAGEM COLETIVA que rolou ontem. Lá você confere o link de todos os participantes e vota, na barra lateral esquerda. A votação acontece até dia 30/11. CORRAM =D



Obrigada. Rebeca. Obrigada Jota Cê.

24 novembro, 2009

BLOGAGEM COLETIVA - Um conto de amor com cheiro de néctar de flor

Sobre como é

     Passo horas arriscando uma declaração honesta, mas ainda suficientemente intricada de forma que você não me entenda de maneira alguma e eu, mesmo me revelando, permaneça em segredo. Ou talvez o medo esteja em esconder minhas intenções tão nobres em construções demasiado simplistas. Tudo porque um dia eu te vi pela primeira vez e nunca mais meus olhos viram outra coisa.
     Suave. É assim. Ainda pra mim que não sou dada a sutilezas admito que te amar é assim, suave. Como quando meus dedos passeiam pelo seu peito e assinam o nosso nome, tatuando, mentalmente, a promessa de amor mais sensível. Ou quando você perde algum tempo me olhando nos olhos através dos meus óculos, buscando a simetria da minha íris. Quando sussurra. Despretensioso amor.
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     Quando eu, chegada sabe-se lá de onde, pousada no galho mais alto, te avistei – borboleta – mais que mil estrelas vi passear diante de mim antes que todos os brilhos vindos de seus olhos me cegassem pra sempre. Sou, desde então, tão sua que nem mais em mim penso, que nem mais a mim desejo que não para que tu me queiras também, tão bem.
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     Se eu fecho os olhos, me lembro ainda da última vez: seus lábios sempre me tocam mornos e me tateiam o ventre precisamente onde os desejos se escondem. De lá, já me consomem arrepios e sua alma soberba, consciente, ainda me provoca com pequenas confidências menos importantes.
     E vai-se toda nossa paz quando me afasto e escuto você maldizendo nosso amor, acusando-me de te abandonar novamente. Eu rio de você e do quanto você não entende a minha angústia. Distantes, somos capazes de discutir sobre o futuro de nossa relação sem futuro e argumentar, ambos, em favor de um adeus definitivo. Juntos somos apenas nós e o eterno. Eu entendo.
     Somos, antes de tudo, grandes em nosso amor. Tão grande que chega a ser dubitável. Tão grande que não se pode negar. Por egoísmo, esse amor me faz bem, em parte, porque eu sou única para aquele que é único pra mim. Eu sei que não poderia te abandonar, ainda que quisesse: foi meu dia mais feliz quando nasceu em mim a tua necessidade.



 
Grata aos amigos Rebeca e Jota Cê pelo convite. Foi um prazer. Por uma feliz coincidência, esse é meu 150º post.

08 novembro, 2009

Well...

Há uma semana, ou um pouquinho mais, conheci um blog bacana. Mas muito bacana. Não sei como anda o conceito de bacana fora do meu mundo, mas por aqui quando se diz que uma coisa é bacana ela é mais legal do que se fosse só legal. O blog em questão é o Néctar da Flor, da Rebeca e do Jota Cê. Além de mostrar um conteúdo leve (já disse que é bacana?), os dois são fofos demais e ainda mantêm outros três blogs onde, basicamente, se encontra mais amor. Um, inclusive, cheio de selinhos pra quem adora presentear os parceirinhos de blogosfera. E por falar em selo...


Esse foi o último produzido por eles - bacana, né? Como ando afastada dessa minha casa mas conto sempre com o cuidado daqueles que passam por aqui, gostaria de dedicar esse selo aos amigos que sempre me recebem bem, mesmo quando eu me afasto. Mesmo quando eu me afasto muito. Muito mesmo.
Então, esse vai pr'os amigos:



Acho que a vida que anda tão pesada, dias tão curtos, dias tão poucos, dias contados à espera do dia certo.
A intensidade dos dias me pesa nas costas, nos olhos, na cabeça. Aliviar, essa é a palavra.

E tem mais selo:



Diana me presenteou com esse compilado de selos. Como é caprichosa que só, criou as próprias regras que eu devo cumprir. Então:

- O que é uma verdadeira amizade pra você?

Aquela com a qual eu posso contar. Sempre.

- Alguns blogs te conquistam?
Claro que sim! Aqueles pra quem vou dar esse selo, por exemplo.

- Dez coisas que não saem da sua cabeça:
I'm a believer.
Chocolate.
Blog.
Dinheiro.
Saudade.
Férias.
Sono.
Beijo.
Carinho.
Pepinos e abacaxis.

- Complete cinco frases:

Eu já... tô cansada desse ano.
Eu nunca... cumpro minhas promessas.
Eu sei... que algumas coisas eu não posso fazer. Mas eu tento.
Eu quero... uma vida nova, mas fica pra ano que vem.
Eu sonho... depois acordo e vou trabalhar.

Essa brincadeira vai pra dois novos amigos: Palavra de Alice e Néctar de Flor

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That's all, folks!

26 outubro, 2009

'o asfalto' ou 'como esquecer da vida em uma manhã de segunda'

Não deveríamos esperar que os pés suportassem o asfalto quente ou que nossos caminhos se cruzassem no topo da montanha mais alta nem que cães entendessem o porquê das borboletas. Mas são assim as coisas e o asfalto é quente quando chove. Sobe o vapor dos dias intensos de sol, contorsem-se os pés aliviados de dor.

E tudo o que passou é tão vazio, não nos resta a lembrança. Eu espero ainda sobreviver.

25 outubro, 2009

Não sei como entender isso.

Coloquei-me a rabiscar linhas tortas sem tamanho sem compromisso sem motivo gastando meu caderno de folhas caras que só tem mesmo servido p'ra esse tipo de inutilidade gráfica quando ela virou-se e pôs-se a rabiscar meu caderno com linhas sem tamanho sem compromisso e sem motivo disposta a gastar grafite no meu caderno de folhas caras que só tem mesmo servido pra esse tipo de inutilidade gráfica.

Depois ela desenhou alguns corações para mim.

Lua, da lua, sobre a lua

Se olhar a lua verá:
são luzes que refletem, são sombras, são manchas.
Não, ela não vê e muito mais se interessam por ela que ela por qualquer coisa.
Ela não sabe.

Parece a lua, mas isso é sobre você e seu reflexo.

Mas se pedir, terá:
o tudo é possível para aquela que ilumina a noite.
Não, ela não nega e muito mais oferece que qualquer um a ela.
Ela não precisa.

Parece a lua, mas isso é sobre você e sua vontade.

