08 novembro, 2008

Esses humanos e eu, a ovelha

É assim: desde algum tempo que não me dou bem com a idéia de grandes templos, igrejas e afins. Não, eu não tenho nada contra nenhum deus. Menos ainda contra a fé. Afirma a Bíblia que Jesus dizia: “A sua fé te salvou”, se bem me lembro. Nada contra a fé, tudo a favor. Voltemos às edificações. Primeiramente, nunca entendi (e levarei em conta a fé cristã na qual fui educado ou deseducado, como preferir) porque, sendo Deus onipresente, eu deveria ir a um lugar específico para “encontrar-me” com ele. Segundo, porque algumas igrejas (templos ou afins) são tão altas. Sempre pensei que com aquela altura toda seria possível construir dois ou mais andares com quartos que pudessem abrigar os necessitados. Não seria esse um ato de bondade e generosidade, dignos de uma alma cristã? São só perguntas. Então, eu e minhas perguntas temos uma, digamos, aversão a essas edificações faraônicas não-supostamente-pagãs. Mais me parecem grandes shoppings centers, talvez até mais lucrativas. Volto a dizer que não é uma crítica a fé ou a deus (o qual, sendo onisciente, sabe bem disso). Sequer é uma crítica. É só uma opinião. Uma opinião crítica. Enfim.

Soberba, meus caros. É o que me leva a questionar. Esse ímpeto ateu de não precisar de nada. Mas eu não sou ateu, que fique claro. E é também por isso que tenho tantos problemas com o-que-quer-que-seja-que-chamam-de-deus, e com os-que-chamam, esses humanos.

Ainda assim, contra a vontade, às vezes se faz necessário participar de algumas conveções religiosas, seja pelos que chegam, pelos que casam ou pelos que vão. Pelos que vão, várias vezes, é necessário de dizer. Sétimo dia, um mês, um ano, dois anos, três anos... Celebram a morte de um até que um outro morra. Nunca entendi. Bem, mas só de pensar em assistir uma missa inteira começo a me sentir o Damien, d’A Profecia, que tinha ataques histéricos quando se aproximava de igrejas e, por isso, nunca fora batizado. Deu no que deu. Então me sento naquele banco como se feito de cactos e me remexo pela hora enfadonha que segue. E vou, como um abutre, admirando a podridão do lugar e de seus freqüentadores. QUE BOBAGEM! Não é nada disso. Eu estou apenas colocando em deus a culpa que vejo nos homens, falando besteiras até me fartar. Hipocrisia, e só.

A questão é bem mais simples: eu não consigo me encontrar dentro de tudo aquilo que sou capaz de pensar. Empiricamente falando, eu reconheço a fragilidade do conceito de Deus, ou qualquer outro deus que seja. Não existe sustentação que não seja a fé. O problema, ou a solução, é que a fé não precisa de sustentação, ela é auto-sustentável na sua existência. Se precisa de argumento não é fé; se é fé, não precisa de argumento. E não se pode provar. Por outro lado, a idéia de um todo surgido espontaneamente no/pelo universo não me parece mais racionalmente satisfatória que a de um deus inventado. Falta a magia que tanto aprecio nos atos. Eu beiro a sabedoria e a demência fácil, fácil.

E por causa dessas considerações sem respostas que eu crio ainda mais perguntas sobre as possibilidades e as responsabilidades do meu ser em vida, do ser humano que sou (?). Volto a dizer que não acho certo poder fazer perguntas cujas respostas eu não possa dar ou aceitar. Vai ver é mesmo só uma questão de aceitar, aceitar ser ovelha. Pensando bem, é isso que eu sou, uma ovelha, do grupo das questionadoras, do grupo das ovelhas cegas que acham que não são ovelhas. Mas ovelha.

E no fim da missa desse final de semana quando as perguntas me comiam, uma bela garotinha de grandes bochechas rosadas e longos cachos negros me sorriu. Notei que, enquanto me perdia em minhas perguntas, meus olhos apontavam para seus joelhos e, com certeza, ela imaginou que eu admirava seu vestido cor-de-rosa ou suas meias coloridas. Reparei, desta vez de verdade, em suas meias e ela me sorriu maior. E pensei que crianças são mesmo bacanas, naquilo que de melhor se pode extrair da palavra. Ela, com certeza, não deve ter questionamentos sobre o valor da vida, o sentido da vida, a vida em qualquer parâmetro... A pergunta de resposta mais constrangedora que ela formulará do alto de seus 6, talvez 7 anos, talvez seja “de onde vem os bebês?”. E ela saberá sem qualquer drama que não o dos pais. E após a imensa angústia de ter que aceitar que Sócrates estava mais é certo e que eu também só sei que nada sei, me veio uma inexplicável paz, que me disse baixinho pra eu me calar. E deixar de ser hipócrita.

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P.S.: Imperdoavelmente, escrevi mais um texto longo. Oh, deus.

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