19 abril, 2009

Da beira, o pulo.

Aquele pedaço meu chamado dignidade está gritando. E diz, contra todos os outros pedaços em mim, que a renúncia ainda é uma opção, que é possível permanecer digno - e mais: ser ainda mais digno - reconhecendo a futilidade de alguns atos e abandonando alguns gestos frequentes. Não me ocorre, no entanto, abandonar gesto algum. E acho até que, enquanto não perco toda a dignidade, posso ainda fingir que escrevo, realçando um ou mais traços de qualidade minha. Ilusões para se cultivar em um jardim.

Não falta nada. Tenho ainda até os mesmos amigos que fingem gostar do que eu digo. Já não sei se é de agora, percebo que há/sempre houve uma necessidade em me agradar. Não, não são falsos amigos. São queridos amigos que cuidam da minha ilusões, que me afagam docemente o ego, permitindo minha fuga todas as noites. Amigos preciosos, mas que me faltaram com a verdade e que obrigaram a ver o mundo com meus olhos míopes e tendenciosos. Correndo, ainda, o risco de violar meus próprios códigos.

Há quem diga, até, que eu sou má. É a mesma doce alma que me chama de coisas ainda piores, mas sequer posso acusá-la de difamação. Ela me entende, sabe que não há nada em mim que seja essencialmente diferente dela. E somos, sempre, a transição de nós mesmas. Foi assim que meus desejos se foram e, buscando uns casa com cômodos menores que conservasse o mesmo aconchego, encontraram-na. Eu sou má, ela me diz, sabendo que isso nada tem a ver com mediocridade.

É preciso admitir, entre outras coisas, a felicidade dos meus acasos. Poder chamar de amigos, ainda que sob perspectivas pouco ambiciosas, pessoas como Mariana Khalil, Diana Borges, Gustavo Ruzzene, Elba Rocha e outros, faz de mim uma pessoa notável. Uma pequena notável. Mas nada tem a ver minhas relações com uma possível notabilidade. Incrível a beleza do coração, se assim posso chamar, de cada um deles. E porque me fazem um bem sem explicação é que às vezes escrevo com alguma alegria. E fica fácil dizer o que sente, sendo sincera e pouco retórica, quando isso se dá em explosões múltiplas.

Não me arriscaria a qualquer diagnóstico a meu respeito. Ando triste, e acho que não existe nada além disso. Nunca houve, aliás. Começo a desconfiar que a tristeza não é um estado, mas uma condição. Não é ruim. É caso, apenas, de se acostumar, como com a alegria. Ou aceitar que não existe escolha permanente. Aceitar que não basta suor para uma execução perfeita, também é necessário algum desprendimento e aquilo a que me habituei a chamar de dom. E é por isso que, mesmo querendo, não posso cumprir as promessas que fiz, tamanho seja meu desejo de atendê-las. Não se zanguem, caros amigos, com minhas falhas. Sou humano, demasiado humano. Nem sempre cabe ao meu orgulho reconhecer meus defeitos ou ao meu abatimento, reconhecer meus atributos. E escrevo desgovernadamente quando deveria calar meus dedos ou passo dias sem escrever, quando tudo em mim arrebenta em sentimento.

Compreensão, amigos.

Porque não sou mesmo medíocre. Se sou capaz de assumir.

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À todos os amigos citados e aos não citados, mas em especial à Diana, que me arrebentou as veias e me confessou, entre delicadezas, que eu estava irreconhecível. Morrendo e matando de delicadeza. Aquele monstro de delicadeza.

2 comentários:

DBorges disse...

Má! É isso o que você é.
Imaginar fingimento, mesmo que despropositalmente, dos seus amigos. É um disparate.
Disse no msn e repito aqui:
- Eu sempre gosto do que escreve.. Nem tanto pelo que escreve, mas, porque VOCÊ escreve.
Tem noção do que isso significa? Sei que tem. Não é tão burra e medíocre como costuma se imaginar.

Acho é que está passando por um momento conturbado. Não critico você por isso. Também já estive no mesmo lugar que você e ao contrário de ti não tenho poesia na veia, em mim nada jorra.. Tudo sai gota a gota depois de muito trabalho. POr isso fico tão indignada quando dá "piti" e diz que falta isso, falta aquilo.. Falta caralho algum.

Se pareço insensível peço desculpas. Sabes bem que o que sobra em mim é sensibilidade.

É um prazer ler você, Thalitaaa!
Pareço uma idiota quando vejo em meu blog que há postagem sua.. Corro! Como se as palavras fossem sumir do blog, assim, como acontecerá com a bíblia no dia do fim do mundo. (éé eu leio as sagradas escrituras).

Amo-te-lhe!
Vadia da minha alma andarilha.

Gustavo Ruzene disse...

Então né...
não acho que você simplesmente escreva "bem"...mas talvez nos momentos errados...tomadas de emoções que geralmente te bloqueiam...
você...no fundo...escondido entre a modéstia...sabe que é brilhante!

E nada é condição...tudo é estado...
nos giramos...o mundo gira...somos parte de uma grande dança de seres...é ilusão demais pensar que somos estáticos...ou apenas fruto de uma personalidade pré-criada...
não ouse se apoiar nessa tristeza!

ou com o tempo...essa treva forjada...vai apagar seu brilho...
eu sei que você está com dificuldades...mas sei também que SEMPRE terá...tomara que isso não te mude muito...
mas o suficiente para alguma brisa boba...sem graça nenhuma...te roube aquela expressão que torce a boca e mostra os dentes...

minha amiga...para sempre bruxa...