08 novembro, 2008

Amanhã, ontem.

Eu tenho verdadeira adoração pelos meus raros momentos de suposta inteligência, como se eu fosse - às vezes - aquilo que eu penso que sou - sempre. É um pensamento sobre o pensamento, uma loucura metalingüística, Wittgenstein ia adorar. Eu devo ser esquisofrênico, me acho esquisofrênico às vezes. Talvez bipolar... Eu preciso mesmo arrumar um nome pra isso? Essa fixação em saber da vida e da morte e dos seus arredores, ao invés de viver. Lá me vem um momento.

De alguma forma eu me sinto obrigado a escolher um caminho pra seguir, um caminho sem erros. Eu sei, eu sei, "a estrada é p'ra caminhar". Não, não sou eu. Tem uma vozinha cantando "Sonhos e Pernas" na minha cabeça, magnífico Vander Lee. Delirando. Não, quanta bobagem. Estou me amparando de argumentos p'ra tentar distorcer os verdadeiros sentimentos, uma maneira de justificar essa preguiça interior. Eu não tinha um poema sobre isso? É uma mistura de encanto pelo mistério, conformismo e qualquer coisa de tristeza. Eu tenho tudo dentro de mim, só não encontro. Eu sou um quarto bagunçado.

O tempo vai passando e eu, estagnado, sinto como se nem nascido eu tivesse ainda. Momento: a vida não faz qualquer sentido. Nada faz. Toda essa commotion em torno da vida não muda o fato de que a morte a interrompe sem aviso prévio. Fim do momento. Na verdade, não é o fim; mas como costuma dizer Luísa, algumas confissões não resistem à tecla Enter. Vai ser sempre assim, né? Essa infelicidade, esse discurso - confesso - retórico, enfadonho e blablabla... Falarei de flores, talvez, ou das conversas que tenho com begônias ou com o vento. BOM DIA, AMIGO VENTO! Talvez contar que meus óculos se quebraram depois de tanto serem consertados e soldados e colados e parafusados. Eu estou mais de seis graus mais míope em cada olho e não enxergo nada que esteja mais distante que quinze centímetros do meu rosto. Fui escolher um novo e achei uma armação muito bonita. Vermelha. Com strass nas pernas. Nunca entendi porque chamam as hastes dos óculos de pernas. Enfim. Fui fazer exame de vista e ai!... Minhas pupilas estão agora parecendo duas imensas jabuticabas espatifadas no castanho cor de barro da minha íris. Saudade de barro, saudade de chuva. Saudade de estar em dia com meus delírios. Tem sido difícil delirar coisas novas, o mundo me sussurra as mesmas coisas, sempre! Veja só, eu posso ser agradável. Meu hoje é que nunca dá certo. Amanhã, ontem. Eu só sei viver de pedaços inúteis de vida.

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