23 outubro, 2009

"Da caixa vermelha e do que ela guarda" ou "Como me faz falta"

Na caixa vermelha me vieram perfumes e nela guardo coisas das quais não posso me desfazer. Guardo suas fotos e suas cartas. Guardo a ideia de que a vida foi mais digna quando éramos nós tão certas de nós; ou não éramos e não era preciso ser. Hoje - como é o mundo - só restou graça da nossa soberba e do nosso estado, que seria de espírito, se tivéssemos um. Ainda existe tanto vestígio daquele espaço e daquele contorno, tantos beijos. Tantas folhas, e nós no centro, às vezes só eu. E o palco, aquela brincadeira.

Minha caixa está cheia de cartas, fotos e lágrimas. Saudosa de um tempo não tão antigo assim, só distante. Distante, mas que não se perdeu. É possível recuperar meus desejos na sua voz ou nos seus convites; quando apagados, reflete nos meus olhos o brilho dos seus ao me ver. Entre nós é recíproco, mútuo e equivalente.

Ainda assim, distante. O tempo das cartas e dos segredos. Motivo para as declarações, os endeusamentos, as confissões. É verdade que jamais precisamos de razões ou causas para adorarmos-nos. É grande a saudade. E veja como agora eu vejo: ah! essa saudade já é uma dor.

Sequência

Eu vejo a cena acontecer lenta e em seus detalhes me carregar ao fim.
Os pés se movem enquanto os lábios calam.
Abre-se a boca ao firmar o pé no chão.

O pincel contorna as cores, mas
- bem -
isso não importa.
Eu ainda posso ver o amarelo fugir dos ângulos e escorrer pela tela.
Não importa,
não importa.

O contorno não importa.

Ela corre
- eu vejo a cena -
e, sem limite, grita.
Joga-se no vento, plana e pousa
Morre ao fim do dia, em casulo, a linda moça do cinema mudo.

04 outubro, 2009

Eu pensei que seria simples dizer

Simples seria não me dar ao trabalho de dizer eu te amo, ou de amar. Não fosse esta uma imposição da minha alma, eu já teria abandonado o ofício há muito tempo.

30 setembro, 2009

Selos =D

Diana, mais uma vez, me encheu de presentes de uma mão só: SELOS




Para tanto devo:

Definir meu blog em dez palavras:

- Simples
- Intenso
- Flutuante
- Avesso
- Perdido
- Distante
- Doce
- Escorregadio
- Aconchegante
- Meu.

E escrever dez características minhas:

- Soberba
- Teimosa
- Ansiosa
- Chata
- Irresponsável
- Compulsiva
- Mal-humorada
- Engraçada
- Determinada
- Explosiva.

E indicá-lo, obviamente, a "alguéns"...


- devolveria à Diana, mas simplesmente seria um ciclo interminável. Amo-te, nega.

29 setembro, 2009

Mãos dadas

Carlos Drummond de Andrade

Não serei o poeta de um mundo caduco.

Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

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Alguns poemas são, por essência, eternos. A eternidade, no entanto, não se justifica pela mão que os escreve, mas pela mente que o recorda. "Mãos dadas" era em mim um poema esquecido. Ao relê-lo, no entanto, me vieram à mente todos os meus amigos, inacreditavelmente unidos a mim, todos de mãos dadas.


Agradeço-os, pois me sinto abraçada.


Alana-Mariana-Diana-MariaHelena-Vitor-LuizFelipeLeal-Lúcia

28 setembro, 2009

Noite

A noite fria começa ainda no sol violeta do fim da tarde,
quando começa a noite fria.
Percebo ainda que venta pouco e os minutos se arrastam até o breu.

As luzes se acendem, os bons se encondem, sobra eu.

Até que era uma noite fria, não muito fria, mas ventava e ventava frio quando eu adormeci. Em pouco tempo retornei a mim e, acordada, percebi que estava frio, mas era difícil ver, perceber as cores. Um só copo de absinto, açúcar, água. O contorno do copo simplesmente vazio, um gosto acre na boca, o corpo pesado, as palavras misturando e queda. Foi ao chão a embriaguez e todo o peso do insustentável. Dores submersas em gelo, cortes comprimidos por lenços. Mais tarde, banho. Sono. Sonho. Manhã.

18 setembro, 2009

(sem título XX)

(...)

pois me pedem o sublime, o intenso, o impossível - do verso concreto o mais palpável e do abstrato, o mais intangível. Na minha incompetência, exigem minha renúncia ("abandone as folhas, as canetas, os propósitos...") e no mais, não renuncio. Foram-se os dias que busquei compreensão. Sou ainda menos exigente comigo, que sou nada, e busco menos em mim que nos outros que me buscam. Se resta ainda a interrogação do objetivo que mesmo nada procura que não a própria intensidade, a própria lógica ou a própria consistência. E acabam esbarrando em mim quando encontram o mais sublime, intenso e impossível dos significados.

Reuniões

O pedaço da pele que toca o chão determina o quanto do ser se realiza. Nunca é muito nem parece ser, mas quanto mais pesa no indivíduo seus sonhos, mais seus calcanhares doem por não suportar o desequilíbrio de suas proporções. É assim ao final do dia, quando os joelhos desejam dobrar-se; distribuir, pelo corpo, a carga.

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Talvez eu seja só parva
e do amor nada saiba
que não aquilo vivido.
Do amor: quanto vivi?
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Negar minha necessidade óbvia de atenção é força ou recalque?
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Amanheceu e a paz mais pura renasceu com o sol. É bem verdade que o sol não dormiu, tão ansioso quanto nós pela viagem - mas o que dizer? - e na minha manhã não se manifestaram mais os desgostos passados. Ardente, durou o bastante para que o azul se estendesse para além dos limites do horizonte. Os montes brancos brotavam da verde grama e atingiam, no topo, as nuvens pálidas, aquarelando a mata de orvalho. O sol atravessou a neblina. Era dia!
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Poderia ser outra, mas não seria minha pétala.

Adormece

Cada página merece uma satisfação sobre o nada que lhe é revelado, mas permanece ainda insatisfeita enquanto a mão, alerta, não realiza a palavra. Prevê que nada constará no papel que seja interessante. Adormece.

30 agosto, 2009

(sem título XIX)

Descobre na boca a melhor palavra, a mais doce, a mais bela, a mais leve - a impronunciável e rara palavra. Quando da garganta surge o sopro voluptuoso, repousa o desejo e os dedos sossegam. O corpo suspira, repousa enfraquecido pelas marcas de recentes feridas - o corpo que flui, o corpo que derrama no corpo. Quando sobrevivente e ainda completo, espera a resposta silenciosa da metade de atributos. Comprova, por fim, o último abandono do outro - o desmerecido outro - e adormece. Recupera no sono a alma perdida, dividida, compartilhada no orgasmo.

