Sobreviveste sem que o mar secasse
sem que a onda branca lhe molhasse os pés.
Entre os dedos, ainda areia
e ainda praia sob a pele quente.
São infinitos grãos
e separam
completas ventanias que se formam:
uma na serra
outra na orla.
Vai agora riscar o nome
daquela que triste espera
e recolhe sólidas conchas
para o sorriso da amada.
Volta,
traz consigo novas cores.
Que o sal não envenene seu gosto
e que seu cheiro não se perca na água.
Que seu olhar se fixe no horizonte.
Que a lembrança venha silenciosa,
assustadora e débil.
Fica, ainda,
quando o coração te parte em raios
e o sol risca nuvens.
Dorme, ainda,
esperando por ela.
Espera, adoece.
Resiste ao regresso,
controla suas dores.
Perde-se em noites profundas,
clama por ela, ela não está.
E não foste tu, ainda sadio, que a abandonaste?
Retrocede, admite-se louco.
Contorce os dedos, revira-se, encontra-se.
Sonha com o abraço.
Isso nada anula, nada muda ou resolve.
Sobrevivente,
volta
pra que te devore e mate
de saudade,
afeto
e brisa.