05 junho, 2009

Querido amigo,

Sei que lhe devo uma carta física, uma dobrada e envelopada, remetida por vias normais às quais uma carta deve se prestar, mas na urgência de dizer-lhe algumas coisas, não encontro outra forma. Sinto uma angústia inconveniente (eu diria perturbadora, mas qual angústia não o é?), resultado de incertezas que surgiram ao longo dos desesperos que criei. Talvez seja hora, amigo, de renunciar aos edifícios inacabados e iniciar uma nova construção. Uma mais digna, menos fadada ao fracasso. Hipoteticamente, é claro. Que certezas temos nós nesta vida?

Sinto se, mesmo ausente, recorro a palavras distantes. Penso que talvez seja hora de abandonar velhos hábitos. Até me deprimi (e acho que ainda não me recuperei) ao me perceber diferente demais, tantas vezes (quantas sejam possíveis afirmar) pior do que aquilo que eu já detestava em mim. São essas certezas avassaladoras que derrubam um ser humano de joelhos e jamais o colocam de pé novamente. E eis que, quando nem eu era capaz de me amar, surge um alguém que se diz orgulhoso ao meu lado. Meu prédio antigo estremeceu.

Que faço eu, amigo? Quais são meus parâmetros de felicidade?, onde encontro?, será que tento? Não consigo nem mais dormir, só penso, penso, penso, penso e penso tanto e desejo tanto que os beijos chegam a se soltar dos meus lábios a procura do par, mas morrem na dúvida da possibilidade. Suas mãos são quentes e seu coração intenso. Oh, ele tem um coração, amigo, e funciona.É tão sincero e sempre se apressa em me confortar, cuida de mim e do que sinto por ele. O que eu sinto, aliás, é cada vez maior. E, ainda que me cause tantas perturbações, eu arriscaria por ele meu maior edifício.

Desculpa-me a falta, se não lhe procurei ou nem mesmo dei notícias. Mas se lhe escrevo tão repentinamente é porque sei, amigo, que mais ninguém me poderia entender. Deixo cá meu abraço, meu beijo e minha alegria em compartilhar minha tristeza. Não aguardo solução, apenas uma resposta querida. Querido.



Sempre tua,

Carmen.

Um comentário:

Gustavo Ruzene disse...

Nossa...
tanta coisa para falar...
mas até engasguei...
talvez no fundo eu goste de você me dever essa carta...esse débito te faz não se esquecer de mim...insegurança besta, não?!
pode ser que essa saudade dilaceradora não machuque tanto quando sabemos que o outro- entre as indas e vindas- está bem...feliz...
ah, felicidade!?
não corra atras dela...simplesmente seja...seja momentos felizes...
felicite-se...
faça outros felizes...sem se esforçar muito...
é tudo tão simples...
no fundo...você sempre sabe o que eu quero dizer...
no final...
um abraço apertado...e um sussurrado desejo de paz...