28 agosto, 2009

"Do fracasso" ou "Como realizar o texto impossível"

"Queria eu dizer em poemas o exato desespero que há em meus entretantos. É falho o meu desejo e fracasso amargamente. Por tantas vezes eu preferi dizer da maneira mais suave, sem o critério de impactar ou dar ao meu único leitor (único) a impressão correta de meus sentimentos. Mas é ainda uma questão se isso realmente importa, ou se a intencionalidade se perde aos olhos alheios.

(...)"

a outra ponta do novelo está aqui.

Deliberação ao acaso

Existem necessidades completas que só podem ser sanadas após a decisão definitiva de resolvê-las. O que necessita a vontade para realizar-se de fato se já foi determinado (e exigido) que tudo se dará da mais bela forma? A forma, e é este o problema, em sua origem é abstrata, completa, magistral. Bastaria que o pensamento fosse impresso para que não houvesse mais o que dizer. Seria possível eliminar as etapas do sofrimento no processo de escrita, anularia a labuta com o indecifrável signo, poria fim à querela com a vida. Cessaria a luta.

Mas que inferno é este chamado "preguiça"?

Belo Horizonte, de hoje para sempre, ou até nunca mais.

Já que precisa ser feito e, da forma como caminham as coisas entre nós, quem deve fazer sou eu, pretendo ser breve. Tamanho sofrimento já tem causado esse adiamento, você bem sabe do que estou falando. Pois bem, acabou.

Não chega a ser culpa sua, embora seja uma tentação sobrecarregá-lo e livrar minha duvidosa moral. De outra forma, preciso também ser sincera e lembrar que você não tem sido exatamente uma pessoa com a qual eu queira dividir algo. E eu não sou exatamente aquilo que você imagina de uma mulher. No final das contas a culpa é de ambos, ou podemos dizer que de nenhum de nós, tudo aconteceu cedo demais, da forma mais intensa e, também dessa forma, tudo se desgastou na mesma velocidade.

Eu te amo e não quero crer que o quanto você diz que me ama sejam só palavras. Você me ama, eu sei. Mas para que as coisas se acertem e que o foi eterno em nós possa permanecer agradável ao espírito, eu me permito ir.

Adeus.

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A brincadeira consiste em terminar um namoro por carta, estava louca pra que alguém me propusesse, e é claro que foi ela. Passo para Ana Maria, só pra ela, por uma simples curiosidade.

21 agosto, 2009

se você se apaixonar por mim, fugimos?

Que delícia seria conhecê-la e apresentar-lhe a fria Belo Horizonte dos meus olhos. Mas ainda quando à noite penso mais e mais, imagino diálogos possíveis de uma madrugada inteira com essa minha amiga de uma vida toda que é ela.

Sorri quando me olha e ainda declara infâmias pelo prazer de me arrancar um rosnado, mas ainda assim é doce, é linda. E na esperança de vê-la eu deito e caminho em sonhos até o seu leito, onde brindo o silêncio do seu sono com um beijo de boa noite.

angustiada. assim. perdida.

de todas as vidas que vivo
não sei se são vidas alheias
nem sei se são de fato vidas
ou se sou eu que vivo
ou se eu vivendo posso chamar cada vida de minha.

16 agosto, 2009

soberba, petulância e outra coisa que já me esqueci

Estávamos nós, confeitando nosso bolo, quando nos descobrimos maravilhosas demais para o mundo. E concordando que toda maioria é estúpida, cremos que não há nada de errado conosco, mas com a maior parte que não nos compreende. E dormimos em paz.

09 agosto, 2009

J'adore aussi

Diana, sempre Diana, me presenteou com mais uma delícia de selo. Dessa vez, a sofisticação foi tal que o selo veio en français:




E aqui é assim: p'ra ficar bonito, multiplicamos os presentes. Minhas adoráveis são:

Diana. Maria Helena. Thayane. Ana Maria. Clarinha Gomes. Remer. Gustavo. Elba. Boris. Eve.

adoro ventochocolatetravesseirolivrosbeijo nãonecessariamentenessaordem.

*para ver os outros selos que este blog já recebeu, clique aqui.

05 agosto, 2009

(lat speculu)

"O meu peito deseja e, estranho, persegue as palavras que faltam ao meu truncado sentido. No desassossego, acabei por entender a necessidade da vida/morte das coisas - eu mesmo me dividi em vários pedaços mortos/vivos pouco delimitados. Foi o inverno que trouxe o tempo; o excesso trouxe a maldita sensação de que sei das coisas: não há no mundo alguém mais obstinado em me pertencer que eu, alguém que pretenda mais conhecer-me que este indivíduo que me habita.

(...)"



ATRAVESSE O CORREDOR E CONTINUE LENDO AQUI.

28 julho, 2009

A quem dedico

Quando eu preciso de um caminho ou de uma história ou de um conselho eu chamo alguém. Nem sempre o mesmo, nem sempre vem. Naquilo que lhes cabe, são compreensíveis e fingem admitir a minha razão. Naquilo que me cabe, admito a minha insanidade e inconsequência, se percebo, e até entendo a impaciência de alguns com minhas dores. É quando me esqueço do que me levou ao fim, ou o que me trouxe de volta, os beijos que me acordaram, os sonhos que morreram. E, antes, cega, me esqueço também das minhas dores de sempre, das dores que cessaram e foram substituídas por outras que doem mais.

Quando meus cabelos se desarrumam eu sinto falta da mão que pretende me consertar, me amansar n'um afago demorado como o dia. Tudo o que tenho, no entanto, é o vazio de nada ter, e nada poder partilhar que não minha angústia. Sofrem então meus queridos, que nem de mim gostam tanto assim, com meus desesperos solitários. Não será necessária mais que uma pequena parte de mim destruída para que todos os horrores da alma cessem e se transformem em belos ensinamentos de vidas, dos quais me orgulharei, futuramente.

Perdão aos meus amigos. Preciosos. A quem dedico.

27 julho, 2009

Da janela.

Antes de dormir se olhou no espelho e penteou os cabelos como se houvesse um pretexto, como se precisasse. Sentiu frio e notou o balanço descompromissado da cortina. Era a janela. Andou, passos lerdos, abriu as cortinas, lá estava: janela escancarada. Cruzou os braços sobre o peito e cobriu os ombros com os dedos finos. A pele arrepiou. Olhou para o alto e não viu a lua. A varanda mal planejada cobria parte do céu e o que restava era encoberto pela altura dos edifícios ao redor. Não queria mesmo ver a lua.

