06 maio, 2010

Madalena

Simplesmente linda. Quando colore-se, irradia tal qual um cristal atravessado pela luz. Uma beleza simples toma seu rosto e percorre seu corpo tão naturalmente que nela não se encontram traços de estranheza. Defeitos minuciosos, visíveis e calculadamente distribuídos lhe dão uma imagem tão bela quanto doce, uma perfeição em suas imperfeições.

Ela, no entanto, não aceita estar onde está: Madalena não admite a sucessão de caminhos que a vida lhe impôs e o tom injusto com o qual cada amor lhe é apresentado e, em seguida, retirado. Expõe-se, vergonhosamente, quando assemelha-se demais aos demais. Todos sabem, como ela, que distanciar-se da humanidade é uma maneira de analisá-la criticamente, para depois reconhecer-se.

Sua lágrima é constante e desesperada. Quem a vê em prantos atesta a teimosia de Madalena em aceitar sua dor, enquanto a face contrai-se de ódio do fatídico rio que lhe corre a face e cora as bochechas. Relutante, respira fundo, ameaça-se inconscientemente e sorri. Uma dor qualquer não faz sentido algum.

Madalena decreta o fracasso sem que antes haja tentativa. É uma forma de eximir-se do sofrimento antes que ele venha e lhe tire o sono pela noite. Então sonha com o que não houve e com o que não haverá, sendo ela tão digna de ser aquilo que quiser.
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d'aqui.

Um comentário:

DBorges disse...

Você é fantástica, Tha!