26 outubro, 2009

'o asfalto' ou 'como esquecer da vida em uma manhã de segunda'

Não deveríamos esperar que os pés suportassem o asfalto quente ou que nossos caminhos se cruzassem no topo da montanha mais alta nem que cães entendessem o porquê das borboletas. Mas são assim as coisas e o asfalto é quente quando chove. Sobe o vapor dos dias intensos de sol, contorsem-se os pés aliviados de dor.

E tudo o que passou é tão vazio, não nos resta a lembrança. Eu espero ainda sobreviver.

25 outubro, 2009

Não sei como entender isso.

Coloquei-me a rabiscar linhas tortas sem tamanho sem compromisso sem motivo gastando meu caderno de folhas caras que só tem mesmo servido p'ra esse tipo de inutilidade gráfica quando ela virou-se e pôs-se a rabiscar meu caderno com linhas sem tamanho sem compromisso e sem motivo disposta a gastar grafite no meu caderno de folhas caras que só tem mesmo servido pra esse tipo de inutilidade gráfica.

Depois ela desenhou alguns corações para mim.

Lua, da lua, sobre a lua

Se olhar a lua verá:
são luzes que refletem, são sombras, são manchas.
Não, ela não vê e muito mais se interessam por ela que ela por qualquer coisa.
Ela não sabe.

Parece a lua, mas isso é sobre você e seu reflexo.

Mas se pedir, terá:
o tudo é possível para aquela que ilumina a noite.
Não, ela não nega e muito mais oferece que qualquer um a ela.
Ela não precisa.

Parece a lua, mas isso é sobre você e sua vontade.

23 outubro, 2009

"Da caixa vermelha e do que ela guarda" ou "Como me faz falta"

Na caixa vermelha me vieram perfumes e nela guardo coisas das quais não posso me desfazer. Guardo suas fotos e suas cartas. Guardo a ideia de que a vida foi mais digna quando éramos nós tão certas de nós; ou não éramos e não era preciso ser. Hoje - como é o mundo - só restou graça da nossa soberba e do nosso estado, que seria de espírito, se tivéssemos um. Ainda existe tanto vestígio daquele espaço e daquele contorno, tantos beijos. Tantas folhas, e nós no centro, às vezes só eu. E o palco, aquela brincadeira.

Minha caixa está cheia de cartas, fotos e lágrimas. Saudosa de um tempo não tão antigo assim, só distante. Distante, mas que não se perdeu. É possível recuperar meus desejos na sua voz ou nos seus convites; quando apagados, reflete nos meus olhos o brilho dos seus ao me ver. Entre nós é recíproco, mútuo e equivalente.

Ainda assim, distante. O tempo das cartas e dos segredos. Motivo para as declarações, os endeusamentos, as confissões. É verdade que jamais precisamos de razões ou causas para adorarmos-nos. É grande a saudade. E veja como agora eu vejo: ah! essa saudade já é uma dor.

Sequência

Eu vejo a cena acontecer lenta e em seus detalhes me carregar ao fim.
Os pés se movem enquanto os lábios calam.
Abre-se a boca ao firmar o pé no chão.

O pincel contorna as cores, mas
- bem -
isso não importa.
Eu ainda posso ver o amarelo fugir dos ângulos e escorrer pela tela.
Não importa,
não importa.

O contorno não importa.

Ela corre
- eu vejo a cena -
e, sem limite, grita.
Joga-se no vento, plana e pousa
Morre ao fim do dia, em casulo, a linda moça do cinema mudo.

04 outubro, 2009

Eu pensei que seria simples dizer

Simples seria não me dar ao trabalho de dizer eu te amo, ou de amar. Não fosse esta uma imposição da minha alma, eu já teria abandonado o ofício há muito tempo.