Olhou então pelas inúmeras outras janelas que enxergava, procurando uma cena inusitada. Não encontrou nada, era tarde, que raios buscava nas janelas alheias? Agarrou as maçanetas das janelas, deu um suspiro sofrido e, enquanto cerrava os vidros, viu a janela bem em frente a sua se iluminar. Quem seria àquela hora? Quem, além dela, ainda não dormira naquela madrugada fria? Ninguém.

26 julho, 2009

A menina que escrevia pela metade

Ela era só uma menina. Uma menina inteira.

Mas quando se dividiu e quando doeu, ficou meio triste. Comia por meia pessoa, dizia meias palavras, esboçava meios sorrisos. Escrevia pela metade.

Sua metade se foi. A metade de dentro.

24 julho, 2009

Prólogo do não-amor - parte I

Os dias de semana são relativamente calmos. Os espaços de tempo são todos milimetricamente ocupados com nada, eu sequer lembro de mim. Me lembro, às vezes, de você. Assim começo a entristecer e pensar que o amor é uma ótima ideia pra descartar. Te amar de fato, nunca me pareceu boa ideia e ainda não é. Ainda após passado algum tempo refletindo sobre isso, acho mesmo que o amor é desses sentimentos mais leves, ou nunca foi amor, ou nunca será. A doentia forma de te querer ultrapassou os limites do sublime e foi além, até o nada. E eu, que nada sei do amor, acho que não é amor.

Eu espero ainda que você entenda os meus motivos e não me julgue. Antes eu me culpei ainda por ter permitido que você se fosse, quando entendi que você jamais esteve. Eu percebo da forma mais linda, agora, que você jamais poderia ir sem sair de dentro de mim, que é onde está. Sendo assim, tudo o que me dói é não poder te perceber fora, quando dentro tu sofres apertado no meu deprimido coração. Eu não te amo. E ainda que o fizesse não seria tão espontaneamente a ponto dessa declaração voar como o vento. Mas aquela ponta da certeza apontada para o precipício me diz que somos enganadores de nós mesmos ao querer nomear as coisas por parâmetros existentes, sendo que aquilo que somos e sentimos só é sentido por nós, só existe em função um do outro. Ainda por uma questão de inexatidão, obrigo-me a adaptar o que sinto ao signo de outra diferente, outra já nomeada. Ou não nomeio, e encaro que toda essa reflexão é a fuga para não admitir o amor. Na hipótese do amor, é claro.

22 julho, 2009

A casa.

http://dubitavel.blogspot.com/



A casa está de volta. Com novos moradores. E a mesma pergunta de sempre.

17 julho, 2009

(sem título XVIII)

Contados exatos dois mil duzentos e sessenta e três dias de completa solidão ao seu lado nós nos fomos de nós e nos deixamos a sós. E (ai!) que agonia, que dor, que drama o meu! Eu que, dentro de mim, te fiz tanto, te amei tanto, te quis tanto, fui tanto sua! Eu, esse mesmo eu, fui.

Contados, assim, trinta e cinco exatos dias desde então, eu percebo, com alguma nostalgia, o vazio de toda dor e todo drama, o quanto eu me perdi na absoluta necessidade de amar alguém e o quanto isso é, de fato, desnecessário.

Contados os fatos e tudo que vivemos, não houve perda. Foi tudo, em sua medida, lindo e nós ainda somos, à nossa maneira, lindos também. Eu aprecio o amor que dediquei e o que recebi - sabendo que nunca houve paridade - e termino aqui, beijo, adeus.

26 junho, 2009

(sem título XVII)

[...]




o anonimato me persegue como um gato
a multidão me enxota como um cão
- e no zoológico ninguém me aceita
por não ser rara.



23 junho, 2009

Inconfessável

Já disse que estava em dúvida, já disse que tenho certeza, disse que gosto de você, disse que te adoro. Já disse que me perturba e, mesmo sem dizer, você sabe que não consigo ficar muito tempo te olhando. Confessei, meio a um sussurro, que o beijo que eu queria não era bem aquele, que quando beijo sua mão é porque queria te molhar a boca. Eu confesso meus desejos e depois me arrependo e depois me esqueço e me confesso de novo.

Eu imagino uma existência hipotética de "nós", confesso.

21 junho, 2009

Fofa!

Diana Borges, em seu peculiar momento de delicadeza, me considerou uma FOFA e me deu um selo. O selo ao lado. É claro que se tratando de Diana, eu sou tentada a desconfiar que ela me chamou de GORDA, na cara dura. Por ter recebido o selo, eu devo brincar de siga o mestre e cumprir algumas regras. Adoro esses RPG's bloguísticos...


So, well... O questionário a seguir é parte do trato:


1- MANIA: Das tantas, a pior é morder os cantos da boca quando estou com raiva. Até sangrar.

2- PECADO CAPITAL: Gula. Vaidade. Ira. Preguiça.

3- MELHOR CHEIRO DO MUNDO: O meu. Uai. Eu acho.

4- SE DINHEIRO NÃO FOSSE PROBLEMA EU: Compraria livros e viajaria. Pra longe.

5- CASOS DE INFÂNCIA: Eu tive um poodle que ela epilético. Com o tempo, a dosagem do remédio foi aumentando até chegar ao ponto em que ele só dormia, nem comia mais. A solução foi sacrificar. Então minha mãe me disse que o cachorro seria sacrificado, mas eu não sabia o que "sacrificado" significada. Então, na minha cabeça, eu entendi "crucificado", por que eu fazia aula de catequese e sabia o que "crucificado" significava... Foi uma associação natural de cabeça de criança. Sei que fiquei um tempão achando que meu cachorrinho tinha sido morto pregado numa cruz. E pensava: "Que judiação, não podiam ter matado o Pituchinho de outro jeito???"

6- HABILIDADES COMO DONA DE CASA: Cozinho bem. Eu acho.

7- O QUE NÃO GOSTA DE FAZER EM CASA: Guardar louças.

8- DESABILIDADES COMO DONA DE CASA: Varrer. Mais espirro que varro.

9- FRASE: "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas." (O Pequeno Príncipe - ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY)

10- PASSEIO PARA ALMA: Chocolate, Bacardi, amigos. Sessão de cinema com minha irmã...

11- PASSEIO PARA O CORPO: Dormir.

