Dei passos sobre as nuvens e me feriram tal qual areia sob o sol. A chama ardeu-me os pés, e me acompanhou as nervuras, transcendeu a carne e feriu o peito cristalino, arrancou-me as asas. E pura foi a sensação de invadir o céu em profusão e desmontar todo o azul fosforescente dos caminhos do meu pensamento. De lá, vi o arder das cores vivas nos cabelos e nas peles.
Tudo o que arde vem de dentro, estala dentro. Pelos olhos embriagados, um matiz anil mergulha, desnorteado. O infinito na ponta dos dedos, desdobrando-se em oceanos por sobre a cabeça, fazendo chover um vitral sobre os cabelos. Também é celeste a estrela mais fria, mas também ela arde, também ela queima. O ardor, no entanto, passa com o vento. Vê como chega a calmaria? A paz é bem mais cruel na guerra inclemente: é induto da alma.
As letras descobrem significado, e também ardem. Mas nem toda poesia é sincera, assim como nem todo coração. E não importa quantas vezes seus dedos mergulharão as feridas, porque a dor simplesmente passa, teus fluidos secam; ou vem com ela a morte. Meus pés não se firmaram sobre a nuvem, que choveu. E me desfiz em lágrimas violetas, lavando o vermelho sangrento da mágoa sobre a cidade.
originalmente publicado aqui.
2 comentários:
Fico pasma com você as vezes.
São coisas assim que um dia eu gostaia de escrever.
saudade violenta.
Sabe, tem alguns textos, que quando lemos, ficamos sem palavras.
Esse seu é um desses, perfeito.
Amei!
Beeijos!
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