11 novembro, 2010

{calmaria}

Dei passos sobre as nuvens e me feriram tal qual areia sob o sol. A chama ardeu-me os pés, e me acompanhou as nervuras, transcendeu a carne e feriu o peito cristalino, arrancou-me as asas. E pura foi a sensação de invadir o céu em profusão e desmontar todo o azul fosforescente dos caminhos do meu pensamento. De lá, vi o arder das cores vivas nos cabelos e nas peles.

Tudo o que arde vem de dentro, estala dentro. Pelos olhos embriagados, um matiz anil mergulha, desnorteado. O infinito na ponta dos dedos, desdobrando-se em oceanos por sobre a cabeça, fazendo chover um vitral sobre os cabelos. Também é celeste a estrela mais fria, mas também ela arde, também ela queima. O ardor, no entanto, passa com o vento. Vê como chega a calmaria? A paz é bem mais cruel na guerra inclemente: é induto da alma.

As letras descobrem significado, e também ardem. Mas nem toda poesia é sincera, assim como nem todo coração. E não importa quantas vezes seus dedos mergulharão as feridas, porque a dor simplesmente passa, teus fluidos secam; ou vem com ela a morte. Meus pés não se firmaram sobre a nuvem, que choveu. E me desfiz em lágrimas violetas, lavando o vermelho sangrento da mágoa sobre a cidade.

originalmente publicado aqui.

2 comentários:

Colombina disse...

Fico pasma com você as vezes.
São coisas assim que um dia eu gostaia de escrever.



saudade violenta.

Jade Amorim disse...

Sabe, tem alguns textos, que quando lemos, ficamos sem palavras.
Esse seu é um desses, perfeito.
Amei!

Beeijos!