12- O QUE ME IRRITA : Meu mau-humor.

13- FRASE OU PALAVRA QUE FALA MUITO: Neam?

14- PALAVRÃO MAIS USADO: Cacete!

15- DESCE DO SALTO E SOBE O MORRO QUANDO: Me entendem mal.

16- PERFUME QUE USA NO MOMENTO: Humor nº 5, de Natura.

17- ELOGIO FAVORITO: "Adorei seu blog!" Que foi? Não é p'ra ser sincera?

18- TALENTO OCULTO: Sei lá... tá oculto, né?

19- NÃO IMPORTA QUE SEJA MODA NÃO USARIA NEM NO MEU ENTERRO: Botália, sandaliota... sei lá, aquelas coisas que misturam sandália com bota, que coisa horrível...

20- QUERIA TER NASCIDO SABENDO: Como ganhar dinheiro.

21- EU SOU EXTREMAMENTE: Chata.

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Como segunda parte, indico cinco fofas. Eu possivelmente indicaria as óbvias:
Bazinha, Luísa, Mariana, e a própria Dica... Mas decidi inovar... Então aí vão minhas cinco fofas:

1- Renata, do
Doce de Lira.
2- Hosana, do
Esboços e Cores.
3- Thayane, do
Las Teorías.
4- Mary Hellen, do
Caleidoscópio, e
5- Fernanda, do
Chave do Delírio.

Essas são as fofas. Algumas estão começando agora, mas são mesmo muito boas. Muito lindas. Muito fofas.

That's all, folks. Thanks, Diana!

19 junho, 2009

Raindrops are fallin' on my head, they keep fallin'



"Raindrops keep falling on my head,

But that doesn't mean

My eyes will soon be turning red

Crying's not for me

Cause I'm never gonna stop the rain

By complaining

Because I'm free,

Nothing's worrying me!

It won't be long,

Till happiness steps up to greet me."

17 junho, 2009

deliberação ao acaso sobre você, você.

É estranho pensar que sua lembrança de primeiro beijo, se houver, será o meu beijo. E que se for além, eu serei a primeira em tantas outras coisas para você. É, talvez, um peso que eu não queira carregar: ser, de alguma forma, sua Diotima.

12 junho, 2009

Sobre a sobrevida

Se é verdade que não temos tempo
e que eu não duro tanto mais nesta vida
eu devo me permitir te beijar sem culpa
- sem a culpa de alguém que viverá eternamente.

Se é verdade, porém, que há muito tempo,
mas que não importa - a morte é mesmo o fim -
eu, assim, devo me permitir te beijar sem culpa
porque após a morte só há o nada.

Se a verdade é que tenho tempo e ainda há mais:
existe culpa, julgamento e inferno
eu, então, devo me permitir te beijar sem culpa
porque tenho outros pecados piores, mais horrendos e menos perdoáveis.

Se, por fim, houver um deus decidido a me redimir
e é verdade que ele me ama apesar de tudo
eu, com certeza, devo me permitir te beijar sem culpa:
esse deus há de entender que te quero demais.

09 junho, 2009

Eu não te quero parecer estranho quando entrelaço meus dedos aos seus
e me confessar demasiado triste por não te escolher.

Ou ainda confessar e,
ao confessar,
ser excessivo.

Te perder amiga e te perder mulher.

Eu prendo e aperto seus dedos.
Eu poderia - não mais agora - te permitir sair.
Eu escutei suas queixas e suas defesas e agora sei que não te posso abandonar,
ainda que não-fazê-lo seja o mesmo que me perder.

De maneira superficial, eu acredito, você supõe verdades a respeito da minha mentira
e limita sua compreensão ao que eu tento esconder,
ao meu tempo gasto admirando o nada
com o olhar perdido
admirando você em mim, dentro de mim.

05 junho, 2009

Querido amigo,

Sei que lhe devo uma carta física, uma dobrada e envelopada, remetida por vias normais às quais uma carta deve se prestar, mas na urgência de dizer-lhe algumas coisas, não encontro outra forma. Sinto uma angústia inconveniente (eu diria perturbadora, mas qual angústia não o é?), resultado de incertezas que surgiram ao longo dos desesperos que criei. Talvez seja hora, amigo, de renunciar aos edifícios inacabados e iniciar uma nova construção. Uma mais digna, menos fadada ao fracasso. Hipoteticamente, é claro. Que certezas temos nós nesta vida?

Sinto se, mesmo ausente, recorro a palavras distantes. Penso que talvez seja hora de abandonar velhos hábitos. Até me deprimi (e acho que ainda não me recuperei) ao me perceber diferente demais, tantas vezes (quantas sejam possíveis afirmar) pior do que aquilo que eu já detestava em mim. São essas certezas avassaladoras que derrubam um ser humano de joelhos e jamais o colocam de pé novamente. E eis que, quando nem eu era capaz de me amar, surge um alguém que se diz orgulhoso ao meu lado. Meu prédio antigo estremeceu.

Que faço eu, amigo? Quais são meus parâmetros de felicidade?, onde encontro?, será que tento? Não consigo nem mais dormir, só penso, penso, penso, penso e penso tanto e desejo tanto que os beijos chegam a se soltar dos meus lábios a procura do par, mas morrem na dúvida da possibilidade. Suas mãos são quentes e seu coração intenso. Oh, ele tem um coração, amigo, e funciona.É tão sincero e sempre se apressa em me confortar, cuida de mim e do que sinto por ele. O que eu sinto, aliás, é cada vez maior. E, ainda que me cause tantas perturbações, eu arriscaria por ele meu maior edifício.

Desculpa-me a falta, se não lhe procurei ou nem mesmo dei notícias. Mas se lhe escrevo tão repentinamente é porque sei, amigo, que mais ninguém me poderia entender. Deixo cá meu abraço, meu beijo e minha alegria em compartilhar minha tristeza. Não aguardo solução, apenas uma resposta querida. Querido.



Sempre tua,

Carmen.

Entre-meios de lidar com a perda

Eu não mereço o mar.
(Eu) sequer (mereço) beijos de brisa
- eu não mereço!
Não tenho metais ou pedras,
nenhum valor possuo que não o meu
que é bem pequeno.

Me espere acordar.
Eu ainda não preciso.

Jamais andei descalço
(com os pés carregando poeira).
Eu não deveria
- ninguém deveria -
te oferecer palavras menores que as suas.
Não conheço o prazer da neblina;
de tatuar, em mim, o arrepio;
sinto falta da desconhecida madrugada fria.

Só as letras me mergulham quando já me encontro afogado.

