28 julho, 2009

A quem dedico

Quando eu preciso de um caminho ou de uma história ou de um conselho eu chamo alguém. Nem sempre o mesmo, nem sempre vem. Naquilo que lhes cabe, são compreensíveis e fingem admitir a minha razão. Naquilo que me cabe, admito a minha insanidade e inconsequência, se percebo, e até entendo a impaciência de alguns com minhas dores. É quando me esqueço do que me levou ao fim, ou o que me trouxe de volta, os beijos que me acordaram, os sonhos que morreram. E, antes, cega, me esqueço também das minhas dores de sempre, das dores que cessaram e foram substituídas por outras que doem mais.

Quando meus cabelos se desarrumam eu sinto falta da mão que pretende me consertar, me amansar n'um afago demorado como o dia. Tudo o que tenho, no entanto, é o vazio de nada ter, e nada poder partilhar que não minha angústia. Sofrem então meus queridos, que nem de mim gostam tanto assim, com meus desesperos solitários. Não será necessária mais que uma pequena parte de mim destruída para que todos os horrores da alma cessem e se transformem em belos ensinamentos de vidas, dos quais me orgulharei, futuramente.

Perdão aos meus amigos. Preciosos. A quem dedico.

27 julho, 2009

Da janela.

Antes de dormir se olhou no espelho e penteou os cabelos como se houvesse um pretexto, como se precisasse. Sentiu frio e notou o balanço descompromissado da cortina. Era a janela. Andou, passos lerdos, abriu as cortinas, lá estava: janela escancarada. Cruzou os braços sobre o peito e cobriu os ombros com os dedos finos. A pele arrepiou. Olhou para o alto e não viu a lua. A varanda mal planejada cobria parte do céu e o que restava era encoberto pela altura dos edifícios ao redor. Não queria mesmo ver a lua.

Olhou então pelas inúmeras outras janelas que enxergava, procurando uma cena inusitada. Não encontrou nada, era tarde, que raios buscava nas janelas alheias? Agarrou as maçanetas das janelas, deu um suspiro sofrido e, enquanto cerrava os vidros, viu a janela bem em frente a sua se iluminar. Quem seria àquela hora? Quem, além dela, ainda não dormira naquela madrugada fria? Ninguém.

26 julho, 2009

A menina que escrevia pela metade

Ela era só uma menina. Uma menina inteira.

Mas quando se dividiu e quando doeu, ficou meio triste. Comia por meia pessoa, dizia meias palavras, esboçava meios sorrisos. Escrevia pela metade.

Sua metade se foi. A metade de dentro.

24 julho, 2009

Prólogo do não-amor - parte I

Os dias de semana são relativamente calmos. Os espaços de tempo são todos milimetricamente ocupados com nada, eu sequer lembro de mim. Me lembro, às vezes, de você. Assim começo a entristecer e pensar que o amor é uma ótima ideia pra descartar. Te amar de fato, nunca me pareceu boa ideia e ainda não é. Ainda após passado algum tempo refletindo sobre isso, acho mesmo que o amor é desses sentimentos mais leves, ou nunca foi amor, ou nunca será. A doentia forma de te querer ultrapassou os limites do sublime e foi além, até o nada. E eu, que nada sei do amor, acho que não é amor.

Eu espero ainda que você entenda os meus motivos e não me julgue. Antes eu me culpei ainda por ter permitido que você se fosse, quando entendi que você jamais esteve. Eu percebo da forma mais linda, agora, que você jamais poderia ir sem sair de dentro de mim, que é onde está. Sendo assim, tudo o que me dói é não poder te perceber fora, quando dentro tu sofres apertado no meu deprimido coração. Eu não te amo. E ainda que o fizesse não seria tão espontaneamente a ponto dessa declaração voar como o vento. Mas aquela ponta da certeza apontada para o precipício me diz que somos enganadores de nós mesmos ao querer nomear as coisas por parâmetros existentes, sendo que aquilo que somos e sentimos só é sentido por nós, só existe em função um do outro. Ainda por uma questão de inexatidão, obrigo-me a adaptar o que sinto ao signo de outra diferente, outra já nomeada. Ou não nomeio, e encaro que toda essa reflexão é a fuga para não admitir o amor. Na hipótese do amor, é claro.

22 julho, 2009

A casa.

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A casa está de volta. Com novos moradores. E a mesma pergunta de sempre.

17 julho, 2009

(sem título XVIII)

Contados exatos dois mil duzentos e sessenta e três dias de completa solidão ao seu lado nós nos fomos de nós e nos deixamos a sós. E (ai!) que agonia, que dor, que drama o meu! Eu que, dentro de mim, te fiz tanto, te amei tanto, te quis tanto, fui tanto sua! Eu, esse mesmo eu, fui.

Contados, assim, trinta e cinco exatos dias desde então, eu percebo, com alguma nostalgia, o vazio de toda dor e todo drama, o quanto eu me perdi na absoluta necessidade de amar alguém e o quanto isso é, de fato, desnecessário.

Contados os fatos e tudo que vivemos, não houve perda. Foi tudo, em sua medida, lindo e nós ainda somos, à nossa maneira, lindos também. Eu aprecio o amor que dediquei e o que recebi - sabendo que nunca houve paridade - e termino aqui, beijo, adeus.