08 novembro, 2008

O tempo, o de repente e eu

Acho perdas de tempo valiosas. Realmente necessárias. Acho mais: acho que perder tempo é esplêndido!. Quanta coisa expulso de mim quando me proponho ao nada, quando me entrego ao vazio da minha imaginação. De quantas coisas me preencho enquanto tento não pensar. E não é exclusividade de ninguém pensar em generalidades, em possibilidades, aleatoriedades. Pensar nos caminhos que nos levam a qualquer lugar, na necessidade de determinadas crenças, ainda que violentamente óbvias. Eu me sinto agredida por ser levada a pensar nisso, por não ter opção dentro das minhas opções, por não haver resposta.

Mas não há nada mais deprimente que a necessidade. Ter que ter, ter que ser, ter que pensar, ter que crer. E a vontade de sair gritando: "Eu não tenho NADA!". Isso eu tenho. Eu, particularmente, acho coisas inevitáveis muito tristes. Ter que respirar é tristíssimo, essa dependência do inanimado, algo poluível, algo contaminável. E acho triste também passar a noite sem dormir. Só um adendo nada a ver. Mas eu não tenho que ser racional.

Meu tempo perdido é sempre disperso. Nunca sequer me lembro exatamente do que estava pensando no momento anterior porque o pensamento corre a uma velocidade que a memória não consegue carimbar. Mas seja lá por qual caminho, num de repente qualquer, me vem uma idéia incrível de como as coisas são possíveis, todas elas. É como se tudo pudesse mudar. É como se aquilo que os gregos chamavam de Mundo Inteligível viesse ao meu domínio e eu desvendasse todos os segredos de tudo que há. E a idéia foge. Só isso. Só foge. E não volta nunca mais. E mesmo num mesmo vazio, numa mesma angústia ou numa mesma paz de espírito a idéia nunca retorna. O de repente é sempre outro.

Questionar o que é a vida, quanto ela vale e qual a fronteira entre viver e existir é vão. Sempre vão. A vida não se pode medir. Não que devamos interromper o processo cognitivo simplesmente por não haver possibilidade de um conhecimento completo. Bem, talvez devamos. Mas sob essa perspectiva tudo é vão, mesmo respirar. De outro modo, o que vivemos é nossa única certeza. Não importa se a crença nos permite acreditar numa vida anterior ou posterior a esta, o agora é certo. Então, só resta viver. Pensar nas possibilidades improváveis. Almejar conquistas impossíveis (a tal moeda do topo). E saborear a esperança do que jamais será vivido.

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