Acabou-se, nos detalhes, a exploração dos meus pedaços.
E penso,
ainda,
que
deverias saber que meu adeus é repleto de até logo.

São cinco ou seis estrelas sustentando meus pés, sustentando meu nada além de mim.

Serei sempre eu rasgando as malhas, rompendo a pele.
Deixar de esperar é ainda uma angústia maior.
Ainda morro
de tanta individualidade.

Eu me sinto mal por não saber lidar com gentilezas, por ser ingrata, por não ter um só bom sentimento, tendo tantos impulsos que me levem a ter. Me sinto mal quando a vida me é excessivamento gentil; quando não há perturbação, eu me perturbo. Em me sinto mal por ser eu, por não ser mais eu, por ser tão eu, por estar presa a mim, por ter me abandonado. Eu não posso continuar.

E penso,
ainda,
que
deverias saber que meu até logo é repleto de adeus.

29 maio, 2009

Das perturbações

Quando me olha. (por que me olha? que procura? qual raridade ou estranheza busca nos meus olhos que deles não desvia?)
Quando rimos. (sempre pelos mesmos motivos, sempre sem motivo nenhum, pela sua inocência ou minha devassidão.)
Quando me beija. (é doce e pequeno e sublime e nobre. ou vira uma vontade imensa de te abraçar ou um desejo sem tamanho de te mostrar tantas coisas que imagino que queira aprender comigo. e me calo.)
Se me corrige. (eu não sei mesmo falar inglês. como se eu precisasse da sua ajuda.)
Se me elogia. (porque eu realmente não acredito em você.)
Se passa tempo demais segurando minhas mãos. (que medo que eu fuja ou me afaste, que intenção existe no calor do teu carinho?)
Se fala de coisas que não entendo. (precisava ser assim, tão melhor do que eu?)

15 maio, 2009

Primeira mulher

Nasceu cega.

Até que um dia morreu.

ou

Nasceu cega. Chamaram-na Helena. Não aprendeu braille, não reconheceu vozes. Não namorou, beijou ou acariciou alguém. Não estudou. Não trabalhou. Só comeu o que lhe era permitido. Não brincou com criança alguma, não correu atrás de cães, não afundou as mãos no barro. Não soube o que era barro. Nunca passeou. Jamais teve amigos. Jamais teve diário ou o que escrever em um. Não conheceu poesia. Nunca dançou. Não teve fé. Não conheceu esperança. Não valeu a pena. Não era nada. Não foi nada.

Até que um dia morreu.

08 maio, 2009

(sem título XVI)

Te olho tanto e fico pensando quando foi que seus cabelos se cachearam tanto, quando foi que ficou difícil passar os dedos entre eles, quando foi que você cresceu e ficou assim tão alta. Quando, de verdes, seus olhos se tornaram azuis e depois cinzas? Agora, quase negros, passaram a me dizer cada vez menos de você.

Te olho procurando os meus defeitos. E em você eles são belos, sequer posso chamar de defeitos: são particularidades, humanidades manifestadas. Torno-me eufêmica, portanto, diante de ti.

29 abril, 2009

[473]

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhaslágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

23 abril, 2009

Porque eu não te amo.

Eu não posso dizer que te amo, simplesmente: eu não te amo. Seria injusto com todas as forças que regem o mundo, inclusive com o acaso, que eu te demonstrasse um sentimento que não é meu, que você não cultiva em mim. Te deixaria sentir de mim ventos que eu não sopro.

Meus passos são desconexos, difíceis de seguir. Mais fácil seria dançar comigo, mas acho que, para dança, não sirvo como companhia. Meu caminho não é sozinho. Mas há pedras demais por ele, pedras que eu mesma coloquei.

Se pudesse te levaria. Te colocaria dentro de mim, te enlaçaria os dedos, te carregaria as malas. Não é o amor que me leva até você, são outras brisas, ainda mais leves e mais dignas. Eu te levaria e te soltaria no penhasco, te deixaria voar e tu entenderias o pássaro que és. Por não te amar, no entanto, não te posso levar onde quero, não te posso isolar no mundo, não te posso possuir. Não cabes no meu corpo. Como não cabe, no meu espaço físico, mais ninguém além de mim.

19 abril, 2009

Da beira, o pulo.

Aquele pedaço meu chamado dignidade está gritando. E diz, contra todos os outros pedaços em mim, que a renúncia ainda é uma opção, que é possível permanecer digno - e mais: ser ainda mais digno - reconhecendo a futilidade de alguns atos e abandonando alguns gestos frequentes. Não me ocorre, no entanto, abandonar gesto algum. E acho até que, enquanto não perco toda a dignidade, posso ainda fingir que escrevo, realçando um ou mais traços de qualidade minha. Ilusões para se cultivar em um jardim.

Não falta nada. Tenho ainda até os mesmos amigos que fingem gostar do que eu digo. Já não sei se é de agora, percebo que há/sempre houve uma necessidade em me agradar. Não, não são falsos amigos. São queridos amigos que cuidam da minha ilusões, que me afagam docemente o ego, permitindo minha fuga todas as noites. Amigos preciosos, mas que me faltaram com a verdade e que obrigaram a ver o mundo com meus olhos míopes e tendenciosos. Correndo, ainda, o risco de violar meus próprios códigos.

Há quem diga, até, que eu sou má. É a mesma doce alma que me chama de coisas ainda piores, mas sequer posso acusá-la de difamação. Ela me entende, sabe que não há nada em mim que seja essencialmente diferente dela. E somos, sempre, a transição de nós mesmas. Foi assim que meus desejos se foram e, buscando uns casa com cômodos menores que conservasse o mesmo aconchego, encontraram-na. Eu sou má, ela me diz, sabendo que isso nada tem a ver com mediocridade.

É preciso admitir, entre outras coisas, a felicidade dos meus acasos. Poder chamar de amigos, ainda que sob perspectivas pouco ambiciosas, pessoas como Mariana Khalil, Diana Borges, Gustavo Ruzzene, Elba Rocha e outros, faz de mim uma pessoa notável. Uma pequena notável. Mas nada tem a ver minhas relações com uma possível notabilidade. Incrível a beleza do coração, se assim posso chamar, de cada um deles. E porque me fazem um bem sem explicação é que às vezes escrevo com alguma alegria. E fica fácil dizer o que sente, sendo sincera e pouco retórica, quando isso se dá em explosões múltiplas.

Não me arriscaria a qualquer diagnóstico a meu respeito. Ando triste, e acho que não existe nada além disso. Nunca houve, aliás. Começo a desconfiar que a tristeza não é um estado, mas uma condição. Não é ruim. É caso, apenas, de se acostumar, como com a alegria. Ou aceitar que não existe escolha permanente. Aceitar que não basta suor para uma execução perfeita, também é necessário algum desprendimento e aquilo a que me habituei a chamar de dom. E é por isso que, mesmo querendo, não posso cumprir as promessas que fiz, tamanho seja meu desejo de atendê-las. Não se zanguem, caros amigos, com minhas falhas. Sou humano, demasiado humano. Nem sempre cabe ao meu orgulho reconhecer meus defeitos ou ao meu abatimento, reconhecer meus atributos. E escrevo desgovernadamente quando deveria calar meus dedos ou passo dias sem escrever, quando tudo em mim arrebenta em sentimento.

Compreensão, amigos.

Porque não sou mesmo medíocre. Se sou capaz de assumir.

_______________________

À todos os amigos citados e aos não citados, mas em especial à Diana, que me arrebentou as veias e me confessou, entre delicadezas, que eu estava irreconhecível. Morrendo e matando de delicadeza. Aquele monstro de delicadeza.

15 abril, 2009

(sem título XV)

Há de ser prioridade nessa minha vida amar as pessoas certas e parar de amar as erradas.

09 abril, 2009

Minha vida, meu desejo e a distância entre as coisas.

Pensei em apagar tudo que vivi, escrevi e li até agora em troca de uma próxima experiência menos real e, talvez, mais válida. Mais bonita, com certeza, que todas as coisas que já fui capaz de viver. Triste, frágil e cheia de dor, eu havia decidido me recolher. E uma flor me chegou pelo correio, uma resposta aos meus afagos. Leve. Um carinho que eu quase senti físico, mas foi por dentro, aqueceu o peito. Um beijo do amigo distante.





Amigo,

fiquei ainda mais frágil, mais triste e mais dolorida. Eu não posso te responder agora, nem sei se poderei um dia, só sei que choro feito a criança que descrevi em você, sem saber, ou não, do verdadeiro velho que escondes. Mas uma resposta surgirá e voltará às suas mãos como forma de agradecimento. Não é necessário que seja recíproco, é só necessário que seja verdadeiro em tudo que seja. Já és, sinceramente, meu pedaço de vida e desejo.

29 março, 2009

Vários graus de... MAS HEIN?

menina 2: "outro dia 'tava falando com fulano de tal sobre o mundo não ter razão e o raimundo e isso não faz sentido..."
menina 1: "mundo mundo vasto mundo / se eu me chamasse raimundo / seria uma rima, não seria uma solução. / mundo mundo vasto mundo, / mais vasto é meu coração."
menina 2: "é por isso que eu odeio vinícius."
menina 1: "mas o verso é do drummond."
menina 2: "é por isso que eu odeio vinícius. ele jamais escreveu esse verso."

Vários graus de FORMIDÁVEL.

menina 2 vai de carro ao shopping.
menina 2 esquece onde estacionou o carro.
meninas 1 e 2, no meio da chuva, procuram carro.
meninas 1 e 2 acham o carro.
menina 1 entra no carro.
menina 2 entra com o guarda chuva aberto dentro do carro.

menina 2: O QUÊ QUE EU FAÇO COM ISSOOO??

26 março, 2009

febre + sono + dor de cabeça + azia =

Aproveitei a enfermidade para escrever alguma coisa bem desconexa. É p'ra parecer poético, mas é só delírio febril. Ou minha cabeça com muita preguiça de fazer sentido.

Reconheço que a escrita exige labuta. Mas a ilusão de uma "escrita natural" torna o processo tão, mas tão mais bonito, que mesmo ao final da mais suada das frases, o sujeito que a escreveu se sente o portador do maior dos dons. E é assim mesmo, sempre fingindo que existe uma inspiração intrínseca, um pensamento essencialmente livre e instintivo. Duro, dizemos, é o processo da escrita, duro é digitar teclinhas, duro é passar para o papel.

Mas que nada! Escrever, encarreirar letras, é fácil. Difícil é colocá-las em ordem.

Veja bem o que é a febre: eu me olho no espelho e, entre outras coisas, enxergo sempre a pessoa de escrita mais natural que eu conheço. Talvez nem seja mentira, posto que não conheço tantas pessoas que escrevem, assim... Mas nego, de muitas formas, que escrever para mim é um processo dolorosíssimo, cruel, sofrível porque eu insisto mesmo, chateio, teimo com a palavra que não quer sair. Espremo como se fosse um berne. [acabei de matar esse texto. #prontofalei.]

Despropósito

Encontrei em uma agenda, escrito na data de 18 de Março de 2005:


"Minha agenda me diz coisas em alemão, mas eu não sou alemã, não falo alemão, não leio alemão, não escrevo alemão, sequer simpatizo com a língua. Mas falo português fluentemente. E ninguém me entende.

(...)

São tantas coisas que eu penso, mas nada serve para o papel. Nem tudo merece ser exposto, eu tenho um gosto pela forma que meus pensamentos tomam. Acho que cada letra é um [palavra ilegível]. Amor sufoca, eu acho."


E há três dias 'tô eu olhando p'ra agenda, tentando decifrar essa joça de palavra. Mas nada cabe ali.

20 março, 2009

(sem título XIV)

O mar que teus olhos me trouxeram
As pétalas turquesas
O óbvio.

São, talvez, rastros.
Cicatrizes menos dignas, modéstias mais sinceras.
Você se resume nas minhas descobertas.

19 março, 2009

Vários graus de INEXPLICÁVEL.

meninas conversando.
menina 3 pede para menina 4 segurar seu caderno.
menina 4 escora caderno da menina 3 no parapeito.
alguma coisa cai do caderno.
meninas 1, 2, 3 e 4 se curvam no parapeito para ver o que caiu e onde caiu.
seja lá o que for, é quadrado, amarelo e está no parapeito do andar de baixo.
menina 4 vai correndo buscar.
menina 4 volta com o quadradinho amarelo na mão e a maior cara de incógnita de todos os tempos.



era uma fatia de queijo.

18 março, 2009

Primeiro remoque depois de um mês

Sempre tanta gente me dizendo p'ra não sofrer e só esperar que as coisas aconteçam naturalmente porque, ah, elas acontecem. E que eu não devo me sentir responsável por nada porque, afinal, eu não sou assim tão importante para que qualquer fenômeno se realize por mim. Aliás, nada importante que sou, semi-ignóbil-eu, procuro sentido nessas coisas vãs. Sou eu.

Ando atribulada e devo cartas prontas, devo presentes. E ando desiludida porque não recebo nada, cartas deveriam ser respondidas, não sei o que houve. Passo as noites na multidão de problemas que me inventei, alheia ao novo vocabulário que (ao menos parece) tenho que entender.

Ler e não entender sobre os dizeres do dizer, a maldita metalinguagem que me mata. E meu senso crítico cada vez mais totalitário, censurando tudo que eu escrevo e transformando em lixo. Saudosismo ridículo. Eu nunca fui feliz, eu sempre soube.

18 fevereiro, 2009

Mika

Desde que escutei Lollipop, eu só vejo/ouço/canto Mika. Aqueles clipes psicodélicos dão vontade de comer e o acúmulo de batidas e segundas, terceiras, quartas e quintas vozes ficam me dizendo pra ser feliz, além da voz dele mesmo que dá um tesão desgraçado. Agora me diz: esse agudo existe?








Não, não existe.

17 fevereiro, 2009

Nós.

Eu escuto as coisas que você me diz, mas quase sempre elas me soam como fantasias que eu criei para compensar a distância entre nós. Eu leio seus bilhetes e acabo por interpretar cada palavra com conotações que só eu sei explicar, de forma que o todo me declare somente o que eu quero entender. Eu manipulo todas as informações as quais tenho acesso para que todas me favoreçam e para que eu nunca me sinta culpada pelo que quer que seja. E você diz que eu não presto, mas com um belo sorriso no canto da boca e uma linda cara de deboche, querendo dizer que eu presto sim e eu até acredito, às vezes. Eu não te entendo, eu juro. Quer sempre me aborrecer e estremecer minhas bases de ódio e, quando me deixa adormecer nos seus braços, diz tudo aquilo que eu queria escutar enquanto estou acordada. É um problema nosso de comportar nossas próprias loucuras.

Ela

Ela mergulhou em mim e me fez ter pena do que eu era.
Me olhou de cima e me trouxe paz. Ela me tortura.
Ela me abandonou e agora eu a procuro dentro de mim.
Ana Maria se afogou no meu peito.

De mim (agora)

Talvez eu esteja melhor agora, desfeitas as ilusões. Talvez seja necessário ser triste, talvez haja alguma beleza na contemplação da dor ou mesmo seja útil não ser sempre feliz. Necessária talvez seja a constatação da tristeza em si.

Talvez eu não seja assim tão ruim, mas eu realmente achei que fosse alguém melhor do que sou. Pensei talvez que meus desvios de conduta mais tivessem a ver com meu gosto musical duvidoso que com falta de moralidade ou de escrúpulos. Talvez me julgasse incorruptível. Quem bem me conhece sabe que é verdade, sabe que eu carrego uma soberba infinitamente maior que eu. E morrerei sob o peso de mim mesma, eu acho.

O abandono causa sensações delirantes, quase como ácido. Talvez seja mais recomendado porque, embora o efeito possa ser prolongado, não costuma deixar grandes sequelas. No mais, se aprende muito mais sozinho, taí uma coisa que o ego nunca vai permitir é você achar que alguém é melhor que você mesmo, nem que seja na arte de ser pior.

Mentirosa, pérfida e ligeiramente demente. Gorda. Boba, feia e chata. Passo tempo demais pensando nas coisas que poderia ser e, às vezes, o pensamento vai tão longe que, em algum lugar, eu acabo sendo mesmo e me sinto ótima em ter conseguido ser qualquer coisa em pensamento e continuo a ser eu mesma por aqui. Eu sempre me gabei de conseguir tudo o que sempre quis, mas a verdade é que eu sempre quero muito pouco.

16 fevereiro, 2009

(sem título XIII)

A saudade bem me atropela o peito nos finais de semana, quando penso que deveria sentir seu hálito e sequer ouço sua voz. E me arrebata as tardes pensar nos seus cabelos entre meus dedos, me lembra a sonolência de carinho bem feito e me dá tantos outros pensamentos.

Quando penso nos improvisos de nossa vida, os rumos desesperados de cada uma de suas pernas que te levam a cada dia para mais longe de mim. Cruelmente, cada manhã e cada tarde ao seu lado são sempre ainda melhores que as manhãs e tardes anteriores. Me deixam sempre uma esperança de consideração divina em prolongá-las por meses, mas parecem sempre menores.

14 fevereiro, 2009

Longe

É onde estou.

24 janeiro, 2009

Lento (marta)

Buscando o topo e a base. Eu quero estar em todos os lugares, falando com todas as pessoas. Depende, na verdade, de não acreditar na minha miudeza diante de tudo. Tudo. A cama anda fria e os armários espaçosos. A casa é só minha. E eu não sou ninguém.

Quantos dias faltam, ou sobram? Matam as horas, ou morrem no parapeito dos dias. As horas iguais, morrem nada: se esticam. Dias doem.

13 janeiro, 2009

Fosse eu.

Soubesse eu falar, amigo, diria das minhas angústias. Mas se não sei, espero que doa desesperadamente, até que grite em meus olhos a solidão. E quão doloroso será esperar, amigo, para quem já tanto sofreu. Quando voltas? Quando vens?

Há tanto e tanto que eu não posso explicar. As esperanças não faltam, mas gotejam inutilmente nesse coração inerte. Nem bate o peito diante da vida, nem pulsa a vida diante de mim.

Já se foi o tempo das varandas, o cheiro dos porões e dos assoalhos mofados. Partimos por caminhos tão diversos, nos espalhamos, nos dissipamos, nos perdemos. Nem a mesma língua falamos e os gestos não mais se encaixam. Nem conhecidos somos mais.

Pois, amigo, eu vi a lua. Ainda se esconde e me inspira devaneios. Mas vejo sempre na lua o meu reflexo disforme. A lua está sozinha. A lua está minguando.

(sem título XII)

Eu passaria a vida diante de uma janela, vendo as pessoas viverem. Eu mesma não preciso dessa vida, o que era de ser meu já é, já foi. É que a dor às vezes é um fardo que eu simplesmente me recuso a carregar, eu sequer tento. Não acho bom ser assim tão amarga, mas eu não tenho nem quem possa reclamar de mim. É um ou outro piedoso amigo que me liga meados da semana buscando notícias ou um ouvido compreensivo, mas dizer da minha dor eu não sei mais.

12 janeiro, 2009

Pedaço

Notei nas fotos que seu sorriso nunca é completo. Completa, aliás, só estás longe de mim. Eu te mordo e te devoro um pedaço cada vez maior.